DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
DA
LÍNGUA ZO’É
Onésimo Martins de Castro
Carlos Alberto Lacerda Carvalho
Edward Gomes da Luz
Anápolis - GO
2020
DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
DA
LÍNGUA ZO’É
Onésimo Martins de Castro
Carlos Alberto Lacerda Carvalho
Edward Gomes da Luz
Registro de dados coletados e analisados pela equipe de pesquisa da Missão Novas Tribos do Brasil durante os anos de 1987 a 1991 e registrada na Biblioteca Nacional em 23 de fevereiro de 1994. Revisada e amplificada por Onésimo Martins de Castro em abril de 2020.
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2020
1ª versão – Descrição Gramatical da Língua Zo’é (Poturu). Redigida em dezembro de 1992.
2ª versão – Descrição Gramatical da Língua Zo’é (Poturu), arquivada na Biblioteca Nacional em dezembro de 1994 (Registro n° 8.123 – Protocolo 260/94).
3ª. Versão – Descrição Morfológica da Língua Zo’é – maio de 2020.
Revista e atualizada por Onésimo Martins de Castro - Graduado em Letras, com Especialização em Língua Portuguesa, Antropologia Intercultural e Gestão Escolar e membro do Grupo de Pesquisa CELEPI - Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA.
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Todos os Direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, de qualquer modo, sem prévia permissão, por escrito, da Missão Novas Tribos do Brasil.
APRESENTAÇÃO
Temos o prazer de apresentar esta descrição preliminar da gramática Zo’é, língua falada pelos habitantes da região compreendida entre dos rios Cuminapanema e Erepecuru, no município de Óbidos e Oriximiná, Noroeste do Estado do Pará.
Mesmo de posse de farto material coletado nos 04 anos de pesquisa (1988-1991) in loco, em convivência direta com o povo Zo’é, formando um corpus de dados registrados em áudio e transcrições fonéticas e fonêmicas, ainda não é possível fazer uma descrição definitiva desse idioma, pelo fato de não estarmos mais em contato direto com esse povo para a devida revisão com os falantes nativos.
Não obstante ainda ser um trabalho em andamento, colocamo-nos à disposição da comunidade acadêmica e do público em geral, enquanto uma revisão desses dados possa ser feita. E, a partir da comprovação dos dados apresentados e das hipóteses já levantadas, uma nova versão com descrição mais detalhadas voltará a ser apresentada ao público acadêmico como instrumento de estudos linguísticos e como ferramenta de apoio à Educação Escolar Indígena nessa etnia.
Embora esses dados já estivessem descritos nos anos anteriores e já registrados na Biblioteca Nacional com direitos autorais já resguardados, só agora está sendo publicado como resguardo desse patrimônio histórico e como fonte de estudos linguísticos.
Os exemplos estão apresentados de acordo com a fonologia preliminar desta língua (CARVALHO & CASTRO, 1998), pois a ortografia oficial dessa língua depende também de uma revisão junto aos falantes nativos, o que se espera seja feita o mais breve possível.
As palavras são acentuadas sempre na última sílaba e entonação das frases serão descritas posteriormente, por ser assunto ainda em estudo, bem como o registro oficial da ortografia desta língua.
AGRADECIMENTOS
Ao povo Zo’é que se empenharam em nos fornecer os dados para a elaboração deste trabalho.
Às nossas Igrejas e irmãos em Cristo, que nos deram o apoio para a realização desse trabalho; às nossas esposas e filhos que, durante muito tempo suportaram a nossa ausência nos primeiros anos de localização e aproximação mútua com essa população indígena e, que depois nos acompanharam morando nas aldeias e auxiliando-nos em todo o trabalho.
À FUNAI pela anuência a nossa convivência com o povo.
Aos pilotos que nos assistiram mensalmente em nosso deslocamento, abastecimento e em todas as emergências.
Deus que nos amou, enviou, capacitou, guardou e supriu todas as nossas necessidades para a execução dessa tarefa. “E, aquele que começou a boa obra, há de completá-la ...” Fil. 1:6, através do trabalho árduo de seus servos.
ABREVIAÇÕES
1exc 1ª pessoa plural exclusiva
1in 1ª pessoa plural inclusiva
1s 1ª pessoa singular
2pl 2ª pessoa plural
2sg 2ª pessoa singular
3 3ª pessoa singular e plural
A agente / sujeito de verbos transitivos
A.gen agente genérico
adj adjetivizador
adv advérbio
afirm partícula de afirmação
afirm partícula afirmativa
asp aspecto
CI marcador de classe I
CII marcador de classe II
dir direção
fut futuro
imp imperativo
ints intensificador
m.nom morfema nominal
marg margem
mod modo
neg negativo / negativizador
nom nome
nomz nominalizador
NP nome próprio
nucl núcleo
O objeto
ø morfema zero
O.gen objeto genérico
OP oração principal
OS oração subordinada
posp posposição
poss posse / genitivo
poss.gen posse genérica
pref prefíxo
prop propósito
realc realce
refx reflexivo
relac relacionador
S sujeito de verbos intransitivos
S.gen sujeito genérico
vd verbo descritivo
vi verbo instransitivo
vt verbo transitivo
RESUMO
Este trabalho apresenta o resultado de uma análise morfológica preliminar da língua Zo’é, falada por cerca de 300 pessoas e residentes no noroeste do estado do Pará. Os dados apresentados fazem parte de um corpus de textos gravados, transcritos e traduzidos para o português, bem como de inúmeros registros de campo, anotados foneticamente durante um período de 04 anos de convivência direta com os falantes nativos (1987-1991), com posterior análise fonológica e morfológica arquivada na Biblioteca Nacional em 23 de fevereiro de 1994 (registro N° 8.123 – Protocolo 260/94). Não obstante ser ainda um trabalho em andamento e sem maiores detalhes dos dados apresentados, configura-se hoje como a mais ampla apresentação de fatos gramaticais, publicados nesse idioma. Constitui uma plataforma de dados suficientes para conhecimento geral dessa língua e para novos estudos morfossintáticos desse idioma, ainda pouco explorado linguisticamente. Ao mesmo tempo, servirá também como ferramenta de apoio à Educação Escolar Indígena nessa etnia. O trabalho é apresentado em 15 tópicos principais, levando em conta as categorias gramaticais percebidas nessa língua, tais como: nome, pronome, verbo, posposição, numerais, advérbios, partículas e conjunções. Além disso, descreve também outros critérios gramaticais existentes, de maneira simplificada, mas suficiente para a compreensão básica de seu funcionamento, sendo: classe de temas e marcação pessoal, negação, interrogação e adjetivação. E, como estrutura morfológica, a reduplicação, locução e estrutura e formação das palavras. Embora, algumas dessas categorizações e conceituações estejam ainda em processo de análise e aguardando uma definição mais concreta a partir de novos estudos junto a essa comunidade indígena, optou-se pelo registro desses dados até que novas pesquisas confirmem ou rejeitem algumas hipóteses ainda pendentes, para a conclusão da descrição morfossintática desse idioma.
Palavra-chave: Língua Zo’é; Gramática; Descrição; População indígena.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho propõe apresentar os resultados de análise e descrição preliminar da gramática Zo’e, falada por cerca de 300 pessoas, que vivem na região compreendida entre os rios Cuminapanema e Erepecuru, no município de Óbidos e Oriximiná (PA).
Embora, historicamente, esses indígenas tenham mantido contatos esporádicos com caçadores e exploradores de riquezas vegetais e minerais na sua região, só foram contatados oficialmente em 1987. A partir de então, essa língua, ainda desconhecida da comunidade acadêmica, passou a ser estudada e analisada em seus vários aspectos. Dentre eles a interpretação a palavra Zoˀe, usada por eles como termo de autodesignação étnica dessa população indígena, cuja pronúncia fonética equivale a [ðoˀɛ] e fonologicamente interpretada como /Dɔˀɛ/. Embora, várias tentativas tenham sido feitas no sentido de entender o sentido etimológico do termo em foque, os dados morfológicos apresentados nesta descrição gramatical apontam que a a palavra Dɔˀɛ (Zo’é) é formada por dois morfemas distintos, /dɔ- ‘prefixo genitivo que significa humano / gente’ + ˀɛ ‘partícula de veracidade ou legitimidade’, ou seja, /Dɔ+ˀɛ = Dɔˀɛ/ ‘gente de verdade / gente legítima’ (CASTRO, 2018b)
Os primeiros dados coletados desse idioma se deram pelo período de 04 (quatro anos), ou seja, entre outubro de 1987 a outubro de 1991, resultando nesta descrição gramatical preliminar, uma coletânea de vocábulos (CASTRO et al, 1993) e uma análise comparativa (CASTRO, 1994), arquivados na Biblioteca Nacional. Posteriormente, trabalhos de análise fonológica (CABRAL, 1995/1996), (CASTRO; CARVALHO, 1998) e diacrônica (CASTRO, 2018a) foram publicados, enriquecendo assim o seu acervo bibliográfico.
Através de estudo dos estudos diacrónicos (CASTRO; CABRAL op cit), foi classificada como membro da Família Linguística Tupi-Guarani, do Tronco Tupi, pertencendo mais especificamente ao Conjunto VIII juntamente com as línguas Waiampi, Waiampi Puku, Emerilon, Anambé, Turiwara, Guajá e Urubu-Ka’apor.
E mediante esses estudos, conclui-se que o desenvolvimento fonológico e morfológico neste idioma é provocou mudanças hipoteticamente esperadas, a partir do seu distanciamento histórico-geográfico em relação às demais línguas dessa família linguística. Porém, a manutenção dos critérios fonológicos, bem com de sua estrutura morfológica, que possibilitou a sua classificação no Grupo VIII da Família Tupi-Guarani, demonstra que o seu distanciamento linguístico não foi tão intenso como em algumas das outras línguas co-irmãs, conforme descreveu Castro (1994) em sua análise diacrônica. E neste trabalho, embora não esteja sendo ainda apresentados esses dados comparativos, nota-se pelos exemplos adotados a manutenção dessa estrutura, principalmente, em relação às línguas pertencentes ao Grupo VIII e, em particular às línguas Waiampi e Emerillon que também habitam o lado Norte do rio Amazonas.
E, para não ser exaustivo, mas como orientação aos pesquisadores habituados à fonologia das línguas Tupi-Guarani, apresenta-se aqui algumas inovações fonológicas na língua Zo’é em relação à Proto-Língua Tupi-Guarani, tais como, o acréscimo de duas vogais médias abertas /ɛ/ e /ɔ/, em oposição às médias fechadas /e/ e /o/, as consoantes /d/, /b/, /ʃ/, /č/ e /ɟ/ que se opõem a /n/, /m/, /s/, /k/ e /j/, que aprecem no decorrer dessa descrição. Isso porque, registro oficial da ortografia desta língua ainda não foi efetivado, visto estar aguardando o resultado de novas pesquisas em andamento para sanar as incoerências encontradas entre os vários trabalhos já publicados a respeito.
Acrescenta-se somente que as palavras são acentuadas sempre na última sílaba e a entonação das frases serão descritas posteriormente, por ser assunto ainda em estudo.
O presente trabalho seguiu os critérios linguísticos propostos por (ELSON & PICKETT, 1978) para análise morfológica de línguas ágrafas, com apoio de alguns critérios adotados pela gramática da língua portuguesa (BASÍLIO, 1987), (CEGALLA, 1989). E, como parte prática na descrição dos dados e de apoio às interpretações das hipótese levantadas, trabalhos de renomados linguistas e pesquisadores das línguas indígenas pertencentes à família linguística Tupi-Guarani, com descrições gramaticais nas línguas Munduruku (MARJORIE, 1973) e Assurini (HARRISON, 1978) no estado do Pará, (GRAHAM; Sataré-Mawé no amazonas (GRAHAM; e HARRISON, 1984), Ka’apor no Maranhão (KAKUMASU & KAKUMASU, 1978) e (JENSEN, 1990) em estudos de referência cruzada em alguns idiomas Tupí-Guarani nas planícies da América do Sul.
O trabalho é apresentado em 15 tópicos e seus subtópicos, que apresentam as categorias lexicais percebidas nessa língua: NOMES, PRONOMES, VERBOS, POSPOSIÇÕES, NUMERAIS, ADVÉRBIOS, PARTÍCULAS E CONJUNÇÕES. Também, descreve, embora de forma não exaustiva, critérios gramaticais existentes, tais como: CLASSE DE TEMAS E MARCAÇÃO PESSOAL, NEGAÇÃO, INTERROGAÇÃO E ADJETIVAÇÃO. E, como estrutura morfológica, REDUPLICAÇÃO, LOCUÇÃO E ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS.
Embora algumas dessas categorizações e conceituações estejam ainda em processo de análise e aguardando uma definição mais concreta a partir de novos estudos junto a essa comunidade indígena, optou-se pelo registro desses dados até que novas pesquisas confirmem ou rejeitem algumas hipóteses ainda pendentes, para a conclusão da descrição morfossintática desse idioma.
Portanto, por se tratar de uma língua falada por um povo considerado de “recente contato” e ainda pouco explorada, espera-se por esta descrição contribuir com a comunidade científica quanto ao registro de dados linguísticos das línguas indígenas brasileiras.
1.0.CLASSE DE TEMAS E MARCAÇÃO PESSOAL
A marcação pessoal dos temas nominais e verbais é feita através de prefixos pessoais e estão relacionados com a classificação dos temas, que são divididos em Classe I, Classe II e Classe III. Com os temas de Classe III, não ocorre a marcação pessoal. Já com as Classes I e II os prefixos pessoais combinam com esses temas.
1.1. Marcadores pessoais
Os marcadores pessoais dividem-se em três conjuntos, representados da seguinte forma: [1]
Conjunto 1 Conjunto 2 Conjunto 3
1s a- ɛ- (r-)
2s ɛrɛ- nɛ- / dɛ- (r-) ɔrɔ-
3s ɔ-i- / ɟ- ø- / t-
1in da/na- nɔnɛ- (r-)
1excl ɔrɔ- ɔrɛ- (r-)
2p pɛ- pɛhẽ- (n-/ d-) ɔrɔ-
3p ɔ-i-/ ɟ- ø- / t-
Observa-se que alguns prefixos pessoais variam morfologicamente. Essa variação é determinada fonologicamente. Os prefixos da- e dɛ- ocorrem com temas orais (ex.1) e os prefixos na- e nɛ- ocorrem com temas nasais (ex. 2).
Com temas de Classe I ocorrem os prefixos i- em temas começados por consoantes e ɟ- com temas começados com vogais (ex. 3 e 4). Com temas de Classe II ocorre o morfema ø- e t-, que serão definidos posteriormente.
1. da- kuha ‘nós (in) conhecemos’ dɛ- kuha ‘te conheceu’
1inc-conhecer
2s conhecer
2. na- nupã ‘nós (in) batemos’ nɛ- nupã ‘te bateu’
1inc-bater
2s-bater
3. i-sĩ ‘seu nariz’
3-nariz
4. ɟ- akãg ‘sua cabeça’
3-cabeça
1.1.1. O conjunto 1
Os prefixos do conjunto 1 são empregados para marcar:
⇒ O sujeito dos verbos independentes transitivos e intransitivos (ex.5 e 6);
⇒ O sujeito dos verbos independente transitivos em coocorrência com o prefixo reflexivo (ex. 7);
⇒ O possuidor reflexivo dos nomes referente à 3ª pessoa (ex. 8).
5. a-ˀo ‘eu o comi’
1s-comer
6. ɔ-hɔ ‘ele foi’
3-ir
7. ɛrɛ-ɟi-kisi ‘você cortou a si mesmo’
2s-refl-cortar
8. ɔ-pɨ ‘seu próprio pé’
3refl-pé
1.1.2. O Conjunto 2
Os prefixos do conjunto 2 são empregados para marcar:
⇒ O sujeito dos verbos descritivos (ex. 9);
⇒ O sujeito dos verbos ativos intransitivos em orações subordinadas e circunstanciais (ex. 10 e 11 respectivamente);
⇒ O objeto dos verbos transitivos (ex. 12);
⇒ O possuidor dos nomes e expressões verbais nominalizadas (ex. 13 e 14);
⇒ O referente em relacionadores, na ausência de um nome referente (ex. 15);
⇒ O verbalizador de orações predicativas (ex. 16).
9. nɔnɛ-kinɛˀã ‘Nós (inc) estamos cansados.’
1inc-cansado
10. ɛ-r-esak amɛ ɔ-nãn ɔ-hɔ ‘Ele fugiu quando me viu.’
eu-CII-ver quando 3-correr 3-ir
11. ˀɨ pe ranɛ ica ‘Ele está na água.’
água em enf. 3-estar (em movimento)
12. kuanĩ i-nupã ‘O menino foi batido.’
menino 3-bater
13. ɔrɛ-r-ɛbɛ ‘nosso (exc) lábio’
1exc-CII-lábio
14. dɛ-r-ɛbi-atɨ ‘O que você plantou.’
2s-CII-nom-plantar
15. ɛ-r-ɛhɛ ‘a meu respeito’
1s-CII-respeito de
16. pɛ-d-upa ‘Vocês têm casa.’
2p-CII-casa
Os prefixos do conjunto 2 variam de acordo com a Classe de temas. Com temas de Classe II, combinam-se com morfemas ligadores r-, d- e n-, mas com temas de Classe I, nunca combinam. Também, há ocorrência de alomorfes na segunda pessoa singular e na terceira pessoa singular e plural conforme os paradigmas abaixo. (subclasse de temas sessão 1.2)
Com temas de Classe I Com temas de Classe II
1s ɛ- ɛ-r-
2s dɛ- / nɛ- nɛ-r- / dɛ-r-
3s i- / ɟ- / ø- / t-
1inc nɔnɛ- nɔnɛ-r-
1exc ɔrɛ- ɔrɛ-r-
2p pɛ- pɛ-d- / pɛ-n-
3p i- / ɟ- / ø- / t-
1.1.3. Conjunto 3 - prefixo portmanteau
Esse prefixo é usado, quando o agente é de primeira pessoa e o objeto de segunda e funciona como sujeito e objeto ao mesmo tempo (ex. 17).
