Meditação


          Fechou todas as janelas, desceu as vidraças, cerrou as persianas. As portas estavam trancadas. Por último apagou a luz. A sala imensa mergulhou no mais completo silêncio e escuridão. No centro o homem havia posto um tatame suficientemente grande para repousar seu corpo. Tornou a acender a luz, foi à cozinha preparou um suco, tomou-o e dirigiu-se ao quarto onde trocou suas roupas por uma túnica azul. Voltou à sala, selecionou seis discos com peças de Bethoven e colocou-os para tocar. Desligou a luz e deitou-se. Deixou-se invadir pela música maravilhosa que fazia vibrar o ar do aposento. Pretendia seguir à risca todos os passos de um programa de relaxamento que aprendera lendo um dos inúmeros livros esotéricos que inundavam o mercado ultimamente. Levantou-se de repente. Havia esquecido do incenso. Providenciou-o e tornou a deitar-se sobre o tatame. Acomodou-se de um jeito. Mudou de posição. Sentiu-se, enfim, confortável. Aí se lembrou: havia esquecido de mandar a ordem de pagamento para um fornecedor. Amanhã teria de ligar e explicar o motivo do atraso e prometer que na primeira hora útil do dia efetuaria a transação. Ihh! Às 10 horas tinha combinado encontrar-se com um cliente. Talvez telefonasse adiando o compromisso, isso se conseguisse linha, pois estava muito difícil falar com São Paulo. Aliás, precisava saber da secretária, a quantas andava a instalação da nova linha. O eletricista não viera colocar as tomadas, queixara-se ela... Aliás, achava que a secretária estava jogando charme pra cima dele, pensava, pois... Ah! Saco! A campainha do telefone soava na sala contígua... decidiu não atender... Devia ser a ex-mulher pra lembrá-lo do pagamento da pensão das crianças... Porra... Mais essa... A agulha da vitrola tropeçava e o disco repetia incessantemente a mesma frase quebrada no meio da sílaba...

 
HFigueira
Enviado por HFigueira em 06/12/2011
Reeditado em 14/01/2012
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