A Preferida
Se escondendo ajoelhado, calça comprida de tergal verde escura, havia dobrado ele mesmo, por duas dobras na barra, de pés no piso de cerâmica francesa; menino esmirradinho cara de safadeza, por debaixo da imensa mesa, o avô jogava cartas; as crianças brincavam e si misturavam na casa em dia festivo de sexta-feira da paixão na residência dos avós.
Os parentes adultos revezavam no carteado aonde avô imperava.
Deixavam livres as crianças.
Jogo de Buraco em dupla.
Era o preferido de meu avô materno.
Abrahão é o fundador da loja "A Preferida".
Honorinda, a matriarca.
(tias e tios adveio desta união)
Vó Honorinda amassava receitas, e assava mais receitas, de biscoitos bolos guloseimas.
Forno à lenha, goiabeira, mangueira e figueira.
O quintal da residência.
Rua Carlos Pereira.
Defronte à residência dos 'Narciso'.
Avô alto esguio.
Fumava Minister.
Compenetrados às canastras do Buraco, os adultos pouco se importavam com a meninada.
Visita de parente de fora, vindos da Capital, são tratados de forma especial, com iguarias guardadas a chaves.
'Os de casa' não se ocupavam com o tratamento sofisticado, dispensado por vó Honorinda.
Estariam alí aos Domingos.
Particularmente, minha mãe Shirley, nos levava pra visitar nosso avô (que resistiu à nossa avó no tempo) adquirindo antes um maço de Minister, a fim de o presentear.
Jardim florido na entrada.
Família de ricos valores.
Na mesma rua em que a loja "Cinco Irmãos'' ocupa a esquina, tá edificado o comércio de meus avós.
Rua Coronel Antônio dos Anjos.
(centenária "A Preferida")
Artigos e mais artigos (seda, viscose, linho, popeline, jogo de malas, chapéu, meia, meia fina, cueca, cueca samba canção, tênis, sapato, botão, carretel, blusa, gravata, gravata borboleta, bola, bolas de sinuca, taco, baralho, brinquedo...)
No período de férias escolares, na década de 90, eu ia ajudar na loja, de vendedor.
O meu tio Osvaldo, me pagava comissão.
Tudo que eu vendia, anotava, e ganhava comissão sobre as vendas, tal qual os vendedores com carteira assinada.
(tio Osvaldo sucedeu vô Abrahão na loja)
A loja é composta de 03 (três) portas.
Cada uma das portas ficou de herança para um tio diferente.
tio Osvaldo comprou cada uma das partes dos outros 02 (dois) tios.
Minha mãe e outra tia ficaram dois apartamentos edificados em cima da loja.
Um pra cada uma.
A tia que cuidou dos pais (nossos avós) herdou parte da residência da rua Carlos Pereira e, a adquiriu por completo, com o saudoso esposo português, tio Manoel.
Os ossos do meu avô foram ficando fracos até que ele sucumbiu de uma queda no fêmur já velhinho embora sempre belo e conservado pra idade.
(tio Manoel era pra mim o segundo pai)
Me leva pra pescar dourado meninote em barco de polpa no clube Lagoa da Barra.
Com ele a bacalhoada era certeira no dia de hoje paixão de Cristo.
A família em si genuinamente católica.
Nova sucessão ocorrera da loja "A Preferida" do tio Osvaldo pra sua filha.
(tio Osvaldo era belo assim como o pai Abrahão)
Minha mãe o amava.
Ele e o tio Antônio eram muito bons pra mamãe, sem desmerecer.
Fizeram uma troca do pequeno apartamento em cima da loja, pra um amplo e arrojado, aos meus pais, no bairro São José.
Rua Germano Gonçalves.
Relembro o meu pai José Egídio com a minha mãe no colo descendo as escadas levando consigo minha mãe ao hospital acometida de câncer na pleura desfalecida após sepulcral sessão de quimioterapia.
Meu pai foi um herói a forma com que tratou minha mãe quando adoeceu fez com que ela me confidenciasse antes de partir o perdão pelos contrastes que assinalaram negativamente um matrimônio de mais de quarenta (40) anos.
Shirley Costa eu desejaria que fosse eterna.
A loja "A Preferida" permanece viva, sob os cuidados de Sandra.
Infelizmente tio Osvaldo fora acometido do Mal de Alzheimer, e faleceu.
Um dos primos meus Ernani, filho do tio Antônio, acompanha o meu trabalho como escritor e poeta, havendo adquirido os 02 (dois) livros que lancei, publicados pela Editora Millenium.
(da rua Pires e Albuquerque)