17. ɔrɔ-pɔtar ‘Nós gostamos de você (s) / Eu gosto de você (s)’
1exc-gostar
18. ɔrɔ-esak ‘Nós vimos você (s) / Eu vi você (s)’
1exc-ver
1.1.4. Prefixos de marcação genérica
Quando a marcação de pessoa não é especificada, mas refere-se ao ser humano (geralmente com temas de Classe I), usa-se os seguintes prefixos:
pɔrɔ- objeto de verbo transitivo e possuidor humano em expressões nominalizadas (ex.19 e 20);
dɔ- / nɔ- possuidor humano e posse reflexiva de nomes possuíveis (ex. 21 e 22);
da- /na- sujeito de verbos transitivo e intransitivo (ex.23 e 24).
Exemplos
19. pɔrɔ-ˀo ɟikiriki ‘O ɟikiriki come gente (nos come).’
O.gen-comer NP
20 pɔrɔ-bɔjuha ‘medicação (de gente)’
O.gen-medicação
21. dɔ-pɔ ‘mão (de gente) / nɔ-sĩ ‘nariz (de gente)’
poss.gen-mão poss.gen-nariz
22. t-aɟɨt ‘filha (de homem)’ / dɔ-aɟɨt ‘sua própria filha’
CII-filha poss-filha
23. da-kuha ‘Alguém o conhece. / conhecer’
A.gen-conhecer
24. na-mɔsĩ ‘Alguém dança. / dançar’
S.gen-dançar
Observa-se que o prefixo humano dɔ-/nɔ- ocorre tanto com temas de Classe I, com de Classe II (ex. 21 e 23 acima).
O prefixo de A e S nos verbos transitivo e intransitivo, na forma genérica (ex.23 e 24 acima), são os mesmos usados na primeira pessoa do plural inclusiva.
Com os temas de Classe II, ocorrem os seguintes prefixos quando o sujeito ou o possuidor não são marcados:
t- /tɛ-/n- marcador de Classe II em nomes, adjetivos e relacionadores (ex.25-27);
r- / rɛ- infinitivador e marcador de Classe II em verbos transitivo e intransitivo (ex.28 e 29).
Exemplos:
25. tɛ-tɨmã ‘perna de alguém’
CII-perna
26. pako t-e’ẽ ‘banana doce’
banana CII-doce
27. tɛ-kipot ɔ-ho ‘Ele foi depois de alguém.’
CII-após 3-ir
28. daˀɛ kwata r-ike ‘Vamos caçar quatá!’
vamos quatá CII-caçar
29. a-ha r-esak ‘Eu fui vê-lo.’
1s-ir CII-ver
1.2. Classe de temas
Os temas, em geral, (verbos, nomes e posposições) manifestam-se em duas classes arbitrárias, dividindo a língua como um todo. Os temas de Classe II, combinam-se com morfema ligador, r-/rɛ-. Os de Classe I nunca combinam com esse morfema. Existe, porém, uma 3ª classe, que são os temas não flexionáveis, ou seja, não possuíveis. Porém, nos temas nominais, tanto na Classe I como na Classe II existem temas possuíveis e facultativamente possuíveis. Com isso os temas nominais são classificados em obrigatoriamente possuíveis, facultativamente possuíveis e não possuíveis.
1.2.1. Temas de Classe I e Classe II
Temas nominais
à Obrigatoriamente possuível
Classe I Classe II
dɔ-hɨ ‘mãe (de gente)’ t-o ‘pai (de gente)’
ɛ-hɨ ‘minha mãe’ ɛ-r-o ‘meu pai’
kuanĩ hɨ ‘mãe do menino’ kuanĩ ro ‘pai do menino
à Facultativamente possuível
pubaha ‘arco’ ø-dɨbɔ ‘barbante, linha’
ɛ-pubaha ‘meu arco’ ɛ-rɛ-dɨbɔ ‘minha linha’
bɔj pubaha arco do bɔj’ bɔj rɛ-dɨbɔ ‘barbante do bɔj’
Temas verbais
⇒ Verbos transitivos
Classe I Classe II
da-pɨhɨk ‘pegar’ da-iker ‘procurar’
ɛ-pɨhɨk ‘pega-me’ ɛ-rɛ-iker ‘procura-me’
kuani pɨhɨk ‘pegar o menino’ kuani rɛ-iker ‘procurar menino’
na-napõsĩ ‘amarrar’ da-itɨk ‘jogar’
ɛ-apõsĩ ‘amarro-me’ ɛ-rɛ-itɨk ‘joga-me’
kuani apõsĩ ‘amarrar o menino’ kuani rɛ-itɨk ‘jogar o menino’
⇒ Verbos intransitivos
da-kit ‘dormir’ ɛ-r-earaj ‘esqueci-me’
ɛ-ha [rame] ‘quando eu for’ ɛ-rɛ-iča ‘eu era’
⇒ Verbos descritivos
kɛto ‘ser bom’ ø-ahɨ ‘doer, estar doendo’
ɛ-kɛto ‘sou bom’ ɛ-r-ahɨ ‘tenho dor’
kujbɛˀɛ kɛto ‘homem bom’ bɔj r-ahɨ ‘veneno de cobra’
-ao ‘falar’ -earaj ‘esquecer’
ɛ-ao ‘eu falo’ ɛ-r-earaj ‘me esqueci’
kuanĩ ao ‘fala do menino’ kuanĩ r-earaj ‘esquecer o menino’
⇒ Posposições / Relacionadores
kupɛ ‘atrás de’ r-ɛhɛ ‘a respeito de’
ɛ-kupɛ ‘atrás de mim’ ɛ-r-ɛhɛ ‘a meu respeito’
ɛ-r-upa kupɛ ‘atrás de minha morada’ biri r-ɛhɛ ‘a respeito do Biri’
Os temas da Classe II, recebem o morfema ligador r- e seus alomorfos, n-, d- e rɛ-.
1.2.2. Temas de Classe III
Os temas de Classe III são fenômenos naturais, seres espirituais e alguns elementos da natura e não recebem marcadores pessoais como ocorre nos demais com os de classes I e II. Exemplo:
dahɨ ‘lua’
amãn ‘chuva’
tupã ‘Ser espiritual que troveja.’
ɨßak ‘céu’
1.2.3. Subclasses de temas
As duas classes de temas têm subdivisões baseadas na combinação de seus membros com certos alomorfes do morfema de 3ª pessoa e do prefixo possuidor não marcado. Isto é relevante, especialmente, aos nomes.
Uns dos que são obrigatoriamente possuíveis são partes corporais e relação de parentesco. Por exemplo: um olho pressupõe um corpo; e uma mãe pressupõe um filho. Mesmo que não seja relevante destacar cujo olho e cuja mãe, a gramática exige que essa relação não seja ignorada. Por isso, existem, além de prefixos pessoais, prefixos humanos não marcados.
Por exemplo:
ø-ɛhɛ ‘olho dele / dela’
t-ɛhɛ ‘olho de possuidor não marcado’
O pɛrɛfixo não marcado é apropriado, por exemplo, quando se fala de remédio para os olhos, pois não importa a quem pertence os olhos." (Jensen, 1990)
⇒ Prefixação
I 3ª Pessoa ligador possuidor não marcado possuidor humano
CLASSE I
Ia i- ø- ø- dɔ- nɔ-
Ib i- ø- ø- ø-
Ic ɟ- ø- ø- dɔ- nɔ-
Ie ɟ ø- ø- ø-
I 3ª Pessoa ligador possuidor não marcado possuidor humano
CLASSE II
IIa ø- r- t- r- dɔ- / nɔ-
IIb t- r- t- n- dɔ- / nɔ-
IIc ø- r- ø- ø-
IId ø- r- ‘ɛlim. vogal inicial’ dɔ- / nɔ-
IIe ø- r- rɛ- tɛ- ø-
Ia
3ª Pessoa ligador possuidor não marcado possuidor humano
i- ø - pɔrɔ- dɔ- nɔ-
i-pɨ kwata pɨ - dɔ-pɨ
‘seu pé’ ‘pé do quata’ ‘pé de gente’
i-pɨjta kwata pɨjta - dɔ-pɨjta
‘seu calcanhar’ ‘calcanhar do quatá’ ‘calcanhar de gente’
i-puã kwata puã - nɔ-puã
‘seu dedo’ ‘dedo do quata’ ‘dedo de gente’
i-bɔjuha turu bɔjuha - pɔrɔ-bɔjuha
‘sua medicação’ ‘medicação do Toru’ ‘medicação de gente’
Observação: Os verbos transitivos e substantivados de possuidor não marcado recebem o prefixo genérico pɔrɔ-, como se observa nesse último exemplo.
lb
3ª Pessoa ligador possuidor não marcado possuidor humano
i- ø- ø - pɔrɔ- dɔ- nɔ-
i-kɨt kunã kɨt kɨt ø -
‘ela é tenra’ ‘adolescente’ ‘tenra’
i-pubaha datok-a pubaha pubaha ø -
‘seu arco’ ‘arco do datok’ ‘arco’
lc
3ª Pessoa ligador possuidor não marcado possuidor humano
ɟ- ø ø- pɔrɔ- dɔ- nɔ-
ɟ-akãg ihu akãg nɔ-akãg
‘sua cabeça’ ‘cabeça de veado’ ø- ‘cabeça da gente’
ɟ-aɟk kuɟã aɟk dɔ-aɟk
‘sua veia’ ‘veia de mulher’ ø- ‘veia da gente’
ɟ-apɔhat toru apɔhat ø- pɔrɔ-apɔhat
‘seu criador’ ‘criador do Toru’ ‘nosso criador’
ɟ-anãm kiˀa anãm ø- anãm
‘é denso’ ‘mata densa’ ‘denso’
lla
3ª Pessoa ligador possuidor não marcado possuidor humano
ø- r- r- / t- dɔ- nɔ-
ø-iru biri r-iru r-iru dɔ-iru
‘seu vasilhame’ o vasilhame do Biri’ ‘vasilhame’ ‘vasilhame da gente’
ø-eka toru r-eka tɛ-ka dɔ-eka
‘seu parente’ ‘parente do toru’ ‘parente’ ‘parente da gente’
llb
3ª Pessoa ligador possuidor não marcado possuidor humano
t- r- t- dɔ- nɔ-
t-ata ipo r-ata t-ata dɔ-ata
‘seu fogo’ ‘fogo do Ipo’ ‘fogo’ ‘fogo da gente’
t-aˀɨt ipo r-aˀɨt t-aˀɨt dɔ-aˀɨt
‘seu filho’ ‘filho do Ipo’ ‘filho’ 'filho da gente’
t-o ipɔ r-o t-o dɔ-o
‘seu pai’ ‘pai do Ipɔ’ ‘pai’ ‘pai da gente’
r-uˀũm ipɔ r-uˀũm r-uˀũm nuˀũm
‘seu colega’ ‘colega do Ipɔ’ ‘colega’ ‘colega da gente’
llc
3ª Pessoa ligador possuidor não marcado possuidor humano
ø- r-/rɛ- ø- dɔ-/ nɔ-/
ø-ahɨ bɔj r-ahɨ ahɨ ø-
‘está com dor’ ‘a dor da cobra’ ‘dor’
ø-wadat ruˀi r-wadat wadat dɔ-wadat
‘seu outro lado’ ‘o outro lado do Luiz ‘outro lado’ ‘o outro lado da gente’
ø-dɨbɔ wara rɛ-dɨbɔ dɨbɔ ø-
‘seu barbante’ ‘barbante do Wará’ ‘barbante’
ø-kuj wara rɛ-kuj kuj ø-
‘sua cuia’ ‘cuia do Wará’ ‘cuia’
IId
3ª Pessoa ligador possuidor não marcado possuidor humano
ø- r- elim. vogal inicial dɔ- nɔ-
ø-apɛ datok-a r-apɛ pe dɔ-apɛ
‘seu caminho’ ‘caminho do Datok’ ‘caminho’ ‘caminho da gente’
lle
3ª Pessoa ligador possuidor não marcado possuidor humano
ø- rɛ-/r- tɛ- ø
ø-dɔtat toru rɛ-dɔtat tɛ-dotat ø
‘antes dele / dela’ ‘antes do Toru’ ‘antes de’
ø-kɨpɔt toru rɛ-kipɔt tɛ-kipɔt ø
‘após ele’ ‘após o Toru’ ‘após’
2.0. NOME
Os nomes podem ser simples, compostos e derivados e variam quanto a classe de temas, prefixação pessoal e podem receber partículas modificadoras.
2.1. Critério de possessão
De acordo com a subclassificação dos temas (pag.7-10) os nomes se dividem em três categorias de acordo com o critério de possessão, sendo: Possuíveis, Facultativamente Possuíveis e Não Possuíveis.
⇒ Os possuíveis consistem de um prefixo possessivo obrigatório e um radical nominal obrigatoriamente possuível. Normalmente designam partes do corpo humano e relações de parentesco. Em sua forma genérica, são formados pelo prefixo t- / tɛ- / ø-, marcadores de Classe II, com temas de Classe II, e prerfixo dɔ- / nɔ- (humano), com temas de Classe I.
Classe II tɛ-rɛkwat ‘esposa’
tɛ-tɨmã ‘perna (canela)’
Classe I dɔ-pɔ ‘mão’
nɔ-akãg ‘cabeça’
⇒ Os facultativamente possuíveis consistem de um radical nominal, facultativamente possuível e pode receber ou não um prefixo possessivo.
pubaha ‘arco’ ɛ-pubaha ‘meu arco’
ˀɨ ‘água’ dɛ-ˀɨ ‘tua água’
kuanĩ ‘menino’ nɛ-kuanĩ ‘teu menino’
kuj ‘kuia’ ɛ-rɛ-kuj ‘minha cuia’
pɛ ‘caminho’ ɔrɛ-r-apɛ ‘nosso caminho’
à Os não possuíveis consistem de um radical nominal não possuível e não recebem os prefixos possessivos. Os mais comuns são: nome próprio, corpos celestes, classificação humana e seres espirituais.
ujtu ‘vento’
ɨßag ‘céu’
ɨßasĩg ‘nuvem’
apãm ‘povo tribal (canibal)’
kurahɨ ‘sol’
amãn ‘chuva’
dɔˀɛ ‘auto designação do grupo.’
tupã ‘ser espiritual (talvez Deus)’
2.2. Prefixação possessiva
Em Zo’é não há pronome possessivo como no português, mas a forma possessiva é feita através dos prefixos pessoais do conjunto 2. Assim a forma possessiva dos nomes é marcada pelos prefixos pessoais de acordo com as Classes I e II dos temas.
2.2.1 Nomes da Classe I
dɔ-pɨ ‘pé’
ɛ-pɨ ‘meu pé’
dɛ-pɨ ‘teu pé’
i-pɨ ‘seu pé’
nɔnɛ-pɨ ‘nossos pés (inclusivo)’
ɔrɛ-pɨ ‘nossos pés (exclusivo)’
pɛ-pɨ ‘vossos pés’
i-pɨ ‘seus pés’
nɔ-sĩ ‘nariz’
ɛ-sĩ ‘meu nariz’
nɛ-sĩ ‘teu nariz’
i-sĩ ‘nariz dele / dela / dela’
nɔnɛ-sĩ ‘nosso nariz (inclusivo)’
ɔrɛ-sĩ ‘nosso nariz (exclusivo)’
pɛ-sĩ ‘vosso nariz’
i-sĩ ‘nariz deles / delas’
nɔ-akãg ‘cabeça’
ɛ-akãg ‘minha cabeça’
nɛ-akãg ‘tua cabeça’
ɟ-akãg ‘cabeça dele / dela / dela’
nɔnɛ-akãg ‘nossa cabeça (inclusivo)’
ɔrɛ-akãg ‘nossa cabeça (exclusivo)’
pɛ-akãg ‘vossa cabeça’
ɟ-akãg ‘cabeça deles / delas’
2.2.2. Nomes da Classe II
Com esta classe de temas, o morfema ligador r- / d- / n- é prefixado ao tema, ficando o prefixo pessoal possessivo na segunda ordem antecedendo à raiz ou ao radical.
t-apɨj ‘casa’
ɛ-r-apɨj ‘minha casa’
dɛ-r-apɨj ‘sua casa’
apɨj ‘casa dele / dela / dela’
nɔnɛ-r-apɨj ‘nossa casa (inclusivo)’
ɔrɛ-r-apɨj ‘nossa casa (exclusivo)’
pɛd-apɨj ‘vossa casa’
apɨj ‘casa deles / delas’
t-ɛbɛ ‘labio’
ɛ-r-ɛbɛ ‘meu lábio’
dɛ-r-ɛbɛ ‘teu lábio’
ɛbɛ ‘labio dele / dela’
nɔnɛ-r-ɛbɛ ‘nosso lábio’(inclusivo)’
ɔrɛ-r-ɛbɛ ‘nosso lábio (exclusivo)’
pɛ-d-ɛbɛ ‘vosso lábio’
ɛbɛ ‘ lábio deles / delas’
t-ata ‘fogo’
ɛ-r-ata ‘meu fogo’
dɛ-r-ata ‘teu fogo’
t-ata ‘fogo dele / dela’
nɔnɛ-r-ata ‘nosso fogo’(inclusivo)’
ɔrɛ-r-ata ‘nosso fogo (exclusivo)’
pɛ-d-ata ‘vosso fogo’
t-ata ‘fogo deles / delas’
kuj ‘kuia’
ɛ-rɛ-kuj ‘minha kuia’
dɛ-rɛ-kuj ‘tua cuia’
kuj ‘cuia dele / dela’
nɔnɛ-rɛ-kuj ‘nossa cuia (inclusivo)’
ɔrɛ-rɛ-kuj ‘nossa cuia (exclusivo)’
pɛ-dɛ-kuj ‘vossa cuia’
kuj ‘cuia deles / delas’
Os nomes prefixados assumem duas funções básicas: quando ocorre na margem de uma oração, que possui um sintagma verbal como núcleo, funciona como nome possuído (ex.1, 3 e 5); mas, ocorrendo como núcleo da oração, assume a função de predicado na oração predicativa (ex.2, 4 e 6).
