SERÁ QUE EXISTE ISSO DE FALAR ERRADO A LÍNGUA?

A capacidade de assimilar a língua materna (oral) é uma propriedade inata a todos os seres humanos. Por isso, a língua é considerada o elemento cultural de maior relevância na caracterização de um povo.

A língua não tem amarras, é plural, um bem cultural abstrato, que se diversifica num feixe de modalidades atreladas ao ser humano, sendo este único e mutável. Fatores de ordem regional, social, situacional, etário, de gênero, nível de instrução, personalísticos, são responsáveis por produzir dialetos, socioletos e falares. Ou seja, variações naturais em uma língua.

Seguindo tal raciocínio, e de acordo com a ciência da linguagem (Linguística), não existe um uso linguístico melhor que o outro, ou mais correto, o que há são LÍNGUAS FUNCIONAIS.

LÍNGUA FUNCIONAL

Na oralidade, não existe uma língua imaculada, isenta de influências externas. Sempre que falamos, falamos em um determinado contexto, extrato social, situação, região, intencionalidade, etc., o que modula a língua, sem que o percebamos, por meio desses fatores. Isso, por si só, já personaliza a nossa fala, tornando-a uma variação línguística.

Se em dada comunidade, os moradores, habitualmente, não fazem a concordância nominal corretamente (os menino foram lá), e a língua esteja cumprindo suas funções, isso não é um erro. Apenas é uma Língua funcional adotada por aquele grupo.

Se um juiz, ao pronunciar-se, só é plenamente compreendido por profissionais de seu meio, ele também está utilizando uma língua funcional.

É comum, as sociedades desenvolvidas linguisticamente, elegerem uma língua funcional como a mais adequada para sua utilização, acreditando que essa variação é superior as demais, a única correta. Mas isso é um erro. É preconceito linguístico.

No Brasil, elegemos a língua culta veiculada nas gramáticas normativas, como língua padrão, adotando-a coma a língua de prestígio.

ADEQUAÇÃO SITUACIONAL

O conceito de língua funcional é válido desde que seja comum ao grupo e cumpra adequadamente suas funções linguísticas.

Contudo, ambientes e situações diversos, exigem línguas funcionais específicas, o que deve ser respeitado pelo falante.

Caso não seja, este estará incorrendo em inadequação linguística. Nesse caso, e apenas nesse caso, o falante estará errado.

Mesmo a língua culta, possui suas variantes, sendo elas FORMAL e INFORMAL. Em bate-papos, situações familiares, roda de amigos, etc., utilizamos a informal. Contudo, em cerimônias, discursos, entrevistas, palestras, usamos a formal.

Portanto, não existe uma forma de expressão linguística superior a outra. Todas são válidas, desde que estejam de acordo com a situação e ambiente em que são utilizados.

Contudo, isso não justifica o altíssimo nível de analfabetismo funcional em nosso país, o abandono escolar, e a péssima qualidade de ensino. Educação é direito constitucional.

Quanto ao aprendizado e domínio da língua padrão por todos os cidadãos, deveria não apenas ser algo necessário, mas obrigatório, uma vez ser a língua de prestígio em nossa sociedade e, portanto, instrumento de crescimento pessoal, profissional e intelectual.

Rafael Lengruber
Enviado por Rafael Lengruber em 24/11/2022
Reeditado em 31/12/2022
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