¿Cuántos perros tienes en tu casa?
Existem muitas palavras na língua portuguesa que raramente são usadas por nós, brasileiros, algumas bem interessantes. Para minha surpresa, em um dicionário, deparei-me com a palavra “perro”. Pensei comigo: ué, mas essa palavra não seria espanhola? O que ela faz aqui em um dicionário de português? De fato, a palavra é abundantemente utilizada no idioma de Cervantes, para designação de cão, ou como queiram, cachorro. Resolvi, então, me aprofundar no léxico, foi quando descobri que, realmente, também se trata de uma palavra oficial da nossa língua — sendo o seu feminino “perra”.
Evidentemente, Português e Espanhol são línguas irmãs, por vezes não percebemos, mas algumas palavras soam mais familiar na língua de Cervantes do que na língua de Camões, porém fundem-se em significados, sejam em grafias similares ou em carga lexical. Por exemplo, penha em português (em espanhol peña). Parece que não, mas para muitos brasileiros, incrivelmente, soa estranho associar o termo “penha” como uma grande pedra (ou rochedo). Certa vez, tive que explicar a uma pessoa que Nossa Senhora da Penha recebeu esse nome porque veio de uma imagem de Maria descoberta no alto de um “penhasco” em Salamanca na Espanha, ou seja, notei que ficou muito mais claro o entendimento da nomenclatura por meio da palavra derivada (penhasco) do que a palavra raiz (penha), justamente por ser uma dessas palavras que raramente nós usamos (mas existe) no português.
Voltando aos perros, quem nunca ouviu falar de um nordestino “aperreado” da vida? O termo não está aí à toa, tem origem colonial, da época em que galegos e portugueses "harmoniosamente" dividiam o povoamento no nordeste brasileiro. Sua origem vem do verbo “aperrear”, que nasceu em espanhol com o sentido cruel de “supliciar com cães”, tornou-se uma clara expansão figurada para “oprimido, angustiado, aborrecido”.
Entre perros e aperreados, finalmente chegamos aos “perrengues” da vida, um termo que, segundo a Real Academia Española, caiu em desuso, ou seja, na própria Espanha, mas incrivelmente ganha um “sopro de vida” na linguagem coloquial brasileira. Perrengue referia-se ao fato de algumas pessoas se irritarem facilmente, tornando-se birrentas, ou teimosas (como agem alguns perros). Atualmente, consagra-se na nossa gíria contemporânea expressando uma ideia de “situação complicada, ou difícil de ser resolvida”. Afinal, quem aí nunca passou por um perrengue?