1. dehɨ ɔˀo ‘Tua mãe comeu.’
marg nuc
2. dehɨ õɟi ‘Agora tens mãe.’
nuc marg
3. depubaha ßɛ ɛrɛɟuke ‘Mataste com teu arco.’
marg nuc
4. depubaha kwahɛ ‘Ontem você tinha um arco.’
nuc marg
5. eraˀɨt ɔhɔ ‘Teu filho foi.’
marg nuc
6. eraˀɨt ‘Tenho filho.’
nuc
2.2.3. Prefixação de posse reflexiva
Na terceira pessoa do singular e do plural, ocorre o prefixo possessivo reflexivo, ɔ-, especificando ser propriamente seu, o referido nome, em referência ao sujeito da oração (ex. 7-9).
7. i-pubaha ‘arco dele / dela (de outro)’
ɔ-pubaha ‘arco dele / dela (próprio)’
8. t-aɟɨt ɔrɛka ‘Ele possui a filha dele / dela.
ɔ-aɟɨt ɔrɛka ‘Ele possui a sua própria filha’
9. t-upa itɨ ɔhɔ ‘Foi para a casa (dele / dela)’
ɔ-upa itɨ ɔhɔ ‘Foi para a sua própria casa’
Também, o prefixo pessoal genérico, dɔ- / nɔ-, que ocorre nos nomes da Classe I, tem o sentido de posse reflexiva, pois, indica um posuidor muito pessoal, que traduz-se como ‘da gente’ ou ‘o próprio’, e pode ocorrer também com os nomes da Classe II (ex.10-12).
10. bɛbɨt ‘filho/filha de mulher’
dɔ-bɛbɨt ‘filho da gente / nosso próprio filho’
11. t-aɟɨt ‘filha (de homem)
dɔ-aɟɨt ‘filha da gente / nossa própria filha’
12. t-aˀɨt ‘filho (de homem)’
dɔ-aˀɨt ‘filho da gente / nosso próprio filho’
2.3. Nominalização
Os temas verbais podem ser nominalizados através de alguns morfemas nominalizadores sufixados a uma raiz ou radical verbal e derivando-os para um radical nominal -e / -ha / -hɛ / -hat / -hɛt.
2.3.1. Nominalizadores de instrumento -e / -hɛ / -ha
Es nominalizador deriva temas verbais para temas nominais com sentido de instrumento usado para a prática de determinada ação. Neste caso, ocorrem dois alomorfes: -e ocorre em temas terminados com a consoantes velares k e g (ex.13), e –hɛ e -ha ocorre nos demais ambientes (ex.14).
13. -dahak ‘banhar-se’ -dahak-e ‘banhador’ (sabão)’
-kirik ‘ralar’ -kirik-e ‘ralador’ (ralo)
-ãˀãg ‘imitar’ -ãˀãg-e ‘imitador (instrumento de)’
14. -kit ‘dormir’ -ki-hɛ ‘dormidor (rede de dormir, cama)’
-apɔ ‘fazer’ -apɔ-ha ‘fazedor (instrumento de)’
-pito ‘pintar’ -pito-ha ‘pintador (pincel, rolo, etc)’
-pĩn ‘raspar’ -pĩ-hɛ ‘raspador (instrumento de)’
2.3.2. Nominalizadores de ação (acontecimento) e lugar –ha / -hɛ
Ocorre com todos os temas verbais e expressa o ato praticado pelo sujeito (ex.15).
15 -dahak ‘banhar-se’ -daha-ha ‘o banho / banheiro’
-kit ‘dormir’ -ki-hɛ ‘a dormida / acampamento’
-apɔ ‘fazer’ -apɔ-ha ‘a fabricação / fábrica’
2.3.3. Nominalizador de Agente: -hat / -hɛt
Ocorre também com todos os temas verbais e manifesta o sujeito da ação (ex.16).
16. -pẽ ‘tecer’ -pẽ-hat ‘tecelão’
-pĩn ‘raspar’ -pĩ-hɛt ‘raspador, barbeiro’
-dahak ‘banhar-se’ -daha-hat ‘banhador)’
-apɔ ‘fazer’ -apɔ-hat ‘fazedor, fabricante’
2.3.4. Nominalizador de objeto, tɛbi- / temi-
Ocorre prefixando uma raíz verbal transitiva, significando ‘o que é / o que foi praticado’ (ex. 17).
17. Raíz verbal Nome Correspondente
-apɔ ‘fazer’ tɛbi-apɔ ‘objeto / o que é manufaturado’
-a’tɨ ‘plantar’ tɛbi-atɨ ‘plantação / o que foi plantado’
-uke ‘matar’ tɛbi-uke ‘vítima / o que foi morto’
-raha ‘levar’ tɛbi-rɛha ‘carga / o que se leva’
Observa-se que este prefixo nominalizador deriva os verbos para nomes de Classe II (ex. 18).
ipɔ r-ɛbi a’tɨ ‘o que o ipɔ plantou / enterrou’
ɛ-r-ɛbi a’tɨ ‘minha plantação’
dɛ-r-ɛbi a’tɨ ‘tua plantação’
ø-ɛbi a’tɨ ‘plantação dele / dela / deles / delas’
nɔnɛ-r-ɛbi a’tɨ ‘nossa plantação (incls)’
ɔrɛ-r-ɛbi a’tɨ ‘nossa plantação (excl)’
pɛ-d-ɛbi a’tɨ ‘vossa plantação’
2.4. Composição nominal
A fusão de duas ou mais raízes, nominal + nominal ou nominal + verbal, forma um radical nominal. Nessa fusão, geralmente, uma das raízes perde parte de seus fonemas:
pat + pepɔ à parepo
‘flecha’ ‘pena’ ‘Pena usada na confecção de flechas.’
wɨjrɛ + pat + ɛda à wɨjrɛ parɛda
‘madeira’ ‘flecha’ ‘deixar’ ‘Lugar de guardar flechas’
kusi + tahãj à kusiwãj
‘cutia’ ‘dente’ ‘dente de cutia
(usado para raspar objetos)’
2.5. Marcação de numero, grau e gênero
Não há flexão de número, gênero e grau nas raízes e radicais. Porém, a marcacão dessa flexão é feita através de partícula flexionais, que seguem o nome a ser modificado.
2.5.1. Marcação de número - forma plural e coletiva
Esta forma é feita através do termo pluralizador e coletivador kã / čã, que expressa a idéia, mais de coletivo do que propriamente de plural, pois, este marcador pode ser incorporado também a um pronome pessoal livre no plural. Geralmente indica uma espécie ou grupo expecífico de seres ou objetos.
pirɛ ‘peixe’ pirɛ kã ‘peixes / cardume’
kusi ‘cutia’ kusi čã ‘cutias ‘
bɛbɨt ‘filho de mulher’ bɛbɨt -a kã ‘filhos de mulher
taˀɨt ‘filho de homem’ taˀɨt-a kã ‘filhos de homem’
biri ‘nome próprio’ biri čã ‘o biri e os seus’
datok ‘nome próprio’ datok-a kã ‘o datoke os seus’
toru ‘nome próprio’ toru kã ‘o toru e os seus’
aɛ ‘ele /eles’ aɛ kã ‘ele e os seus’
ɔrɛ ‘nós (exc.)’ ɔrɛ kã ‘nós e os nossos’
ihu ‘veado’ ihu kã ‘manada de veados’
2.5.2 Marcação de grau - aumentatativo e diminutivo
O grau aumentativo é feita através do termo intensificador, uhu / hu, acrescido ao nome, em forma de locução substantiva ou de radical nominal.
pirɛ ‘peixe’ pirɛuhu ‘trairão’
ˀɨ ‘água’ ˀɨhu ‘rio, água grande’
ɟɨ ‘metal, facão’ ɟɨhu ‘machado’
Acrescentando ao termo intensificador a partícula ˀi, aumenta a forma intensiva e consequentemente o grau do nome.
ˀɨhu ‘rio’ ˀɨhu ˀi ‘riozão’
ɟɨhu ‘machado’ ɟɨhu ˀi ‘machadão
pirɛuhu ‘trairão’ pirɛuhu ˀi ‘trairão bem grande’
Ainda pode-se aumentar a forma do nome, acrescentando o prolongamento da partícula ˀi .
ˀɨhu ˀi ‘rio grande demais, um mar’
kwata uhu ˀi ‘macaco grande demais, enorme’
O grau diminutivo é feito através dos termos atenuativos, mirĩ ‘pequeno’, tik ‘pouco’ e taˀɨt ‘filho’.
ˀɨ mirĩ ‘córrego, igarapé (água pequena)’
kutahĩ tik ‘meninazinha’
ɟɨso raˀɨt ‘enxadinha’
Estes termos podem ser sobrepostos, aumentando assim a sua forma atenuativa.
ˀɨ mirĩ tik ‘igarapézinho’
ɟisoraˀɨt-a tik ‘filhote de enxadinha’
kutahĩraˀɨt-a tik ‘menina pequenininha’
2.5.3. Marcação de gênero - masculino e feminino
Esta marcação e feita através de radicais diferentes, quando se trata de seres humanos e relação de parentesco.
kujbɛˀɛ ‘homem’
kuɟã ‘mulher’
kwanĩ ‘menino’
kutahĩ ‘menina’
tamũ ‘avô’
tɔto ‘avó’
taˀɨt ‘filho (de homem)’
taɟɨt ‘filha (de homem)’
Referindo-se aos animais, expecifica-se o gênero através dos termos expecíficos:
kujbɛˀɛ ‘macho’
kuɟã ‘fêmea’
kwata kujbɛˀɛ ‘quatá macho’
kwata kuɟã ‘quatá fêmea’
tadaho kujbɛˀɛ ‘queixada macho’
tadaho kuɟã ‘queixada fêmea~’
2.6 Qualificação
Os nomes podem ser qualificados ou desqualificados mediante o acréscimo das partículas ˀɛ ‘verdadeiro, legítimo e rãn, ‘falso’:
pubaha ˀɛ ‘arco legítimo / madeira legítima de se fazer o arco’
pubaha rãn ‘arco falsificado / madeira de se fazer o arco falsa’
pakɔ ˀɛ ‘banana verdadeira’
pakɔ rãn ‘banana falsa’
2.7. Referencial genérico
Com o acréscimo de um advérbio e da partícula de referência genérica wat, significando ‘o de / os de’, pode-se referir a algo ou alguém sem identificação específica.
kejɟã me wat ‘os de kejɟã (uma aldeia chamada kejɟã)’
ũ tɨ wat ‘os daquela região’
pakɔtɨ pe wat ‘os do bananal’
2.8. Especificação
Um animal pode ser especificado a partir da fusão do nome derivado ‘wat ‘comedor de’ ao alimento referido, for-mando um radical composto. A forma wat é resultado de -ˀo + hat’
pirɛ ‘peixe’ pirɛ-wat ‘ictiófago / comedor de peixe’
tepɔsi ‘fezes’ tepɔsi-wat ‘comedor de fezes’
2.9. Localização
A partir de determinada raíz ou radical nominal, forma-se uma espécie de locativo, mediante o acréscimo da partícula, pɔt ‘conteúdo’.
kiˀa ‘mata’ + pɔt ‘conteúdo’ = kiˀa pɔt ‘silvícola’
ˀɨ ‘água’ + pɔt " = ˀɨ pɔt ‘aquático’
ita ‘pedra’ + pɔt " = ita pɔt ‘troglodita / habitante das
pedras’
2.10. Temporalidade
Todo o nome pode apresentar noção de temporalidade, embora difusa, por meio de partículas referenciais, indicando o tempo, passado, presente e futuro:
arɛt ‘o que foi’ Referencial Passado
ramũ ‘o que é’ Referencial Presente
ram ‘o que será’ Referencial Futuro
tapɨj ‘casa’ tapɨj arɛt ‘ex-casa’
tapɨj ramũ ‘casa atual’
tapɨj rãm ‘futura casa’
ɛrɛrɛkwat ‘minha esposa’ ɛrɛrɛkwat arɛt ‘minha ex-esposa’
ɛrɛrekw-a ramũ ‘a minha esposa atual’
ɛrɛrɛkwat-a rãm ‘a minha noiva /minha futura esposa’
2.11. Suposição e atestamento
Os nomes podem se apresentar numa forma afirmativa duvidosa, suposta ou confirmada, através das partículas, dam e atɛ, como segue;
2.11.1. Suposição
kujbɛˀɛ dam ‘Deve ser homem / macho.’
biri dam odapo ‘Certamente foi o biri que fez.’
kuɟã dam aesak ‘Deve ser mulher a eu eu vi.’
2.11.2. Atestamento
ehɨ atɛ odatɨ ‘Foi minha mãe que plantou.’
kuɟã atɛ aesak ‘É uma mulher mesmo que eu vi.’
2.12. Aposição e contraste
Ao contrariar uma afirmação a respeito de um nome, usa-se a partícula apositiva contrastiva ruã, significando, ‘não é’.
ipɔ ßɛ aũi ‘Aquele é o Ipɔ?’
aˀɛ ruã ‘Não é ele.’
ipɔ ruã tɛte ‘Não é o Ipɔ mesmo.’
2.13. Adição
É feito através de partículas aditivas, acrescidas aos nomes, podendo ser aditiva, sequencial e inclusiva.
2.13.1. Aditiva sequencial
Ao enumerar os participantes de uma ação acrescenta a partícula tej, atej, a partir do segundo elemento.
biri bɔj atej ipɔ tej či ɔhɔ
‘O biri mais o bɔj, mais o ipɔ, são esses que foram embora.’
2.13.2. Aditiva inclusiva
Quando alguém ou algo é incluído numa ação usa-se o a partícula inclusiva aßɛ, com o sentido de também.
biri aßɛ ɔhɔ ‘O Biri também foi.’
pubaha aßɛ ɔrɛka ‘Ele usa também arco’
2.14. Marcação de caso nominal.
Quando um nome ocorre como sitagma nominal dentro de uma oração, que contém um predicado verbal, recebe um morfema especial a partícula a depois de palavras terminadas em consoante (ex.1-3) e ø depois de palavras terminadas em vogal (ex.4-6)
1. dawat-a kã ɔ-hɔ
onça-m.nom pl 3-ir
‘As onças se foram.’
2. bɔˀɨ aßɛ t-ɔ-erot, ʃuãw-a tot ame]
boˀɨ também prop-3-trazer João-m.nom 3-vir quando
'Quando o João vier, é para ele trazer o Bɔˀɨ também.’
3. dawat-a t-ɔ-iči i-pupɛ ɔ-dapɔ
onça-m.nom prop-3-entrar 3-dentro 3-fazer
‘ Ele o fez para a onça entrar dentro dele / dela.’
4. ɛ-rot kwata-ø t-a- a-ˀo
imp-trazer quatám.nom prop-1s-comer
‘Traga quatá para eu comer.’
5. bɔkɛ -ø kã kuriri a-pɨhɨg
Facão-m.nom pl passado 1s-pegar
‘Naquele tempo eu peguei os facões.’
6. pehĩ ɟɨhu-ø a-pɨhɨk
um machado-m.nom 1s-pegar
‘Eu peguei um machado.’
Há ocasiões em que um nome não funciona como sintagma nominal, mas como predicado da oração (ex.7-8), ou onde não há contexto sintático, como em lista de palavras (ex.9) e forma vocativa (ex.10). Nesses casos, não ocorre o morfema de caso nominal e os vocábulos terminados em consoante, que antecede outro iniciado por consoante, são pronunciados sem sua consoante final.
7. rarok kuriri i-rɛha
NP passado 3-levar
‘Foi a Rarɔk , que foi levada no passado.’
8. i-pɛwat kã
3 marido elas
‘Elas têm marido’
9 dawat ‘É onça’
sarakut ‘É sarakura’
bikut ‘É mukura’
badeˀɔk ´É mandioca’
10. datok ‘Datok!’
kurik ‘Kurik!’
O uso do morfema nominal é relevante, pois, geralmente, é através dele que se distingue a função sintática de um nome, como se observa nos exemplos 11-12.
SINTAGMA NOMINAL SINTAGMA VERBAL
11. i-paiwat-a kã [ipajwara’kã] i-paiwat kã [ipajwakã]
3-marido-m.nom pl 3-marido elas/pl
‘maridos delas’ ‘Elas têm marido’
12. õg-a da ɔ-dapɔ [õga’da ɔdapɔ] ‘õg da ɔ-dapɔ [õda ɔdaʰ’pɔ]
este-m.nom como 3-fazer este como 3-fazer
‘Ele o fez semelhante a este.’ ‘Foi semelhante a este, o que ele fez.’
