MÃE
“Eu vi minha mãe rezando / Aos pés da Virgem Maria / Era uma santa escutando / O que a outra dizia”.
Lembro-me com se fosse hoje o dia em que, pela primeira vez, dirigi-me a minha mãe por escrito. Era dia das mães e minha professora de primeiro ano ajudou-me com essa difícil tarefa de desenhar as sentenças num cartão. Minha mãe era então muito jovem e bonita. Tinha, entretanto, a saúde frágil, prejudicada por recorrentes transtornos do fígado. E sentia certo prazer no fatalismo. Assustava-me dizendo de vez em quando: “Ah, meu filho. A mamãe anda muito doente. Acho que não duro até você tirar o diploma do grupo escolar”. Pois ela viu eu me formar no grupo, no ginásio, no colégio e na faculdade, mas continuou repetindo que ia morrer cedo, mesmo depois que a cirurgia de vesícula livrou-a de uma vez por todas dos desarranjos hepáticos. Na faculdade parei de temer e passei a achar graça dos terríveis prognósticos que ela fazia sobre sua vida difícil. O fato é que as condições familiares melhoraram muito depois que todos nós, os filhos, nos tornamos adultos. Atualmente minha mãe está vivendo seu octogésimo sétimo ano de vida e, às vezes, sinto-me mais velho do que ela. Ela lê muito, adora gatos, torce e xinga pelo Corinthians e é fã de carteirinha do cantor Leonardo. Inclusive, não muito tempo atrás, foi a um show dele, pediu autógrafo e até o beijou. Visito-a todas as semanas apesar de vivermos em cidades diferentes. E é um prazer enorme ficar conversando com ela por duas, três horas, ouvindo-a contar de tempos e costumes longínquos no tempo e também perceber que ela tem opiniões lúcidas sobre os escândalos que nos envergonham, e até soluções viáveis para os problemas que nos afligem nos dias de hoje.
Por essa pessoa incrível que a senhora é, meus parabéns, mamãe, por estarmos juntos, mais uma vez no dia das Mães. Teu filho pede a bênção.
***
E essa felicidade e privilégio de tê-la junto a nós durou até esta véspera de Natal, dia 24 de Dezembro de 2017, quando ela cismou de reunir a família de um modo diferente: em seu funeral. Até dois meses atrás ela esteve lúcida e independente. Mas o peso da idade (92.9 anos) e graves insuficiências comprometeram sua saúde de modo irreversível. Ficou conosco até o último instante, em casa, cercada de amor e cuidados. Deus a receba em Seus braços gloriosos.
***
Obs. Caro leitor, faça um comentário ou, pelo menos, deixe seu nome para que eu, em contrapartida, possa também ler o seu trabalho.
“Eu vi minha mãe rezando / Aos pés da Virgem Maria / Era uma santa escutando / O que a outra dizia”.
Lembro-me com se fosse hoje o dia em que, pela primeira vez, dirigi-me a minha mãe por escrito. Era dia das mães e minha professora de primeiro ano ajudou-me com essa difícil tarefa de desenhar as sentenças num cartão. Minha mãe era então muito jovem e bonita. Tinha, entretanto, a saúde frágil, prejudicada por recorrentes transtornos do fígado. E sentia certo prazer no fatalismo. Assustava-me dizendo de vez em quando: “Ah, meu filho. A mamãe anda muito doente. Acho que não duro até você tirar o diploma do grupo escolar”. Pois ela viu eu me formar no grupo, no ginásio, no colégio e na faculdade, mas continuou repetindo que ia morrer cedo, mesmo depois que a cirurgia de vesícula livrou-a de uma vez por todas dos desarranjos hepáticos. Na faculdade parei de temer e passei a achar graça dos terríveis prognósticos que ela fazia sobre sua vida difícil. O fato é que as condições familiares melhoraram muito depois que todos nós, os filhos, nos tornamos adultos. Atualmente minha mãe está vivendo seu octogésimo sétimo ano de vida e, às vezes, sinto-me mais velho do que ela. Ela lê muito, adora gatos, torce e xinga pelo Corinthians e é fã de carteirinha do cantor Leonardo. Inclusive, não muito tempo atrás, foi a um show dele, pediu autógrafo e até o beijou. Visito-a todas as semanas apesar de vivermos em cidades diferentes. E é um prazer enorme ficar conversando com ela por duas, três horas, ouvindo-a contar de tempos e costumes longínquos no tempo e também perceber que ela tem opiniões lúcidas sobre os escândalos que nos envergonham, e até soluções viáveis para os problemas que nos afligem nos dias de hoje.
Por essa pessoa incrível que a senhora é, meus parabéns, mamãe, por estarmos juntos, mais uma vez no dia das Mães. Teu filho pede a bênção.
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E essa felicidade e privilégio de tê-la junto a nós durou até esta véspera de Natal, dia 24 de Dezembro de 2017, quando ela cismou de reunir a família de um modo diferente: em seu funeral. Até dois meses atrás ela esteve lúcida e independente. Mas o peso da idade (92.9 anos) e graves insuficiências comprometeram sua saúde de modo irreversível. Ficou conosco até o último instante, em casa, cercada de amor e cuidados. Deus a receba em Seus braços gloriosos.
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Obs. Caro leitor, faça um comentário ou, pelo menos, deixe seu nome para que eu, em contrapartida, possa também ler o seu trabalho.