REFLETINDO SOBRE A LÍNGUA
Todos sabemos que as línguas mudam no tempo e variam no espaço. Embora seja um fenômeno comum (será!?), muitas vezes não percebemos tais mudanças, mesmo sendo comuns.
Quero chamar a atenção para o desaparecimento do pronome pessoal oblíquo átono e variações na língua falada: o(s).
Se o leitor observar no dia a dia, independentemente de grau de instrução, religião, classe socioeconômica, por exemplo, verá que o pronome pessoal do caso reto (e variações) está "matando" a forma pessoal oblíqua.
Assim os usuários da língua têm proferido estes enunciados: "deixe ela", "pegue ele", "clique ela", entre outros contextos. Do ponto de vista da norma, esses enunciados seriam ditos desta forma: deixe-a, pegue-o, clique-a.
Curiosamente, no século XIV, no português arcaico, os pronomes pessoais do caso reto tinham função sintática de objeto direto, como nos mostra Fernão Lopes: "El-rei, sabendo isto, houve mui grande pezar, e DEITOU-O logo fora de sua mercê, e degradou ELLE e os filhos a dez léguas de onde que elle fosse".
No exemplo citado, tanto o pronome "o" quanto "elle" estão exercendo função de objeto direto. Esse uso era considerado natural, independentemente de ser falante culto ou não.
Com a padronização da gramática, o pronome pessoal do caso reto ELE passa a exercer função sintática apenas de SUJEITO e o pronome oblíquo O passa a funcionar como OBJETO DIRETO.
Enfim, cabe aos professores de Língua mostrar aos educandos que a norma de hoje daqui a cinquenta, cem anos pode ser inadequação e vice-versa.
Desejo-lhes um Natal santo e abençoado!