3.0. PRONOMES
Os pronomes nesta língua, assim como os nomes, têm classificação hipotética, pois os pronomes pessoais podem funcionar também como possessivos e os demonstrativos e interrogativos como locativos. Podem funcionar como sujeito, objeto ou até mesmo como predicado de uma oração.
3.1. Pronomes pessoais
Os pronomes pessoais ocorrem, na forma livre, substituindo um nome numa sentença ou como possesivos numa oração predicativa.
3.1.1. Forma livre
iɟɨ ‘eu’
ɛnɛ ‘tu, você’
aˀɛ ‘ele, ela’
nɔnɛ ‘nós (inclusivo)’
ɔrɛ ‘nós (exclusivo)’
pɛhẽ ‘vós, vocês’
aˀɛ kã ‘eles, elas’
Às vezes, a terceira pessoa do plural é indicada apenas pelo termo pluralizador kã numa sentença.
ɔɟuke so kã ‘Eles mataram?’
dɔɟukej ʃɛ kã ‘Infelizmente, não mataram.’
Todos os pronomes pessoais livres, recebem o pluralizador e coletivador kã, com o sentido de agrupamento, à semelhança do que ocorre com os nomes.
iɟɨ kã ‘eu e minha turma’
ɛnɛ kã ‘você e sua turma’
aˀɛ kã ‘ele / ela e a sua turma’
nɔnɛ kã ‘nós (inclusivo) e a nossa turma’
ɔrɛ kã ‘nós (exclusivo) e a nossa turma’
pɛhẽ kã ‘vocês e a sua turma’
aˀɛ kã ‘eles/elas e a sua turma’
3.1.2. Forma possessiva
A forma possessiva, normalmente, é feita através da prefixação pessoal do conjunto 2 . Porém, nas orações predicativas, os prefixos pessoais do conjunto 2 marcam a pessoa do verbo (ex.1 e 3). Portanto, nessas orações, os pronomes pessoais livres são usados como marcadoers de posse (ex.2 e 4).
1. ɛ-raˀɨt ‘Tenho filho’
1s-filho
2 . iɟɨ ɛ-raˀɨt É o filho que eu tenho / é meu filho’
eu 1s-filho
3. nɛ-nami ‘Você tem orelha’
2s-orelha
4. ɛnɛ nɛ-nami ‘É a orelha que você tem / é tua orelha’
você 2s-orelha
3.2. Pronomes demonstrativos
São apenas alguns que ocorrem nesta língua e, como os pessoais, funcionam na forma livre e como sujeito, objeto e predicado de uma oração.
‘õg ‘este, isto, aqui’
aũi ‘esse, isso, ali’
akai ‘aquele, aquilo, lá’
Os mesmos, podem ser usados também como marcadores de local ( ex.5-7).
5. ‘õg-a ßɛ ɔat ‘Ele caiu aqui.’
6. aũi rupi ɔhɔ ' Ele foi por ali.’
7. akai ßɛ tihi '‘Ele está lá.’
4.0. VERBO
Os verbos, em Zo’é, prenchem a posição de núcleo na oração, com papel de predicado e manifesta-se através de uma raíz ou radical verbal e são classificados como verbos ativos e descritivos. Os verbos ativos podem ser transitivos ou intransitivos e os descritivos podem expressar ideia de ser, estar e ter (possuir).
4.1. Classificação verbal
Os verbos ativos são formados por uma raiz ou radical verbal e prefixo pessoal do conjunto 1, marcador de agente - A ou do conjunto 2, marcador de objeto - O, quando transitivos, e do conjunto 1 e 2, marcador de sujeito agentivo - Sa ou não agentivo - So, quando intransitivo.
4.1.1. Verbos trânsitos – A e O
Com marcação de Agente Com marcação de Objeto
a-esak ‘Eu o vi.’ ɛ-resak ‘Me viu.’
a-sɔˀo Eu o mordi.’ ɛ-sɔˀo ‘Mordeu.’
ɛrɛ-d-apɔ ‘Você o fez.’ dɛ-apɔ ‘Te fêz.’
4.1.2. Verbos intransitivos com sujeito agentivo - Sa
Os verbos intransitivos com sujeito ativo recebem marcação pessoal do Conjunto 1 nas orações principais e do Conjunto 2 nas subordinadas.
Oração principal - Sa Oração subordinada - So
a-dahak ‘Eu me banhei.’ ɛ-dahak amɛ ‘Quando me banhei.’
ɔ-kuj ‘Ele despencou-se’ i-čuj iri ‘Depois que caiu.’
erɛ-kit ‘Você dormiu’? dɛ-kit amɛ ‘Quando dormires.’
a-ata ‘Eu andei.’ ɛ-ata ramɛ ‘Se eu andar.’
4.1.3. Verbos intransitivos com sujeito não agentivo - So[2]
Algun verbos intransitivos de carcterísticas menos agentiva são marcados com os prefixos do Conjunto 2, de acordo com a prefixação usadas para as Classes I e Classe II.
Classe I Classe II
e-ao ‘falei’ e-r-ɛaraj ‘Esqueci-me.’
de-ao ‘falastes’ de-r-ɛaraj ‘Te esquecestes.’
ɟ-ao ‘ele falou’ ø-ɛaraj ‘Esqueceu-se.’
4.1.4. Verbos descritivos
São formados por uma raíz verbal descritiva e prefixo pessoal do conjunto 2, de acordo com a marcação pessoal nos radicais de Classe I e Classe II. Expressam um estado ou qualidade do sujeito e também o conceito de posse.
Em radicais de Classe I Em radicais de Classe II
ɛ-kinɛˀã ‘Estou cansado.’ ø-ẽ’ẽ ‘É doce.’
i-puku ‘É comprido.’ ø-ahɨ ‘É doído.’
ɛ-kuɟãn ‘Sou / Estou magro.’ ɛ-r-aˀɨt ‘Tenho filho.’
ɛ-pajwat ‘Tenho marido / Sou casada.’ ø-ɛrɛkwat ‘É casado / possui
esposa.’
4.2. Verbalização
Raízes ou radicais nominais podem ser verbalizados, através do prefixo causativo bɔ- / mɔ-, e do sufixo verbalizador -nõ.
4.2.1. Prefixo Causativo bɔ- e mɔ-
dɔˀɛ ‘humano’ -bɔdɔˀɛ ‘humanizar’.
kirahi ‘neo-brasileiro’ -bɔgirahi ‘Tornar um neo-brasileiro.’
atã ‘firme / duro’ -mɔatã ‘Fazer ficar firme.’
ɟuk ‘podre’ -bɔɟuk ‘Fazer apodrecer.’
pirãg ‘vermelho’ -mɔpirãg ‘Fazer ficar vermelho.’
4.3.2. Sufixo verbalizador -nõ
akwã ‘ponta’ -akwãnõ ‘apontar, colocar ponta’.
taibe ‘cortante’ -menõ ‘afiar, tornar cortante’.
4.3. Derivação causativa
Através dos prefixos causativos simples bɔ- / mɔ- e comitativo ero- / ro- / er-, os verbos intransitivos e também palavras de aspectos e modo, são derivados para verbos transitivos.
4.3.1. Verbo intransitivo para transitivo
ɔkit ‘ele dormiu’ ɔbɔgit ‘Ele o fez dormir.’
adahak ‘eu me banhei’. abɔdahak ‘Eu o banhei.’
ɔdɔk ‘quebra, arrɛbɛnta’. abɔdɔk ‘Eu o quebro.’
ɔsičã ‘ele seca’. kurahɨ ɔmɔsičã ‘O sol o seca.’
ɔkit ‘ele dorme’ iɟɨ abɔgit ‘Eu o faço dormir.’
ɔkwa ‘ele passa’. ɔbɔkwa ‘Ele o faz passar.’
ɔhẽm ‘ele sai.’ ɔmɔhẽm ‘Ele o expele.’
ɔɟiut ‘ele volta’. ɔbɔɟiut ‘Eu mando de volta.’
akwa ‘eu passo’. arɔkwa ‘Eu passo com ele.’
ɔot ‘ele vem’. ɔerot ‘Ele traz consigo.’
ɔhẽm ‘ele sai’. ɔrɔhẽm ‘Carrego para fora.’
O causativo comitativo é semelhante ao causativo simples, porém, a diferença está no fato que o agente (aquilo ou aquele), que causa a ação participa também da mesma, isto é, faz com que o outro sofra a ação junto, concomitantimente consigo.
4.3.2. Palavra de aspecto verbal em verbo
iha ‘aspecto interruptivo’ abɔjha ‘Eu paro / interrompo.’
ja’pɨt ‘aspecto repetitivo’ abɔjapɨt ‘Eu repito.’
4.4 Derivação reflexiva
Algumas raízes verbais transitivas e descritivas, são derivadas para intansitivas através do prefixo reflexivo ɟi- / i-. Dessa forma, percebe-se que o sujeito pratica a ação por si mesmo, ou sobre si mesmo.
aesak ‘vejo-o’ aɟiʃɛk ‘apareço-me’
ɔupit ‘levanta-o’ ɔɟupit ‘sobe’
-ɔˀɨ ‘estar frio’ iʃirɔˀɨ ‘esfria-se’
temiˀũ ‘alimento’ aɟimiˀũ ‘alimento-me’
Observação: Há uma distinção entre essa derivação e o uso da forma reflexiva comum.
1. aɟiɛsak ‘vejo-me’
2. aɟiʃɛk ‘apareço-me’
No primeiro caso, o uso do prefixo reflexivo não altera a raiz verbal, apenas destaca o fato de que o agente pratica a ação sobre si mesmo. Já no segundo, a raiz verbal é derivada para um novo radical, alterando a sua transitividade de transitiva para intransitiva e suprime parte da sua raiz primitiva.
4.5. Composição verbal
A ɟunção de duas ou mais raízes verbais, ou raíze substantiva + raíz verbal, formam um radical verbal.
-pɨ + -ˀãm -pɨˀãm ‘levantar’
‘pé’ + ‘estar em pé’
-pɔ + -kwat -pɔkwat ‘álgemar’
‘mão’ + ‘amarrar’
-pɔ + -sit + -ˀɔk -posirɔk ‘Amassar com a mão.’
mão + espirrar + arrancar
4.6. Marcação pessoal dos verbos independentes
A marcação pessoal dos verbos independentes é do tipo ativo-inativo. Esse marcador de sujeito nos verbos transitivos (conjunto 1) é o mesmo marcador de sujeito nos verbos intransitivos; o marcador de sujeito nos verbos descritivos (conjunto 2) é o mesmo marcador de objeto nos verbos transitivos.
4.6.1. Marcação de agente e objeto nos verbos transitivos
Com os verbos transitivos, predomina-se a marcação pessoal de agente, através dos prefixos do conjunto 1, pressupondo-se um objeto da ação. Porém, em alguns verbos manifesta-se o marcador de objeto, em coocorrência com o marcador de sujeito.
⇒ Marcador de agente - A[3]
a-sɔˀo ‘eu mordi’
ɛrɛ-sɔˀo ‘você mordeu’
ɔ-sɔˀo ‘ele mordeu’
da-sɔˀo ‘nós mordemos (inc.)’
ɔrɔ-sɔˀo ‘nós mordemos (exc.)’
pɛ-sɔˀo ‘vocês morderam’
ɔ-soˀo ‘eles morderam’
a-esak ‘eu vi’
ɛrɛ-esak ‘você viu’
ɔ-esak ‘ele viu’
da-esak ‘nós vimos (inc.)’
ɔrɔ-esak ‘nós vimos (exc.)’
pɛ-esak ‘vocês viram’
ɔ-esak ‘eles viram’
⇒ Marcadores de agente e objeto – A e O
Em algumas raízes verbais dissilábicas, iniciadas por vogal, coocorre a marcação de sujeito e objeto com os prefixos dos conjuntos 1 e 2, respectivamente. Porém, com algumas raízes monossilábicas, a marcação de objeto (conjunto 2) é eliminado na terceira pessoa, singular e plural, quando o sujeito é também de terceira pessoa.
a-d-apɔ ‘Eu o fiz’
ɛrɛ-d-apɔ ‘Você o fez’
ɔ-d-apɔ ‘Ele o fez’
da-d-apɔ ‘Nós o fizemos in.’
ɔrɔ-d-apɔ ‘Nós o fizemos ex.’
pɛ-d-apɔ ‘Vocês o fizeram’
ɔ-d-apɔ ‘Eles o fizeram’
a-nɔ-pĩn ‘Eu o raspei’.
ɛrɛ-nɔ-pĩn ‘Você o raspou’.
ɔ-pĩn ‘Ele o raspou’.
na-nɔ-pĩn ‘Nós o raspamos in.’
ɔrɔ-nɔ-pin ‘Nós o raspamos ex.’
pɛ-nɔ-pĩn ‘Vocês o raspam.’
ɔ-pĩn ‘Eles o rasparam’.
4.6.2. Marcação de objeto em verbos independentes
Quando o objeto numa hierarquia de pessoa (1ª>2ª>3ª) é superior ao sujeito, os verbos independentes são marcados com os prefixos do conjunto 2, referindo ao objeto. Nesse caso, a marcação é feita de acordo com a subclasses dos temas.
Temas de Classe I Temas de Classe II
ɛ-sɔˀo ‘me mordeu’ ɛ-r-esak ‘me viu’
dɛ-sɔˀo ‘te mordeu’ dɛ-r-esak ‘te viu’
i-ʃoˀo ‘o mordeu’ esak ‘o viu’
nɔnɛ-sɔˀo ‘nos mordeu (in)’ nɔnɛ-r-esak ‘nos viu (in)’
ɔrɛ-sɔˀo ‘nos mordeu (ex)’ ɔrɛ-r-esak ‘nos viu (exc.)’
pɛ-sɔˀo ‘vos mordeu’ pɛ-d-esak ‘vos viu’
i-ʃoˀo ‘os mordeu’ esak ‘os viu’
4.6.3. Prefixos portmanteau, agente e objeto em verbos independentes, ɔrɔ-
Esse prefixo, pertencente ao conjunto 3 de prefixos pessoais, é usado, quando o agente é de primeira pessoa, singular ou plural e o objeto é de segunda pessoa, também, singular ou plural.
ɔrɔ-pɔtat ‘Eu gosto de você (s) / Nós gostamos de você(s).’
ɔrɔ-esak ‘Eu vi você(s) / Nós vimos você (s).’
ɔrɔ-uke ßɔtat ‘Eu matarei você (s) / Nós mataremos você (s).’
ɔrɔ-pɛtɛk ‘Eu espalmei você (s) / Nós espalmamos você (s).’
4.6.4. Marcação de sujeito em verbos intransitivos
⇒ com temas de Classe I à com temas de Classe II
a-kit ‘Eu dormi.’ ɛ-kit amɛ 'Quando eu dormi.’
ɛrɛ-kit ‘Você dormiu.’ dɛ-kit amɛ ‘Quando você dormiu.’
ɔ-kit ‘Vle dormiu.’ i-čir amɛ ‘Quando ele dormiu.’
da-kit ‘Vós dormimos.’ nɔnɛ-kit amɛ ‘Quando nos dormirmos.’
ɔrɔ-kit ‘Nós dormimos.’ ɔrɛ-kit amɛ ‘Quando nós dormirmos.’
pɛ-kit ‘Vocês dormiram.’ pɛ-kit amɛ ‘Quando vocês dormiram.’
ɔ-kit ‘Eles dormiram.’ i-čir amɛ ‘Quando eles dormiram.’
a-ɛdo ‘Eu ouvi.’ ɛ-r-ɛdo ramɛ ‘Quando eu ouvi.’
ɛrɛ-ɛdo ‘Você ouviu.’ dɛ-r-ɛdo ramɛ ‘Quando você ouviu.’
ɔ-ɛdo ‘Ele ouviu.’ ɛdo ramɛ ‘Quando ele ouviu.’
da-ɛdo ‘Você ouviu.’ nɔnɛ-r-do ramɛ ‘Quando nós ouvimos.’
ɔrɔ-ɛdo ‘Você ouviu.’ rɛ-r-do ramɛ ‘Quando nós ouvimos.’
pɛ-ɛdo ‘Você ouviu.’ ɛ-d-do ramɛ ‘Quando você ouviram.’
ɔ-ɛdo ‘Vocês ouviram.’ ɛdo ramɛ ‘Quando vocês ouviram’.
4.6.5. Marcação de verbos descritivos
Em verbos descritivos, o sistema de marcação de sujeito segue os marcadores de objeto nos verbos transitivos, usando os prefixos do conjunto 2.
⇒ com temas de Classe I à com temas de Classe II
ɛ-tãnã ‘Eu estou tossindo.’ ɛ-r-ɔrɨ ‘Eu estou alegre.’
nɛ-tãnã ‘Tu estás tossindo.’ dɛ-r-ɔrɨ ‘Você está alegre.’
i-tãnã ‘Ele está tossindo.’ ɔrɨ ‘Ele está alegre.’
nɔnɛ-tãnã ‘nós está tossindo.’ nɔnɛ-r-ɔrɨ ‘Nós estamos alegres.’
ɔrɛ-tãnã ‘Nós estamos tossindo.’ ɔrɛ-r-ɔrɨ ‘Nós estamos alegres.’
pɛ-tãnã ‘Vós estais tossindo.’ pɛ-d-ɔrɨ ‘Vocês estão alegres.’
i-tãnã ‘Eles estão tossindo.’ ø-ɔrɨ ‘Eles estão alegres.’
ɛ-kuɟãn ‘Eu estou magro.’ ɛ-r-aku ‘Eu estou quente.’
nɛ-kuɟãn ‘Tu estás magro.’ dɛ-r-aku ‘Tu estás quente.’
i-čuɟãn ‘Ele está magro.’ aku ‘Ele está quente.’
nɔnɛ-kuɟãn ‘Nós estamos magros.’ nɔnɛ-r-aku ‘Nós estamos quentes.’
