PAI

Sempre que vejo uma menina de 06 anos com seu pai, penso se era assim que éramos juntos, como eram nossas conversas, será que cheguei a falar que te amava e se sabia expressar este sentimento amoroso de filha e pai, a morte depois de décadas parece um tempo suficiente para se esquecer, mas realmente oque se torna esquecida são as lembranças.

Não lembro de sua voz, nem de seu rosto, não lembro do seu cheiro e muito menos das nossas conversas, quando tenho uma lembrança, sinto uma dúvida imensa se é lembrança ou fantasia da minha memória, tentando me enganar, para me dizer que existe uma história de recordação e assim, amenizar a dor da saudade, apenas uma sei que é certa, a memória de ver você no caixão e isso não deveria ser a única lembrança de uma menininha.

Apenas uma certeza tenho, que o amor e a dor sempre caminharam juntas nesta criança, que as lágrimas são reais e que a saudade é eterna.

Uma criança nunca deveria ver seu pai no caixão, sua última lembrança deveria ser de um abraço aconchegante.

Ainda hoje, quando sou uma mulher, me sinto uma criança quando as dores da vida me visitam e não sei como seria ter um abraço paterno.

Eu ainda guardo o primeiro cartão de dia dos pais nunca entregue, do meu primeiro ano escolar, feito dias após a sua morte e naquele momento descobri que minha companheira eterna das lembranças seria a morte, mas nem em meus pesadelos daquela idade eu poderia imaginar que ela seria o sentimento que me acompanharia para sempre, para uma menina de 06 anos a morte nunca foi explicada e por isso foi sua única companhia nos momentos de saudade, foi a desconhecida e dolorosa companhia.

Nesta vida a única certeza que tenho é que nunca saberei o sentimento do abraço de meu pai porque não me recordo dos meus 06 anos e quem recordaria, segue a incerteza se o dia que estava no seu colo ou correndo na chuva com uma boneca nova foram reais ou apenas tentativa da memória de me consolar.