A Esfinge e o esfíncter
Esfinge é o nome que os gregos antigos deram a um monstro mitológico de origem egípcia.
Na mitologia egípcia, a figura monstruosa era uma guardiã do reino espiritual, protetora de caminhos sagrados e agia com violência contra os invasores desavisados e despreparados que cruzassem seu caminho. Seu corpo de leão e cabeça humana simbolizavam a força selvagem e incontrolável da natureza, mas comandada por uma mente humana. A retratação mais famosa da Esfinge egípcia é a Grande Esfinge de Gizé, a mais antiga escultura monumental do mundo.
Na mitologia grega, a Esfinge foi adaptada para ter asas de falcão e rosto feminino. Sendo também um monstro devorador de viajantes despreparados, aparecia em encruzilhadas e devorando os viajantes desavisados que não desvendassem seus enigmas. A Esfinge grega mais famosa é a própria que dizia “Decifra-me ou te devoro!”, e que foi superada pelo herói mitológico Édipo.
Foram os gregos que nomearam o tal monstro de Esfinge, do grego original “Sphinx”, que significa apertar, espremer, estrangular, isso porque a Esfinge matava a vítima por estrangulamento como também porque ela simbolizava a pressão psicológica do aperto, do sufoco que todos nós sofremos para resolver as questões que a vida nos impõe nos momentos mais críticos. Ou saímos do aperto, do sufoco, resolvendo as questões que nos afligem ou acabamos esmagados e estraçalhados pelas violentas, incontroláveis e imprevisíveis situações da vida.
Acontece que a raiz grega “Sphinx” também originou a palavra esfíncter, nome genérico dado aos mais de quarenta músculos em forma de anel presentes no corpo humano com a função de fechar e abrir canais do corpo, por meio de contração e relaxamento, como é o caso dos músculos da bexiga, e dos músculos do ânus, por exemplo.
Curioso é que permanece até hoje na cultura popular que as pessoas que passam por desafios intensos, situações nervosas, emoções negativas e assustadoras e de muito estresse podem acabar perdendo o controle de seus esfíncteres. Como se diz, “se mijou de medo”, “se cagou de medo”, “peidou na curva”, “peidou na farofa”, e aos covardes, aos que não enfrentam riscos, se diz “é um mijão”, “é um cagão”.
Ou seja, há pessoas que, ao serem pressionadas pelas questões críticas da vida, isto é, suas Esfinges, perdem não só o controle de seus esfíncteres, como acabam asfixiadas e estraçalhadas pelos seus próprios problemas que não conseguiram resolver. E ai dos esfíncteres da Esfinge, tendo que devorar tantos despreparados e covardes, digeri-los e depois excretá-los! Haja esfíncter!
No entanto, é certo que existe quem, diante das encruzilhadas da vida, ao encontrar questões cruciais e serem resolvidas, supera seus desafios descobrindo que a resposta do enigma está em si mesmo. Assim como Édipo, não apontam para uma solução exterior, mas apontam para seu interior, pois a solução do enigma está em conhecer a si mesmo. E, assim, com fibra, coragem e preparo, superam as barreiras e superam a si mesmos, e, como heróis de si mesmos, seguem em frente para novas aventuras, para novas jornadas. E é aí que se encontra a paz, e um dos maiores prazeres da vida, que é relaxar o esfíncter e cagar em paz.