ɔrɛ-kuɟãn ‘Nós estamos magros.’ ɔrɛ-r-aku ‘Nós estamos quentes.’
pɛ-kuɟãn ‘Vós estais magros.’ pɛ-dɛ-aku ‘Vós estais quentes.’
i-čuɟãn ‘Ele estão magros.’ ø-aku 'Eles estão quente.’
4.7. Marcação pessoal de verbos em orações subordinadas
Em cláusulas subordinadas a marcação pessoal varia em relação à marcação dos verbos independentes, pois, em geral segue o sistema ergativo-absolutivo, como proposto por Jensen, (l990) para a proto-língua Tupí-Guaraní. Neste sistema de marcação, os marcadores de objeto (conjunto 2) nos verbos transitivos (ex.1-4) são os mesmos marcadores de sujeito nos verbos intransitivos e descritivos (ex.5-12).
4.7.1. Orações subordinadas temporais
(Oração principal - O.P. X Oração subordinada - O.S.)
O.S O.P.
1. ø-esak amɛ a-ɟuke ßɔtat ‘Eu o matarei, quando o vir.’
O.S O.P.
2. ɟ-uke ramɛ a-ˀo ‘Quando o matei, eu o comi.’
O.S. O.P.
3. dɛ-r-esak amɛ a-d-apɔ ‘Eu o fiz, quando te vi.’
O.S. O.P.
4. ɛ-kuha iri ɛrɛ-ha ‘Após me conhecer, você se foi.’
Os verbos intransitivo e descritivo, recebem o mesmo prefixo do conjunto 2 referindo-se ao sujeito do verbo.
O.S. O.P.
5. ɛ-ha iri a-ɛdo ‘Eu ouvi, depois que eu fui.’
O. S. O.P.
6. i-ha inɔnɛ ɔ-ˀo ‘Ele comeu antes de ir.’
O.P O.S.
7. ɔ-kuha so dɛ-ao inɔnɛ ‘Ele soube antes, de você falar?’
O.P. O.S.
8. ɔ-hem so i-ßɛ iri ‘Ele saiu depois de apagar-se?’
O.S. O.P.
9. ɛ-r-ahɨ ramɛßɛ d-ata-i ‘Enquanto estava doente eu não andava.’
O.S O.P.
10. i-četo ramɛ ɔata ‘Quando ficou bom, ele andou.’
O.S O.P.
11. ɛ-kujan amɛ daatai ‘Eu não andava, quando estava magro.’
O.S O.P.
12. ɛ-r-aku ramɛ amonõ ßɔtat ‘Quando tiver febre, eu morrɛrɛi.’
4.7.2. Orações subordinadas condicionais
Na oração subordinada condicional, possivelmente para distinguí-la da subordinada temporal, que usa a mesma conjunção ramɛ / ame, não se usa o sistema ergativo-absolutivo e a marcação é como nos verbos independentes (ex.13 e 14).[4]
O.S. O.P.
13. a-esak amɛ a-ɟ-uke βɔtat ‘Se eu o ver, o matarei.’
O.P. O.S.
14. a-ɛdo ßɔtat ɔ-ɟiɟɛt amɛ ‘Ouvirei, se ele cantar.’
4.8. Marcação pessoal em construções circunstanciais
Nas orações iniciadas por circunstância (advérbios, sintagmas pospositivos, ou oração subordinada), provoca modificação da marcação de dois verbos independentes iča ‘estar em movimento’ e u / ɟu ‘estar situado’. Isto ocorre somente na terceira pessoa.
Com os dois verbos citados, na forma indicativa seriam assim representados:
a-iča ‘Eu estou em movimento.’
ɛrɛ-iča ‘Você está em momimento.’
ɔ-iča ‘Ele está em movimento.’
pe rupi tapiˀit ɔ-iča ‘Uma anta está no caminho’.
kwata ɔ-iča ßɔtat kuj ‘Depois o quatá estará se movimentando.’
a-ju ‘Eu estou (situado)’ ‘moro’.
ɛre-ju ‘Tu estás (situado)’ ‘moras.’
ø-u ‘Ele está (situado)’ ‘mora’.
biri u tupa ßɛ ‘O Biri está na sua morada.’
kusi kwahɛ u upa ‘A cutia ontem estava parada.’
Na forma circunstancial as frases são modificadas para iča e ocorre com marcador de pessoa ø (conjunto 2) e u é substituído por tihi.
pɛ rupi tapiˀir ɔ-iča ‘Uma anta está (em movimento) no caminho.’
ɛrupa itɨ ɔ-iča ‘Ele está (em movimento) para minha morada.’
kuriri wat-a kã abɨt ɔ-iča ‘Há tempos os nossos antepassados estavam existindo.’
tupa ßɛ tihi ‘Ele está na sua própria morada.’
kwahɛ na tihi ‘Ele estava ali ontem.’
tupa ßɛ biri tihi ‘O Biri está em sua casa (situado).’
bi tɨ tihi ‘Onde ele está (situado)?’
4.8. Prefixação reflexiva e recíproca
Quando o sujeito pratica uma ação sobre si mesmo, o prefixo reflexivo ɟi- é usado entre o prefixo pessoal e a raíz ou radical verbal
a-pito ßɔtat ‘Eu pintarei.’
a-ɟi-pito ßɔtat ‘Eu me pintarei.’
a-esak ‘Eu vejo.’
a-ɟi-esak ‘Eu me vejo.’
ɔwa esak ‘Ver a face do outro.’
ɔ-ɟi-rɔwa-esak ‘Eles estão vendo a face um do outro.’
i-bɛrai ‘Ele está / eles estão brincando.’
ɔ-ɟi-bɛrai ‘Eles estão brincando um com o outro.’
4.8. Prefixação genérica dos verbos ativos
Quando o sujeito ou o objeto é indeterminado, usa-se o prefixo da- / na-, como sujeito e pɔrɔ- como objeto.
da-buhu ‘coloca-se’
da-ata ‘anda-se’
na-ˀãrã ‘espera-se’
pɔrɔ-uke ‘nos mata; mata gente.’
pɔrɔ-ˀo ‘nos come; come gente.’
pɔrɔ-bɔahɨ ‘nos adoece; adoece a gente.’
4.9. Tempos verbais
O tempo verbal, em Zo’é, traz a diferenciação básica entre futuro e não futuro. A marcação temporal de futuro é feita por um marcador de tempo futuro, ßɔtat, ou uma combinação desse marcador com palavras de aspecto e modo. A marcação de passado é feita pela ausência de marcador de tempo passado e também pode combinar com palavras de aspecto e modo. O tempo presente só se manifesta através das formas gerundiais ou quando o contexto o determina.
Quando o tempo passado ou futuro é expecificado, os marcadores temporais combinam-se com as palavras de cenário temporal, indicando um ponto relativo na escala do tempo (passado ou futuro) a partir de um ponto zero teórico. Portanto, através dos cenários temporais, percebe-se que a ideia predominante de tempo nesta língua é de passado e futuro e o presente só é conhecido hipoteticamente.
Chamaremos de marcadores temporais aquelas partículas que anexadas à raíz verbal, nos dão uma flexão verbal explícita, e chamaremos cenários temporais às palavras e / ou contexto
Estes marcadores servem para qualquer tipo de verbos dos que já foram vistos na sessão de verbos (ativos, descritivos e predicativos). Ainda não tem sido observadas ocorrências destes marcadores com as partículas verbais afirmativas (pa, ßɛ, ßõ).
4.9.1. Marcadores temporais
1 - Presente hipotético (forma gerundial e contexto)
a-pɨk a-ɟupa ‘Eu estou sentado.’
1s-sentar 1s-estar ger.
2- Passado simples (cenário temporal de passado)
a-kit ‘Eu dormi.’
3 - Futuro simples - ßɔtat
ɔrɔ-kit ßɔtat ‘Nós (ex) dormiremos.’
4 - Futuro planejado - ßɔtatɛ
aha ßɔtatɛ ‘Daqui a pouco eu ire.’
5 - Futuro dependente - ßɔtat + rabɔt
daˀo ßɔtat rabɔt ‘Nós (inc.) comeríamos’
6 - Passado dependente - rabɔt
ɛrɛ-d-apɔ rabɔt ‘Você comeria.’
7 - Futuro condicional - ramɛ + ßɔtat
ɟ-uke ramɛ pɛ-ˀo ßɔtat ‘Se o matar vocês comerão.’
8 - Passado condicional - ramɛ + rabɔt
ɟ-uke ramɛ pɛ-ˀo ßɔtat ‘Se o matasse, vocês comeriam.’
4.9.2. Cenário temporal
kuriri Ocorre com: 2, 6, 8.
Passado remoto, ‘Há muito tempo atrás.’
kãmɛ ßɛ Ocorre com: 2, 6, 8.
Passado distante distendido, ‘Há um bom tempo atrás.’
kãme Ocorre com: 2, 6, 8.
Passado distante, ‘vários dias atrás.’
kwahɛ ßɛ Ocorre com: 2, 6, 8.
Passado regular, ‘alguns dias atrás.’
kwahɛ Ocorre com: 2, 6, 8.
Passado recente, ‘ontem, dia seguinte.’
ɟiwi Ocorre com: 2, 6, 8.
passado próximo, ‘hoje mais cedo.’
atɛ Ocorre com todos os Marcadores Temporais.
Ponto Zero Teórico, ‘agora (antes ou depois).’
õɟi Não ocorre com marcadores temporais.
Marcação genérica, ‘agora, hoje, atualmente.’
õɟi wi Ocorre com: 3, 4, 5, 7.
Futuro Imediato, ‘agora mesmo, a partir de agora.’
õɟi tɛ Ocorre com: 3, 4, 5, 7.
Futuro imediato incerto, ‘daqui a pouco, não bem agora.’
kuj Ocorre com: 3, 4, 5, 7.
Futuro próximo, ‘Hoje (depois)’
dadɛ Ocorre com: 3, 4, 5, 7.
Futuro recente, ‘amanhã, dia seguinte.’
dadɛ tɛ Ocorre com: 3, 4, 5, 7.
Futuro regular ‘amanhã ou alguns dias depoi.’
dadɛ itɨ Ocorre com: 3, 4, 5, 7.
Futuro distante, ‘além de amanhã, daqui a vários dias’
dadɛ itɨ tɛ Ocorre com: 3, 4, 5, 7.
Futuro remoto ‘daqui há muito tempo.’
Os cenários temporais de passado, kãme, passado regular próximo e kwahɛ, passado recente imediato, recebem a partícula ßɛ, "intensificador de passado", que os lança mais para trás no tempo pretérito. E, a maioria dos cenários temporais pode ainda receber a partícula ˀɛ "legitimidade", que os torna mais fixos ao sentido literal.
kwahɛ ‘ontem / dia anterior’
kwahɛ ˀɛ ‘ontem (literal)’
dadɛ ‘amanhã / dia seguinte’
dadɛ ˀɛ ‘amanhã (literal)’
O marcador de cenário temporal passado remoto, kuriri, pode ampliar o sentido de tempo através do prolongamento da vogal final.
kuriri ‘Há muito tempo’
kuriri. / kuriri: ‘Há muitíssimo tempo’
Culturalmente, é extranho ao povo contar literalmente os dias, pois não há esta preocupação, logo, todos estes cenários temporais, mais ou menos fixos, podem variar sensivelmente dentro da sua área em números de dias.
4.10. Aspectos verbais
Os aspectos verbais são expressos por palavras e partículas expecíficas, intercaladas após um tema verbal.
4.10.1. Aspecto completivo
Indica uma ação completa ou finalizada, quando o verbo é transitivo e uma participação completa de um grupo como sujeito da ação, quando o verbo é intransitivo e descritivo. Este aspecto é expresso através das partículas ba / pa.
aˀo pa ‘Comi tudo, acabei de comer.’
ɛrɛitɨk ba ‘Jogaste tudo, acabaste de jogar.’
ɔhɔ ba ‘Todos foram.’
ahɨ ba ‘Tudo está doendo.’
Quando o enfoque completivo estiver no sujeito ou no objeto de uma oração transitiva, a partícula completiva é desloca para o nome referente.
kuñã ba ɔˀo ‘Todas as mulheres comeram.’
kuñã ba ibɔdɔ ‘Todas as mulheres foram expulsas.’
4.10.2. Aspecto cursivo
Ocorre, quando a ação ainda está em andamento, com o uso da partícula iwi, que se traduz por ainda.
ahɨ iwi ‘Ainda está doendo.’
daha ßɔtat iwi ‘Não irei ainda’.
dɔhɔi iwi sa ‘Infelizmente ainda não foi.’
4.10.3. Aspecto imediato
Com o uso do termo towe após o tema verbal, expressa que a ação se transcorre no referido momento ou época.
ɔhɔ towe ‘Vai na mesma hora.’
ɔˀat, aɛ ɔmɔnõ towe ‘Ele caiu então morreu imediatamente.’
4.10.4. Aspecto pontual
O aspecto pontual é formado com a palavra ɛman, que marca o ponto de partida da ação, seja, presente passado ou futuro, podendo ser traduzido como, já, agora.
aˀo ɛman ‘Já comi. Comi agorinha.’
aha ɛman ‘Já vou. Já fui.’
4.10.5. Aspecto iminente
Quando a intenção de praticar uma ação, em um futuro próximo, especialmente em resposta a uma convocação, emprega-se o termo ßɔtatɛ, com o sentido de, em breve, daqui a pouco:
aˀo ßɔtat ‘Comerei’.
aˀo ßɔtatɛ ‘Comerei em breve’.
aha ‘Eu fui’.
aha ßɔtatɛ ‘Irei daqui a pouco’.
4.10.5. Aspecto incoativo
Constroi-se com o termo ipɨ, dando a idéia que a ação está se iniciando, ou marcando o primeiro participante da mesma.
ipɔ ɔhɔ ipɨ ‘O Ipó foi primeiro.’
kwahɛ aˀo ipɨ ‘Ontem eu comecei a comer.’
ɔpɔjra so derahɨ ‘Sarou a tua dor?’
ɔpɔjra ipɨ ‘Começou a sarar.’
4.10.6. Aspecto interruptivo ou cessativo
Quando a ação não foi completada mas é apenas interrompida, usa-se o termo iha, com o sentido de, parar de.
akit ‘Eu dormi.’
akit iha ‘Parei de dormir.’
eˀi ‘Ele disse. Ele fez.’
eˀi iha ‘Ele parou de dizer. Ele parou de fazer.’
4.10.7. Aspecto progressivo
Para expressar uma ação que se processa progressivamente, usa-se o termo erãn.
a’ku ‘Está quente.’
a’ku erãn ‘Está esquentando.’
ɔpɔjra ‘Sarou?’
ɔpɔjra erãn ‘Está sarando.’
4.10.8. Aspecto repetitivo
Para designar uma ação repetida, usa-se a palavra ɟapɨt, que significa, ‘de novo, novamente’. Outra maneira de designar este aspecto é através da reduplicação do tema verbal.
ɔrɔata ‘Nós (ex) andamos.’
ɔrɔata ɟapɨt ‘Nós (ex) andamos de novo.’
daata ‘Nós (inc.) andamos.’
daata ɟapɨt ‘Nós (inc.) andamos de novo.’
ke epi ‘O maribondo me picou.’
ke epi ɟapɨt ‘O maribondo me picou novamente.’
ɔpɔt ‘Ele pulou.’
ɔpɔpɔt ‘Ele pulou repetidamente.’
4.10.9. Aspecto frequentativo
Quando a ação é feita frequentemente ou gradualmente, mostrando um estado prolongado, ou ação que se perdura, usa-se a partícula ɟã ou reduplicada ɟãɟã, com o sentido de: sempre, continuadamente, frequentemente.
taˀo ɟãɟã ‘Tenho intenção de comer sempre.’
dahai ɟãɟã ‘Não vou frequentemente.’
4.10.10. Aspecto incompleto
Uma ação que quase se consumou é expressa pelo termo bɔtarɛˀɛ, quase, acrescido ao tema verbal.
a’a bɔtarɛˀɛ ‘Quase cai.’
aesak bɔtarɛˀɛ ‘Quase vi.’
eremõnõ bɔtarɛˀɛ ‘Quase morreste.’
4.10.11. Aspecto frustrativo
A partícula tĩ acrescentada ao tema verbal, expressa uma ação frustrada, ou uma tentaiva sem sucesso que pode ser traduzida com o sentido de ‘infelizmente’, ‘lamentavelmente’, ‘em vão’e, ‘estar frustrado com.
ɛkwa eˀi tĩ ihɨ ‘Vá. Disse frustradamente a mãe dele / dela.’
aa’ta tĩ aˀɛ aˀat ‘Infelizmente andei, então cai.’
tɔhɔ aˀɛ tĩ dɔhɔi tɨtɛ ‘Falei em vão para ele ir. Ele não foi.’
4.10.12. Aspecto infrutífero
Uma ação realizada com efeito negativo, ou seja, contrário à expectativa, usa-se a partícula ti, titi, tiso, titiso, que também se traduz por ‘infelizmente’, ‘lamentavelmente’, ‘com pesar’, etc. Ex:
mɔˀɛ nãm aˀo tiso aiɟerɛhɛ ebɔahɨ
‘Infelizmente comi algo podre, por isto me fez adoecer.’
ɔhɔ tiso aˀɛ dɔˀoi tɨtɛ
‘Lamentavelmente ele se foi, então não pode comer.’
