Doutor Teodorico, um ecologista fora do tempo

Doutor Teodorico, um ecologista fora do tempo

Félix Maier

Era uma vez, numa pequena cidade do interior, um homem que se destacava pela sua bondade e amor pelos animais. Dr. Teodorico, um coronel do Exército aposentado, era um veterinário renomado, funcionário do IBAMA e um ecologista fora do tempo, ou avant la lettre, como diria um parnasiano. Ele sempre se dedicou à preservação da flora e da fauna, num tempo em que isso era considerado importante por poucas pessoas.

Dr. Teodorico tinha muitos animais em sua chácara, em Joaçaba, entre cães e gatos, que ele tratava com muito carinho e dedicação, como se fossem seus filhos. Muitos deles eram animais resgatados das ruas, alguns com membros amputados, que ele acolhia em sua casa e lhes proporcionava uma vida melhor. Ele também era o terror dos caçadores e passarinheiros ilegais, que tentavam se aproveitar da fragilidade dos animais, para fazer churrasco de veados e lebres, e comércio de passarinhos, que sempre foram abundantes nas colônias.

Em um bosque ao fundo da sua casa, cerca de uma centena de jacus mansos apareciam durante o período de seca, no inverno, quando a comida era escassa para as aves. Dr. Teodorico tinha um chamado especial que só os jacus conheciam, quando jogava milhos às aves, como se fossem galinhas comendo aos seus pés. Essa cena inusitada foi gravada por um canal de TV local, que a guardou para a posteridade.

Um colono pediu a ajuda de Dr. Teodorico para tratar de um boi doente, que precisava de injeção diária por quinze dias. Dr. Teodorico não hesitou em ajudar, mesmo que isso significasse andar cinco quilômetros amassando barro com os pés, por causa de uma chuva torrencial que deixou o Toyota atolado. E ele só cobrava o valor do medicamento se conseguisse salvar o animal.

Em outra ocasião, de braços cruzados em frente ao seu Toyota, Dr. Teodorico mandou parar um Jipe na estrada, o qual estava com alguns caçadores que tinham escondido a caça ilegal no carro, além de algumas gaiolas com passarinhos, que estavam cobertos por lona. Os caçadores ficaram apreensivos, mas Dr. Teodorico apenas pediu para que fizessem silêncio, para não atrapalhar uma cobra que estava atravessando a estrada. Ele não queria que os animais se estressassem à toa e andassem por onde quisessem sem serem esmagados.

Junto com a polícia, mais de uma vez o Dr. Teodorico prendeu várias pessoas envolvidas no jogo proibido da briga de galo, um esporte muito comum na região, apesar de ser uma contravenção. Eram utilizados clubes e galpões, onde faziam um cercadinho de 80 cm de altura, para colocar os galos para se matar, com apostas em dinheiro.

Um dia, um colono ofereceu ao Dr. Teodorico um cachorro que não servia para nada, não latia, só dormia e até brincava com estranhos. Não servia para vigiar a casa. Dr. Teodorico disse para ele cuidar bem do animal, pois só pegava os animais perdidos pelas ruas da cidade. O colono, por brincadeira ou maldade, disse que iria soltar o animal na cidade. Dr. Teodorico ficou furioso: “Escuta aqui. Se eu te pegasse e soltasse numa cidade da Europa, onde você não saberia nem como pedir um copo de água, o que você acharia? O cachorro é como gente: sente frio, sente fome, precisa de cuidado e carinho. Na cidade, ele não iria sobreviver, seria logo atropelado por um carro”.

Dr. Teodorico sempre foi um defensor dos animais, mesmo quando isso ainda não era popular. Ele acreditava que todos os seres vivos merecem respeito e compaixão. Sua história serve como um exemplo para todos nós, para que possamos cuidar dos animais e preservar a natureza.

Assim era o Dr. Teodorico, um defensor dos animais quando ninguém ainda falava sobre o assunto, como hoje em dia.

Moral da estória: muitas vezes, quanto mais conhecemos os humanos, mais amamos os cachorros.