4.10.13. Aspecto fortuíto
Uma ação feita sem propósito ou sem motivo, é expressa pelo termo tenã, que se traduz por ‘em vão’, ‘à toa’, ‘por acaso’.
bato ɔˀat ‘Como caiu?’
ɔˀat tenã ‘Caiu à toa.’
Tuɟã eˀi ‘Porque ele disse?’
eˀi tɛnã ‘Disse a toa, (simplesmente).’
ɛnɛ atɛ ɛrɛpɨhɨk ‘Foi voce que pegou?’
dapɨhɨgi ʃe iɟɨ ɛrɛ tenã ‘Eu não peguei. Você disse sem razão nenhuma.’
ɔirɨk tenã ˀɨ ‘A água escorreu por acaso.’
4.11. Modalidade verbal [5]
São várias as modalidades ou modos verbais, que podem ser agrupados em 13 grupos básicos. Muitos delas podem ocorrer em combinação com tempo e aspecto.
1. Indicativo 8. Permissivo
2. Imperativo 9. Citatório
3. Subjuntivo 10. Interrogativo
4. Desiderativo 11. Potencial
5. Condicional 12. Dubitativo
6. Intencional 13. Supositivo
7. Depreciativo
4.11.1. Modo indicativo
Exprime a ação de maneira positiva, objetiva e neutra, mas dividindo-se em ação simples, exclamativa afirmativa e negativa.
O indicativo simples, apresenta a forma verbal pura, sem nenhum modificador, exceto o marcador temporal.
aha ‘Eu fui.’
ɔˀo ‘Ele comeu.’
ɔkuha ßɔtat ‘Ele saberá.’
O indicativo exclamativo, anexa ao termo verbal a palavra exclamativa mokãi, modificando-o, apenas quanto à expressividade.
ahɨ mokãi ‘Doi! Está doendo!’
eho mokãi ‘Fala-se! Faz-se!’
O indicativo afirmativo é expresso, quando a ação verbal tem um caráter de afirmação, e manifesta-se através da partícula afirmativa na. Esta seguindo um nome, transforma-o numa expressão verbal.
ɔhɔ na ‘Ele foi.’
ɨˀ na ‘É água.’
aku na ‘Está quente.’
4.11.2. Modo imperativo
O imperativo afirmativo é construído a partir dos prefixos imperativo ɛ-, pɛ-, sa-, que substitui o prefixo pessoal nos verbos e se divide em imperativo simples, negativo ou proibitivo, concessivo e hortativo.
⇒ Imperativo simples
ɛrɛ-ɟuke ‘Você o matou.’ ɛ-ɟuke ‘Mate-o!’
pɛ-ɟuke ‘Vocês o mataram.’ pɛ-ɟuke ‘Matem-no!’
daɟuke ‘Nós o matamos.’ sa-ɟuke ‘matemos.’
ɛrɛ-ˀo ‘Você o comeu.’ ɛ-ˀo ‘Coma (você).’
pɛ-ˀo ‘Vocês o comeram’ pɛ-ˀo ‘Comam (vocês).’
da-ˀo ‘Nós comemos’ saˀo ‘Comamos (nós).’
Com os verbos descritivos usa-se os mesmos prefixos pessoais na forma imperativa.
deao ‘falas.’ deao ‘Fale!’
pedeao ‘falais.’ pedeao ‘Falem!’
Em sintagmas verbais, ambos os verbos recebem a prefixação imperativa.
ɛkwa ɛrot ‘Vá e traga!’ / ‘Vá buscar!’
ɛkwa eɟuke ‘Vá e mate!’
Em reduplicação completa, todas as partes recebem o prefixo imperativo.
eˀo eˀo ‘Comam (em sequência) um por um!’
ɛnã ɛnãn ‘Corram (um por um)!’
Em reduplicação parcial, somente a 1ª parte recebe o prefixo.
etɨtɨk ‘Trema!’
ekẽkẽrẽi ‘Arranhe!’
Em sintagmas envolvendo o modo intencional o 1º verbo recebe o prefixo imperativo.
ɛkwa tɛrɛɟuke ‘Vá para matares.’
ɛdat tɔrɔbɔju ‘Venha para eu te medicar.’
eɛdo tɛpɛkuha ‘Ouçam para conhecerem.’
A forma imperativa pode ser intensificada com o uso da partícula de ênfase ranɛ / anɛ, tute, etc., dando um caráter mais autoritário à ordem em foco com o sentido de, ‘mesmo / sem falta’.
ɛbɔɟijɛt anɛ ‘Faça-o cantar mesmo!’
ɛrɛ ranɛ ‘Faça sim!’
ɛrɛ tutɛ ‘Diga sem falta!’
⇒ Imperativo negativo
O imperativo negativo ou proibitivo é feito com a palavra negativa namɛ (não) precedendo o a forma verbal imperativa afirmativa.
namɛ ɛbuhu ‘Não coloque!’
namɛ ɛitɨk ‘Não jogue!’
namɛ pɛkwa ‘Não vades!’
namɛ pɛdapɔ ‘Não façais!’
⇒ Imperativo concessivo
O imperativo concessivo é formado com o uso do termo concessivo ɟirɛhɛ, ‘neste caso’, ‘sendo assim’, seguindo o verbo. Normalmente é resposta à uma questão anterior ou conclusão da mesma.
aha iča ‘Estou indo.’
ɛkwa ɟirɛhɛ ‘Neste caso vá. Vá então!’
aapɨk depɨke ßɛ ‘Posso sentar no seu banco?’
ɛapɨk ɟirɛhɛ ‘Pode sentar. Sentɛ-se.’
à Imperativo hortativo
A forma A forma imperativa usada na 1ª pessoa do plural inclusiva sa- é chamado de imperativo hortativo, ou seja, uma forma convidativa e mais polida de se comunicar. Essa forma vem, geralmente, precedida de um verbo auxiliar, chamado verbo múltiplo, da’e, ou em orações compostas:
saha ‘Vamos!’
daˀe saˀo ‘Vamos comer!’
saha kwata rejkê ‘Vamos caçar quatá!’
Porém, quando diante de um convite ou de uma ação premeditada, é mais comum o uso apenas do verbo múltiplo daˀe, que pode substituir qualquer outro verbo de ação, tal como:
daˀɛ ‘Vamos!’
daˀɛ ‘(Sim) vamos!’
‘daˀɛ ɟirehe’ ‘Podemos ir!’
daˀɛ sakit ‘Vamos dormir!’
daˀɛ ‘Vamos (dormir)!’
4.11.3. Modo subjuntivo
O Modo Subjuntivo é formado a partir da conjunção subordinativa condicional, ramɛ / amɛ, na oração subordinada e pode combinar com o modo condicional.
ɔesak amɛ aɟuke ßɔtat ‘Se eu vir, matarei.’
aha ramɛ aesak ßɔtat ‘Se eu for, eu vɛrɛi.’
aha ramɛ kwahɛ aɛdo rabɔt’ ‘Se eu tivesse ido ontem, eu ouviria.’
4.11.4. Modo desiderativo
É formado a partir da palavra modal, rahɨ, significando, ‘desejar, quɛrɛr’.
aˀo rahɨ ‘Desejo comer.’
aha rahɨ ßɔtat ‘Desejarei ir.’
4.11.5. Modo condicional
O Modo condicional, difere do subjuntivo, por apresentar uma ação condicionada, pelo contexto, ou pela própria intujção. É feito com a palavra modal condicional: rabɔt.
aha rabɔt ‘Eu iria, se...’
aha ßɔtat rabɔt ‘Eu irei, se...’
ɔˀo rabɔt ‘Ele comeria, se...’
4.11.6. Modo intencional
O Modo Intencional à semelhança do imperativo é construjdo através de prefixo. Porém este prefixo t-, ta- não substitui o prefixo pessoal, mas antecede-o.
taha dɛrupi ‘Tenho a intenção de ir contigo.’
taˀo aˀɛ ‘Fiz com a intenção de comer.’
Na forma negativa, nunca ocorre o morfema descontínuo, mas o negativador ˀỹm e normalmente se traduz, ‘com intençao de / para’
taha ˀỹm eˀi ‘Tenho intenção de não ir, ele disse.’
‘Para eu não ir, ele disse.’
tɔˀo ˀỹm amokanĩm ‘Escondi para ele não comer.’
‘Escondi com a intenção dele não comer.’
4.11.6. Modo depreciativo
Este Modo expressa o sentimento despreciativo do falante para com a ação, através das partículas avaliativas sa: desvalorizativa, so: reprovativa e hĩ: depreciativa.
daesaki sa ‘Não vi. (nem desejaria ver).’
ɔɟikiha sa ‘Ele morreu. (infelizmente.’
eroɨ so ‘Puxa! Estou com frio.’
aku hĩ ɟã ‘Que coisa! Ele está com febre.’
4.11.7. Modo permissivo
Este modo envolve o sentido de autorização, com o uso da palavra modal ɔkɛt, que é também um termo causativo de verbos transitivos.
akuha ɔkɛr ‘Ensinei / Fiz com que soubesse.’
ɛkuha ɔkɛr ‘Me permitiu saber / me ensinou.’
aɛdo ɔkɛr ‘Permiti ouvir. / Fiz com que ouvisse.’
4.11.8. Modo citatório
Nesta língua não se usa citações indiretas, quando uma segunda pessoa cita para uma terceira o que a primeira pessoa disse. Este modo é construjdo a partir de uma forma verbal auxiliar, que chamaremos de verbo múltiplo, que será tratado em outra sessão e que se adapta a qualquer ação verbal citada, assumindo o sentido da mesma.
aˀo rahɨ aˀɛ ‘Eu quero comer, eu disse.’
ɛpɨhɨk ɛrɛ ‘Pegue você disse.’
namɛ eɟuke eˀi ‘Não mate, ele disse!’
aɟire dawat opɔt eˀi ‘Depois a onça saltou, ele disse.’
A forma verbal auxiliar não deve ser confundida com os verbos auxiliares gerundiais, como no caso do Verbo Auxiliar Continuativo (-ɟupa), mas está sendo chamado assim, por causa de sua característica especial de auxiliar na citação.
4.11.10. Modo interrogativo
O Modo Interrogativo é formado com as partículas interrogativas, so, ba / pa, teso e ipɔ; ou através de palavras interrogativas que ocorrem no início da frase. (vide interrogação sessão 13.0)
ɔɛdo so ‘Ele ouviu?’
ɛrɛkit ba ‘Estas dormindo?’
awa ɔdapɔ ‘Quem fez?’
awa teso ɔdapɔ ‘Quem será que fez?!’
4.11.11. Modo potencial
O Modo Potencial envolve tres sentidos distintos de Potencialidade, que são: capacitativo, possibilitativo e Impossibilitativo, através de três palavras modais, respectivas: kuha ‘pode’; ɨtɛ ‘é possível’; tɨtɛ ‘não é possível’.
⇒ Capacitativo kuha
aa’ta kuha ‘Posso andar.’
ɔdapɔ kuha ‘Ele pode fazer.’
⇒Possibilitativo ɨtɛ
aha βɔtat ɨtɛ ‘Podɛrɛi ir. Possivelmente irei.’
ɔdapɔ ɨtɛ ‘Pode ter feito.’
⇒Impossibilitativo tɨtɛ
Este ocorre sempre com a forma negativa.
dɔhɔi tɨtɛ ‘Não foi possível ele ir!’
daˀoi tɨtɛ ‘Não foi possível eu comer!.
4.11.12. Modo dubitativo
Este é formado com o uso do termo dubitativo ßada, ‘talvez’ ‘possivelmente’; acrescido ao tema verbal.
aha bɔtat bada ‘Talvez eu irei.’
daha bɔtari bada ‘Talvez não irei.’
4.11.13.Modo supositivo
O Modo Supositivo é formado através do termo interrogativo Retórico, ipɔ, ou unido ao interrogativo, pa, que o antecede, ou seja, pa ipɔ, ‘suponho’. Ex:
aha bɔtat eˀi pa ipɔ ‘Ele deve ter dito: eu irei. ‘
ɔhɔ pa ipɔ ‘Suponho que ele foi.’
4.12. Verbos seriais (auxiliares)
Verbo serial é um sintagma verbal, onde mais de um verbo expressa uma só ação e tem um mesmo sujeito. É formado por um verbo principal e outro dependente. Existe uma pequena classe de verbos que servem na qualidade de auxiliar, ocorrendo contíguo ao verbo principal numa oração. Alguns deles são verbos independentes, que passam para a forma dependente.
4.12.1. Verbos intransitivos (gerundiais)
Os verbos auxiliares, quando intransitivos, marcam o movimento direcional do verbo principal, a posição e o movimento contínuo. Normalmente concorda com o verbo principal, com respeito à prefixação pessoal.
⇒ Movimento direcional
-hɔ -ha ‘indo’
-ot -dat ‘vindo.’
aɟupit aha ‘Subi indo.’
aɟupit adat ‘Subi vindo.’
ɔesak ɔot ‘Ele viu, vindo.’
ɔesak ɔhɔ ‘Ele viu, indo.’
aha wãhẽm ‘Cheguei, indo.’
adat awãhẽm ‘Cheguei, vindo.’
ɛrɛkit ɛrɛdat ‘Dormiste, vindo.’
ɛrɛkit ɛrɛha ‘Dormiste, indo.’
⇒ Ação contínua em movimento
-iča ‘Estar em movimento.’
aha iča ‘Estou indo.’
ɔata iča ‘Está andando.’
ɛrɛha reiča ‘Estás indo.’
⇒ Ação contínua sem movimento
-ɟupa / -upa / kupa
aˀo aɟupa ‘Estou comendo.’
ɛrɛˀo ɛrɛɟupa ‘Estás comendo.’
ɔˀo upa ‘Está comendo.’
daˀo dakupa ‘Estamos comendo. (incl)’
ɔrɔˀo rokupa ‘Estamos comendo. (excl)’
peˀo pɛkupa ‘Estais comendo.’
ɔˀo upa ‘Estão comendo.’
4.12.2. Verbos transitivos (não finitivitos)
Com os verbos seriados transitivos, o verbo principal recebe o marcador de sujeito, conjunto 1 e o verbo dependente o marcador de objeto, conjunto 2. Porém, quando o objeto não é marcado, ou o objeto precede o verbo dependente, este não recebe o marcador de pessoa, dando a ideia de infinitivo.
⇒ objeto marcado
aha dɛ-r-esak ‘Vim te ver.’
ɛrɛ-ha ɟ-atɨ ‘Foste plantá-lo.’
⇒ objeto não marcado
aha atɨ ‘Fui plantar.’
ɔhɔ kit ‘Foi dormir.’
ɔhɔ atɨ ‘Foi plantar.’
aha rɛsak ‘Fui ver.’
ɔhɔ reike ‘Foi caçar.’
⇒ objeto precedendo o verbo dependente
daˀɛ pirɛ rɛsak `Vamos ver o peixe!’
daˀɛ pari apɔ ‘Vamos fazer a casa!’
biri rɛsak ɔhɔ ‘Foi ver o Biri.’
4.13. Intensificação e atenuação verbal
⇒ Intensificação
Uma ação pode ser intensificada, em vários ângulos distintos, através de partículas específicas e de advérbios de intensidade, como se segue.
ahɨ - Intensifica a força da ação.
apukej ahɨ ‘Gritei alto.’
ɛbɛkɛt ahɨ ‘Force muito (com intensidade!’
ranɛ - Dá ênfase à ação.
aha ranɛ ‘Realmente eu fui.’
aˀo ranɛ ßɔtat ‘Comerei mesmo.’
tɛ - Seguindo, normalmente, outro modificador verbal realça a ação.
eho tɛ ‘É dito mesmo.’
ɔhɔ tenã tɛ ‘Simplesmente foi mesmo.’
uhu / hu - Inensifica a qualidade e a quantidade da ação, quando não há a idéia de força e nem de frequência na ação.
akit uhu ‘Dormi muito.(profundamente).’
aˀo hu ‘Comi muito.’
puku - Intensifica a duração e a extensão da ação.
aki puku ‘Dormi bastante / por muito tempo.’
ɔhɔ puku ‘Foi demoradamente / Foi longe.’
reta / eta - Determina a frequêcia da ação intransitiva e o volume do resultado da ação transitiva.
adapɔ reta ‘Fiz vários, muitos.’
akit eta ‘Dormi várias vezes.’
ˀi - Amplia o sentido de intensificação dos termos intensificadores.
akuha uhu ‘Sei muito.’
akuha uhu ˀi ‘Sei muitíssimo.’
aha puku ‘Fui longe.’
aha puku ˀi ‘Fui muito long.’
A mesma partícula sendo prolongada aumenta a sua forma de intensificação.
akuha uhu i· ‘Sei muitissimamente mais.’
akuha uhu i: ‘Sei infinitamente mais.’
⇒ Atenuação
A forma atenuativa é feita através de termos específicos também, porém mais limitada que a intensiva.
kwara (fraco, levemente) - Atenua a força da ação.
apito kwara ‘Pintei levemente.’
apukej kwara ‘Gritei fraco.’
tik / mirĩ - Atenua a duração efrequência da ação.
aˀo tik ‘Gritei pouco!’
adapɔ tik ‘Fiz pouco!’
Para enfatizar esta atenuação, sobrepõe-se os termos mirĩ ‘pequeno’ e tik ‘pouco’, dando o sentido de pouquíssimo.
aˀo mirĩ tik ‘Comi pouquíssimo!’
4.15. Qualificação da ação verbal
Com a partícula de legitimidade ˀɛ especifica-se uma ação legítima, verídica e definitva.
ɔɟuke ˀɛ ‘Ele matou de verdadɛ.’
ɔhɔ ˀɛ ‘Ele foi de vez.’
pubaha ˀɛ ‘É arco legítimo.’
4.16. Verbos irregulares
Alguns verbos são irregulares quanto à raíz verbal e à prefixação pessoal.
4.16.1. Raízes irregulares
-hɔ / -ha ‘ir’
aha ‘Eu vou.’
ɛrɛha ‘Tu vais.’
ɔhɔ ‘Ele vai. Eles vão.’
-dat / -ot ‘vir’
adat ‘Eu venho.’
erɛdat ‘Tu vens.’
ɔot ‘Ele, eles vem.’
-ɟu / -u ‘estar (posicionado).’
a-ɟu ‘Eu estou (posicionado.)’
ɛrɛ-ɟu ‘Você está (posicionado.)’
u ‘Ele está (posicionado.)’
4.16.2. Ausência de prefixação
iča ‘ter.’
tihi ‘estar.’
tɨ `existir,’
Observação: Outros exemplos serão acrescidos e este tópico será tratado com mais detalhes posteriormente.
4.17. Expressão verbal onomatopeica
A partir de um som onomatopeico, pode-se formar uma expressão verbal, com o auxílio do Verbo múltiplo, com o sentido de causar aquele som, sem contudo usar o prefixo causativo.
pũg ‘Som de algo caindo na água.’
pũg eˀi ‘Ele soou. Fez pũg.’
tapũg eˀi ‘Com a intenção de fazer pũg.’
bɔk ‘som de um tiro’
bɔk eˀi ‘Ele atirou. / Ele fez bok.’
bɔk aˀɛ ‘Eu atirei. /Eu fiz bok.’
5.0. MODIFICADORES NOMINAIS [6]
Na língua Zo’é, não há uma categoria específica de adjetivos, embora exista um processo de adjetivação na formação de alguns tipos de sintagmas nominais. Portanto, este papel é desempenhado por raízes verbais descritivas pospostas aos nomes com função de adjetivadores (qualificadores dos nomes). Os MODIFICADORES subdividem-se em modificadores descritivos e quantificadores que podem ser numéricos e não numéricos. A maioria desses radicais adjetivadores são neutros e não segue nenhuma concordância com os nomes aos quais modifica (ex.1-3). Porém, seguindo nomes definidos como masculinos e femininos e nesses casos radicais diferentes são usados (ex.4 e 5).
5.1. Modificadores descritivos
Os modificadores descritivos, por sua carga semântica são classificados como adjetivadores, subdivididos em neutros e ou diferenciados: masculino e feminino.
5.1.1. Adjetivadores neutros
1. puku ‘comprido’ kubɛˀɛ puku kuɟã puku
homem alto mulher alta
2. pua ‘curto’ kubɛˀɛ pua kuɟã pua
homem mediano mulher mediana
3. hɔhɔi ‘grande’ kubɛˀɛ hɔhɔi kuɟã hɔhɔi
homem grande / gordo mulher grande / gorda
5.1.2. Adjetivadores diferenciados: masculino e feminino
4. taimĩ ‘velho’ kubɛˀɛ taimĩ `homem velho’
5. tasiča ‘velha’ kuɟã tasiča `mulher velha’
5.1.3. Classe dos adjetivadores
A maioria dos adjetivadores são orindos de temas verbais descritivos e pertencentes Classe I e se ligam diretamente aos nomes.
nã kit ‘castanha tenra’
kwata nãm ‘quatá podre, estragado’
wɨjrɛ apat ‘árvore torta’
wɨjrɛ ɟuk ‘árvore podre’
Outros derivam-se de temas verbais descritivos e pertencentes Classe II e mantêm sua forma básica, iniciada por prefixo marcador desta classe t- / tɛ- ou pelos prefixos ligadores r- / d- / n-.[7]
uruku t-ahɨ ‘mertiolate, mercúrio ardido’
tuwai t-eˀãm ‘rabo levantado’
paka t-ẽ’ẽ ‘banana doce’
pirɛ r-uhu ‘peixe grande’
5.1.4. Qualificação comparativa
O processo de qualificação comparativa é feito a partir do acréscimo de radicais pospositivos acrescidos um radical adjetivador, formando um sintagma comparativo. A forma comparativa pode ser de igualdade, de superioridade e de inferioridade.
A comparação de igualdade é feita com o acréscimo da partícula ßɛ / pɛ ao radical adjetivador (ex.6 e 7).
6. wɨjrɛ puku ßɛ ‘do comprimento da árvore comprido’
árvore comprida em
7. iɟɨ wa’te pɛ ‘da minha altura’
eu alto em
Já a comparação de superioridade é feita com o acréscimo do sintagma pospositiva ˀat ɨtɨ ‘acima de’(ex.8-10)
8. kuanĩ puku ˀat ɨtɨ ‘mais alto do que o menino’
menino comprido sobre para
9. pirɛ hɔhɔi ˀat ɨtɨ ‘maior do que o peixe’
peixe grande sobre para
10. ɛ-watɛ ˀat ɨtɨ ‘mais alto do que eu’
1s alto sobre para
Da mesma forma a comparação de inferioridade é feita com a locução pospositiva wɨt ɨtɨ ‘abaixo de’ (ex. 11 e 12)
11. i-hɔhɔi wɨt ɨtɨ ‘menor do que ele’
3 grande sob para
12. dɛ-puku wɨt ɨtɨ ‘menor do que você’
2s comprido sob para
A modificação pode ser também relativa e é feita através dos termos relativadores ao ‘mais ou menos’ ßɛßɛt ‘um pouco’ (ex. 13 e 14).
13. i-puku ao ‘É relativamente comprido. Não é tão comprido.’
3 comprido rel
14. i-pɔhɨj ßɛßɛt ‘É um pouco pesado.’
3 pesado relr
5.2. Modificadores quantitativos
Os quantificadores numéricos (numerais) são bem limitados nesta língua, sendo confirmado somente até o número cinco (5), o que dificulta serem conceituados como mais uma categoria gramatical. Por essa razão estão sendo classificados como subcategoria dos modificadores. Estes podem ser usados modificando um nome (ex.1 e 2), ou como núcleo de uma oração afirmativa seguido de uma partícula afirmativa (ex. 3 e 4).
5.2.1. Quantificadores núméricos
pehĩ ‘um’
kojtĩ ‘dois’
nirõj ‘três
erikwatɛ ‘quatro’
nopuˀã uhu ‘cinco’
1. pehĩ kuanĩ ɔhɔ kejɟã itɨ ‘Um menino foi para Keiɟã,’
um menino foi Keiɟã para
2. nirõj kwata kwahɛ aˀo ‘Ontem eu comi três quatás.’
três quatá ontem comi
3. kojtĩ na ‘São dois.’
dois afir
4. ɛrikwatɛ na aesak ‘São quatro os que eu vi.’
quatro afir vi
Para se formar os números cardinais, lança-se mão do referencial genérico wat acrescido ao numeral ordinal.
pɛhĩ wat ‘o primeiro’
kõjtĩ wat ' segundo’
nirõj wat ‘o terceiro’
ɛrikwatɛ wat ‘o quarto’
nopuˀã uhu wat ‘o quinto’
5.2.2. Quantificadores não numéricos
Os quantificadores não numéricos são radicais que expressam a ideia de quantidade não contável, mas necessária à demonstração numérica nos nomes, tais como muitos, poucos, alguns, mais, menos, etc. Alguns desses quantificadores conhecidos são:
-ɛta ‘muitos’
tik ‘pouco’
Exemplo:
Pergunta: Mõ rɛta kujbɛˀɛ ɔhɔ ‘Quantos homens foram?
Resposta: ɔhɔ ɛta ‘Foram muitos’
tik ‘poucos’
ɔhɔ tik ‘Foram poucos’
6. POSPOSIÇÃO
As posposições são relacionadores, que seguem um nome ou pronome e indica uma relação entre o termo referente e o restante da oração.
Sempre que as posposições ligam pessoas como termos principais, se não é citadada a pessoa, elas recebem a prefixação pessoal do conjunto 1 e 2, sendo o mesmo caso com nomes, quando estes não são citados.
6.1 Raízes pospositivas:
1. tedɔtat adiante, antecedendo a
2. tekipɔt após, pospondo a
3. pe / me em, no(a), de
4. rɛhɛ a respeito de, afim de, junto a, sobre
5. wi de, origem
6. kotɨ para lá de,
7. kiwɔ para cá de,
8. rupi com, pelo, através de, (em movimento)
9. puri junto com, ao lado de, contíguo a
10. pupɛ / ßɛ junto com, dentro de, com (instrumento)
11. ˀat sobre, em cima de
12. wɨt sob, embaixo de,
13. kɨtɨ / ɨtɨ na direção de, para
14. ßɛ / upɛ para
Semântica Glosa Tradução Exemplos
Companhia rupi com, junto com aha ßɔtat dɛrupi
(em movimento) ‘Irei contigo.’
puri com, junto de ɛro puri apɨjta ßɔtat
(permanência) ‘Ficarei com meu pai.’
pupɛ / ßɛ com, junto, ao lado ɛrɛkwat-a pupɛ ɔ’a upa
(em ou no mesmo lugar) 'Está deitado com sua esposa.'
Benefício ßɛ / upe para, a, ao aubeˀo ßɔtat dɛbɛ
‘Darei a você.’
araha ßɔtat ɟupɛ
‘Levar-lhɛ-ei.
comparação pe / ßɛ para bato teso ɛnɛ dɛßɛ
correspondencia ‘Como é na sua opinião?’
‘Como é para você?’
meio' rupi pelo pɛ rupi tɛ iɟɨ aha
‘Fui pelo pique mesmo.’
ˀɨ rupi adat
‘Vim pelo rio.’
maneira rɛhɛ à, ao, no, (a) ɟakã rɛhɛ pehit wireha
‘Levou minha mochila na cabeça.’
causa rɛhɛ por causa de, porque derɔrɨj tɨtɛ derɛhɛ
‘Estou triste por sua causa.’
etãimĩ rɛhɛ daɟuke kuhai
‘Não posso matar porque estou
velho.’
finalidade rɛhɛ afim de, por, para ɟitɨk-a rɛhɛ adat
‘Vim afim de batata doce!’
derɛhɛ amõ’ẽ aɟupa
‘Estou olhando para você.’
direção kitɨ / itɨ / tɨ na direção de ɔhɔ dekitɨ
‘Foi em sua direção.’
a, para ɛkwa ičitɨ
‘Vá a ele!’
kiwɔ para cá de ɛdat kiwɔ itɨ
‘Venha para cá!’
ˀɨ mirĩ kiwɔ
‘do lado de cá do rio’
kotɨ para lá de ɛkwa kotɨ itɨ
‘Vá para lá!’
er’apɨj kotɨ
‘pra lá do meu tapiri’
posição wɨt sob, em baixo de deɟiwa wɨt
‘debaixo de seu braço’
ˀat sobre, em cima apɨrũ ɟu ˀat
‘Pisei sobre um espinho.’
kupɛ atrás de dekupɛ
‘atrás de você’
dekupɛ itɨ ɔhɔ
‘Foi para trás de você.’
ordem tekipɔt a seguir de, ɛrɛha aˀɛ dɛrɛkipɔt ɔwãhẽm
depois de, após ‘Você foi, daí após você
ele chegou.’
tedɔtat antes de, primeiro biri ɔhɔ ɛrɛdɔtat ramũ aɟire
adiante de iɟɨ aha
‘O biri foi depois de mim,
depois eu fui.’
lugar pe / mɛ em, no(a) (expecífico) erupa ßɛ
‘em minha casa’
akaj tɔj tapiri ßɛ akit
‘Dormi no tapiri do Estojo.
itɨ em, no(a) (geral) kejɟã itɨ apɨjta
‘Fiquei na região de kejnã.’
posição pupɛ / ßɛ ‘em, na(o) dentro ˀɨ ßɛ dakare iča
‘Jacaré vive dentro da água.’
aha ipupɛ
'Posso entrar (na sua casa) ?’
procedência βi de ( tal lugar, alguém) dewi ɔkiɟɨ
/ origem ‘Está com medo de você.’
namɛ epɔhit ɟuwi
‘Não largue dele / dela!’
Ki tɨ wi adat
‘Vim de lá.’
posição relativa rupi / upi de frente para ɛrupi čɛto ihu ɔpɨjta
‘O veado parou bem de frente
para mim.’
βi de costas para deβi te ɔapɨk
‘Sentou-se de costas para você.’
rɛhɛ junto de, junto ao tata rɛhɛ ɔapɨk
'Sentou-se junto ao fogo.
duração pupɛ / pe durante, no períɔdo kojtĩ ˀaro pɛ akisiwɛt iča
‘Escrevi durante dois dias.’
6.2. Sintagmas pospositivos
1. kɨ tɨ wi direção de origem
2. ɛe wi / mɛ wi lugar de origem
3. ˀat itɨ de melhor qualidade, mais alto,
4. ˀat pɛ em cima de (expecífico)
5. ˀat ußɛ em cima de (não expecífico)
6. ˀat rupi por cima de
7. wɨt ɨtɨ de pior qualidade, mais baixo,
8. wɨt pɛ embeixo de (expecífico)
9. wɨt rupi por baixo de
10. kotɨ tɨ direção para lá
11. kiwɔ tɨ direção para cá
13. kupɛ itɨ para trás de
14. tɔwa pɛ perante
Na seção de sintagmas será tratado também o caso de sintagmas pospositivas.
6.3. Afixação das posposições
As posposições, também se dividem em Classes I e II e quando ocorrem na oração sem um termo referente, a relação com a oração é feita através da prefixação pessoal do conjunto 2, de acordo com o sistema de prefixação nas Classes.
7.3.1. Posposições da Classe I
puri ‘junto de, contíguo a, com’
ɛ-puri ‘comigo, junto de mim
dɛ-puri ‘contigo, junto de ti’
i-puri ‘consigo, junto dela / dele / dela’
nɔnɛ-puri ‘conosco, junto de nós (inc.)’
ɔrɛ-puri ‘conosco, junto de nós (exc.)’
pɛ-puri ‘convosco, junto de vós’
i-puri ‘junto dele / delas / delas’
7.3.2. Posposições de Classe II
tɛ-kipɔt ‘após, depois de’
ɛ-rɛ-kipɔt ‘após mim’
dɛ-rɛ-kipɔt ‘após ti’
kipɔt ‘após ele/ela’
nɔnɛ-rɛ-kipɔt ‘ após nós, (in)’
ɔrɛ-rɛ-kipɔt ‘após nós (ex)’
pɛ-dɛ-kipɔt ‘após vós’
kipɔt ‘após eles / elas’
rupi ‘com, companhia’
ɛ-r-upi ‘comigo’
dɛ-r-upi ‘contigo
upi ‘com ele, ea’
nɔnɛ-r-upi ‘conosco, (in)’
ɔrɛ-r-upi ‘conosco, (ex)’
pɛ-d-upi ‘convosco’
upi ‘com eles / elas’
Observação: As posposições da Classe II são rupi, rɛhɛ, tekipɔt, tedɔtat. As demais são de Classe I.
7.0. ADVÉRBIO[8]
Os advérbios são palavras, que modificam os verbos com relação ao tempo, lugar e qualidade da ação. São termos não flexionáveis e ocorem no nível da oração.
7.1. Classificação
8.1.1. Advérbio de tempo
kuriri ‘antigamente’
kã mɛ ‘algum tempo atrás’
kwahɛ ‘ontem (o dia anterior)’
kuj ‘hoje (depois, mais tarde)’
ɟiwi ‘hoje (antes)’
õj ‘agora’
dadɛ ‘amanhã ( o dia seguinte)’
7.1.2. Advérbio de lugar
aiči ‘aqui’
abi ‘ali’
wỹ ‘lá’
wỹi ‘lá, (mais distante)’
7.1.3. Advérbio de modo
kɛto ‘bem’
rao ‘mal’
tute ‘perfeitamente’
uhu ‘muito’
tɨk ‘pouco’
ao ‘relativamente’
7.2. Exemplificação
1. a-ha ßɔtat dadɛ ‘Eu irei amanhã.’
1s-ir fut amanhã
2. aiči a-kit ‘Eu dormi aqui.’
aqui 1s-dormir
3. ɛrɛ-kuha kɛto ßɔtat ‘Você saberá bem.’
2s-saber bem fut
8. CONJUNÇÃO
As conjunções são palavras não flexionáveis usadas em orações coordenadas e subordinadas.
8.1 Conjunções coordenativas
As conjunções coordenativas ligam orações que não sejam dependentes uma da outra e podem ser adversativas, sequenciais e conclusivas.
8.1.1. Adversativas
aɟireßɛ ‘mas, porém, todavia, contudo’
dapɔtari aɟireßɛ areka ‘Eu não gosto, todavia o possuo.’
aˀo aɟireßɛ nepũni ‘Eu comi, porém não estou satisfeito.
reßɛ ‘mesmo assim, mesmo com’
ipɔhɨj reßɛ araha ‘Mesmo estando pesado, o levei.’
depɨpije reßɛ ɛrɛjupit ‘Mesmo estando de sapato, você subiu.
8.1.2. Conclusiva sequencial
aɛ ‘daí, então, aí’
ɔki ba aɛ opak ‘Ele terminou de dormir, daí acordou.
ɔhɔ aɛ ɔesak ‘Ele foi e o viu.’
8.1.3. Conclusiva consequente
ajɟerɛhɛ ‘por isto, portanto, por esta razão’
ɔɛdo kɛto ajɟerɛhɛ ɔkuha ‘Ele ouviu bem, por isto ele sabe.’
dɔhɔi ajɟerɛhɛ dɔˀoi ‘Ele não foi, portanto não comeu.’
9.1.4. Sequencial
aɟire ‘depois, a seguir’
tapɨj ɔdapɔ aɟire ɔkit ipupɛ ‘Ele fez sua casa, depois dormiu nela.
kwata ɔɟuke aɟire kɨkɨ ɔesak ‘Ele matou o Kwata, depois ele viu o Guariba.’
8.2. Conjunções subordinativas
As conjunções subordinativas ligam duas orações, subordinando-as uma a outra, e abrangem as seguintes classes:
8.2.1. Temporal
ramɛ / amɛ quando
aɛdo ßɔtat eha ramɛ ‘Eu ouvirei quando for.’
iri depois
akuha deao iri ‘Eu soube depois de você dizer.’
inɔnɛ antes de...
aesak eha inɔnɛ ‘Eu o vi antes de eu ir.’
ramɛßɛ/amɛßɛ enquanto
ɛrɛka ˀỹm ameßɛ ɔɟikiha ‘Enquanto eu não ehistia ele morreu.’
8.1.2. Condicional
ramɛ / amɛ ‘se’
aha ramɛ aesak ßɔtat ‘Se eu for, eu o vɛrɛi.’
9. PARTÍCULAS
Partículas são radicais, que preencherem posição em nível superior ao nível da palavra (locução, oração, período ...), mas não podem ser consideradas como palavras porque não ocorrem de de forma isolada, ou seja são dependentes de palavras para seu significado semântico. Elas se agrupam em várias categorias como se segue:
9.1. Partículas modais
rahɨ modo desiderativo
okɛt modo permissivo
kuha modo potencial
rabɔt modo condicional
9.2. Partículas de aspecto
ba / pa aspecto completivo
iwi aspecto cursivo
towɛ aspecto imeiato
ɛman aspecto pontual
ßɔtatɛ aspecto iminente
bɔtarɛˀɛ aspecto incompleto
erãn aspecto progressivo
niɟã aspecto frequentativo
japɨt aspecto repetitivo
9.3. Partículas de negação
ruã qualificativa
ˀỹm conjuntiva
9.4. Partículas avaliativas
ti / titi infrutífera (efeito indesejado)
tĩ frustativa (contrário ao esperado)
sa / usa depreciativa
so reprovativa
9.5. Partículas de intensificação, enfase e qualidade
te realce
tɨtɛ ênfase negativa
ranɛ - anɛ realidade e ênfase
ahɨ intensificação de força
ˀi intensificação de qualidade
ˀɛ veracidade e legitimidade
rãn ilegitimidade
9.6. Partículas interrogativas
so simples
pa / ba de confirmação
teso retórica responsiva
ipɔ retórica supositiva
9.7. Partículas de atestamento da afirmação
pɔka / ka atestada pelo narrador
remĩ não atestada pelo narrador
ipõj supostamente atestada
9.8. Partículas interjeitivas
hã ‘admiração’
mɔkãi ‘exclamação’
bɔka ‘assentimento, concordância’
hĩ ‘desakrado’
hũ ‘dúvida’
wirɨ ‘animação’
9.9. Partículas diversas
baˀɛ / paˀɛ expositiva
dawɔ / ɟawɔ explicativa
nõe / ɟõe retrɔativa comparativa
aßɛ aditiva de companhia
tej / atej aditiva sequencial
dãm supositiva
bada dubitativa
dɛpɛ determinante global
tɨ / dɨ ajuntamento coletivo
arɛt referencial passado
rãm referencial futuro
ramũ referencial presente
wat nominalizador adverbial
10. NEGAÇÃO
Em Zo’é existem três tipos de negativadores, que são usados para formar sentenças negativas na forma declarativa e afirmativa e um negativizador das orações imperativas.
10.1. Negação de sintagma verbal em orações independentes.
Feita a partir de um morfema descontínuo d/n/...i/j, isto é, composto por uma parte prefixa ao primeiro termo e outra sufixa ao último termo do sintagma verbal (ex.1-9).
A parte do morfema que vem prefixada ao verbo varia de acordo com os temas: d- ocorre com temas orais (ex.1-5) e n- ocorre com temas nasais (ex.6 e 7). Também –i ocorre seguindo temas de consoante final e –j (ex. 1, 2, 4, 7, 8 e 9) segue os terminados em vogal. (ex. 3, 5 e 6). Com temas começados por consoantes ocorre uma vogal epentética ligando o morfema negativo ao tema (ex. 8 e 9)
1. akuha ‘eu sei’
d-akuha-j ‘eu não sei’
2. akuha rahɨ ‘eu quero saber’
d-akuha rahɨ-j ‘eu não quero saber’
3. ɛrɛkuha ßɔtat ‘saberás’
d-ɛrɛkuha ßɔtat-i ‘não saberás ‘
4. ɔˀo bada ‘talvez comeu’
d-ɔˀo-j bada ‘talvez não comeu’
5. ɔkɨt βotat bada aman ‘talvez chova’
d-ɔkɨt βɔtat-i bada amãn ‘ talvez não chova’
6. anupã uhu rabɔt ‘eu bateria muito’
n-anupã uhu rabɔt-i ‘eu não bateria muito’
7. akwã ‘ele tem ponta’
n-akwã-j ‘ele não tem ponta’
8. kibuku ‘é longe’
d-a-kibuku-j ‘não é longe’
9. hãj ‘ele tem dente’
n-a-hã-j ‘ele não tem dente’
10.2. Negação de orações descritivas e predicativas
Neste caso a negação é feita pela partícula ruˀã com o sentido literal de ‘não é’, ‘ao contrário’ (ex.10-13). Esta negação possibilita a formação de antônimos de qualquer tipo de nome.
10. kujbɛˀɛ ‘homem’
kujbɛˀɛ ruˀã ‘Não é homem (mulher, espírito, etc).’
11. ipuku ‘comprido’
ipuku ruˀã ‘curto’ / Não é comprido’
12. iɟɨ ‘eu’
iɟɨ ruˀã ‘eu não’ / Não sou eu’
13. aˀɛ so aũi ‘é aquele lá?’
aˀɛ ruˀã ‘Não é ele’
10.3. Negação de orações dependentes, nominalizadas e qualificativas
Em oracões dependentes e nominalizadas, usa-se o negativador ˀỹm seguindo sílabas abertas e ɨˀỹm apos sílabas fechadas.
10.3.1 Negação de orações dependentes
ɛmɛ’ẽ tɔˀo ‘Dê para ele comer.’
namɛ ɛmɛ’ẽ tɔˀo ˀỹm ‘No dê, para que ele não coma.’
namɛ ɛdaˀi tɔˀo dawɔ ‘Não tampe, para que ele coma.’
ɛdaˀi ranɛ tɔˀo ˀỹm dawɔ ‘Tampe bem, para ele não comer.’
ˀɨ ˀỹm amɛ amonõ ßɔtat ‘Não havendo água, desfalecerei.’
daičai pɔrɔ bɔjuha neto ˀỹm amɛ 'Não havia medicamentos,
quando o Anestor não estava aqui..’
10.3.2 Negação em nominalização de objeto
ɛrɛbido ˀỹm ‘Aquilo que eu não ouvi.’
ɛrɛbičuha ˀỹm ‘O que eu não conheço.’
ɛrɛbiʃɛk ɨˀỹm ‘O que eu não vi.’
ɛrɛbiˀɔk ɨˀỹm ‘O que eu não vi.’
10.3.3. Negação em expressões qualificativas
kubɛˀɛ kɛto ‘homem bom’
kubɛˀɛ kɛto ˀỹm ‘homem mau’
kuɟã kitipot ‘mulher bonita (agradável)’
kuɟã kitipot ɨˀỹm ‘mulher feia (desakradável)
10.4. Negação de orações imperativas
A negação de uma sentença imperativa é feita com o acréscimo do termo namɛ antecedendo ao verbo marcado com os prefixos imperativos ɛ- ‘2s’ e pɛ- ‘2pl’.
namɛ ɛ-pɨhɨk ‘Não pegue!’
namɛ pɛ-pɨhɨk ‘Não peguem!’
namɛ ɛ-põjčã ‘Não mexa!’
namɛ pɛ-põjčã ‘Não mexam!’
namɛ ɛ-kwa ‘Não vá!’
namɛ pɛ-kwa ‘Não vades!’
11. INTERROGAÇÃO
A interrogação nesta língua é feita através de palavras interrogativas usadas no início da sentença, ou de partículas interrogativas, que são usadas após o termo interrogado. Porém pode ocorrer uma combinação dos dois processos de interrogação.
11.1. Famílias semânticas de palavras interrogativas.
Estas famílias são representadas pelas cinco palavras interrogativas primitivas e encabeçadas por elas como termos mais genéricos da família e, a partir delas, são acrescentados os termos cada vez mais específicos.
11.1.1. Família protótipa
A família mɔˀɛ ‘o que?’ ‘que’
1. mɔˀɛ ɛreɟuke ‘O que você matou?’
2. mɔˀɛ pe ɛreɟuke ‘Com que você matou?’
3. mɔˀɛ tɛrɛha ‘A fim de que você veio?’
4. mɔˀɛ aũj ‘O que é aquilo?’
A família mõg ‘qual’
1. mõg bɔk-a pe ɛrɛɟuke ‘Com qual arma de fogo você o matou?’
2. mõg dɛrɛrɛkwat ‘Qual é a sua esposa?’
3. mõg kubɛˀɛ ne depaiwat ‘qual dos homens é seu marido?
A família bi ‘onde?’
1. bi pɛ ‘onde (local expecífico)?
2. bi tɨ ‘para onde? onde (local não expecífico)
3. bi tɨ wi ɔot ‘De onde ele veio?’
A família awa ‘quem?’
1. awa ɔot ‘Quem veio?’
2. awa ɔɟuke ‘Quem o matou?’
3. awa kujbɛˀɛ ɔdapɔ ‘Quem fez homem?’
A família bato ‘como’
1. bato ‘Como?’
2. bato dapɔtu ‘Como se usa?’
3. bato ɛrɛkuha ‘Como você sabe’
11.1.2. A família derivada
São expressões interrogativas que se compõe de palavra interrogativa mais uma palavra ou expressão, que, no conjunto, formam um sentido diferente do original.
bato ‘como’ + ha ‘nominalizador de acontecimento = batɔha
1. batɔha kusi buburu ɔˀo ‘Em que circunstância a cutia come buburu?’
2. batɔha kwata reɟuke ‘Em que circunstância você mata kwata?’
3. ɛrɛˀo so bɔj ‘Você come cobra?’
aˀo ‘Como’
batɔha ɛrɛˀo ‘Em que ocasião você come?’
eremiˀũ ˀỹm eßɛ aˀo ‘Quando não tem comida eu como.’
bato ‘como’ + ɟawo ‘explicativo’
1. bato ɟawo ihu daičai ‘Como se explica não haver veados?’
2. aha ˀɛ ranɛ ßɔtat ‘Vou embora mesmo’
bato ɟawo ‘Qual o motivo? (há explicação?)’
mõg ‘qual’ + tujã ‘porque’ = mõtuɟã ‘qual o motivo?’
mõg ‘qual’ + ramɛ ‘quando’ = mõramɛ ‘Em que tempo?’ ‘quando?’ ‘Em que época?’
mõg ‘qual?’ + teta ‘muitos’, ‘tantos’ = mõreta ‘quantos?’, ‘que tanto?’
11.2. As construções interrogativas
Além destas que chamamos de famílias primitiva e derivada, que nos dão a idéia de uma palavra interrogativa simples, existem ainda as construções, que aprofundam bem mais o alcance da pergunta e que se traduz às vezes, como frases interrogativas. Daremos aqui apenas alguns exemplos, mas a lista mais completa será apresentada na próxima seção,"uma lista sugestiva".
mõ rupi ‘por onde?’
mõ rupi ɔhɔ ‘por onde ele foi?’
mõg-a pɛ ‘com qual?’
mõg-a pɛ ɔkisi ‘Com qual ela cortou?’
awa rupi ‘Com quem?’
awa rupi ɔhɔ ‘Com quem ele foi?’
bi itɨ ‘para onde?
bi itɨ ɔɛdo ‘Para onde ele ouviu?’
awa βi ‘de quem?’
awa βi ɔkiɟɨ ‘Ficou com medo de quem?’
mɔˀɛ ßɛ ‘com que?’
mɔˀɛ ßɛ ɔɟuke ‘Com que ele matou?’
Observação: Estas são construções simples que podem ser extremamente ampliadas pelo acréscimo de outros termos de contexto, que criarão não só construções maiores, mas também sentidos bem mais específicos.
A seguir veremos uma lista que não é exaustiva, mas que nos dá uma boa gama de informação a respeito da especificidade da interrogação. Por especificidade entendemos a capacidade que a língua tem de ir cada vez mais fundo e especificamente, ao encontro das respostas necessárias.
11.3. Uma lista sugestiva
Da família mɔˀɛ ‘o que?’
Da família mõg/mõ ‘qual?’
1. mõg ‘qual?’
2. mõg aˀɛ ‘qual é (ele)?’
3. mõ aˀɛ ram ‘qual será (ele)?
4. mõ ßɛ ‘para qual?’
5. mõ aˀɛ ßɛ ‘para qual dele / delas?’
6. mõ rɛhɛ ‘sobre qual?’
7. mõ aˀɛ rɛhɛ ‘sobre qual dele / delas?’
8. mõ rapijar ‘como qual dele / delas?’
9. mõ aˀɛ rapije r ‘como qual dele / delas?’
10. mõ da ‘igual a qual?’
11. mõ aˀɛ da ‘igual a qual dele / delas?’
12. mõg-a ßi ‘de qual (origem)?’
13. mõg-a pe ‘ɛm qual lugar? onde?’
14. mõ pe ßi ‘de qual lugar de origem?de onde
15. mõ ɟuj ‘de qual/de que tamanho?’
16. mõ aˀɛ ɟuj ‘do tamanho de quem?’
17. mõ duger ‘qual sexo?’
18. mõ puku ‘de que comprimento?’
19. mõ puku ßɛ ‘de que estatura? (de que idade?)’
20. mõ buku ‘qual a distância?’
21. mõ buku ßɛ’ ‘ɛm que distância?’
22. mõ rupi ‘por onde?’’através de qual caminho?’
23. mõ pe ‘com qual?’ (com que?)’
24. mõ awa ‘qual pessoa?’
25. mõ aˀɛ bukußɛ ‘a distância de quem?’
26. mõ aˀɛ ßi ‘de quem?’
Da família bi ‘onde?’
Da família awa ‘quem?’
Da família bato ‘como?’
11.4. Interrogativo x não interrogativo
Neste ponto vamos apenas mencionar o fato de que algumas palavras interrogativas podem se excluir deste contexto assumindo a forma não interrogativa indicando indefinição.
Até onde já foi observado são as seguintes:
Interrogativas Não Interrogativas
awa ‘quem?’ awa ‘alguém’
mɔˀɛ ‘o que?’ mɔˀɛ ‘alguma coisa’
bi itɨ ‘onde?’ bi itɨ ‘alguma direção, vaga’
Observação: Não foi determinada a qualidade da modificação de ki. Contudo o mesmo sentido é observado em outras construções interrogativas que podem ter seu sentido alterado para não interrogativa, com características de indefinição, idéia vaga, distante, a partir da partícula ki.
mõg buku ßɛ ki buku
‘a que distância?’ ‘longe, distante, indefinido’
Esta hipótese ainda será averiguada e fica sujeita a confirmação.
Ainda, pode-se transformar a palavra interrogativa em termo não interrogativo pelo acréscimo de ‘kɛto’, (Termo indefinidor).
awa ‘quem?’ awa kɛto ‘alguém’
bi tɨ ‘para onde?’ bi tɨ kɛto ‘para algum lugar’
mõ da ‘como qual?’ mõ kɛto da ‘como alguém’
mɔˀɛ ‘o que?’ mɔˀɛ kɛto ‘alguma coisa’
Ainda não foi observada ocorrência com as demais palavras ou construções interrogativas.
11.5. Orações com partículas interrogativas
11.5.1 Interrogação Simples
Em frase Interrogativa, sem palavra interrogativa, a partícula so funciona com um ponto de interrogação, aplicando seu sentido à parte a ser questionada pela sua colocação logo após esta.
Quando no final de frase, so normalmente recebe tom baixo-descendente, mas quando em meio de frase, normalmente leva o mesmo tom da palavra a qual está ligada ou um pouco mais alto ficando o tom baixo manifesto no final da frase.
ɛrɛ ɟuke so ‘Você o matou?’
ɛnɛ so ɛrɛ ɟuke ‘Foi você quem o matou?’
ɛrɛ ɟuke so kwata ‘Você matou o quata?’
kwata so ɛrɛ ɟuke ‘Foi macaco que você matou?’
ɛnɛ so kwata ɛrɛ ɟuke ‘Foi você que matou o macaco?’
ɛnɛ so ‘Foi você?’
11.5.2 Interrogação retórica
Até agora têm sido encontrados pelo menos três tipos de pergunta retórica.
⇒ Palavra interrogativa + ipɔ:
A pessoa que pergunta faz uma pergunta autêntica mas a mesma é formulada de forma indireta, pressupondo que o ouvinte não poderá ou não quɛrɛrá responder ou que não é possível dar uma resposta.
awa ipɔ sakãg ɔrɛka ‘Quem será que tem uma arara?’
Ainda ao se defrontar com uma pergunta que ele não pode ou não quer responder, ele poderá formular uma pergunta em resposta:
Perg. awa ipɔ sakãg ɔɛrɛka ‘Quem será que tem uma arara?’
Resp. awa ipɔ ‘Quem será?’
Perg. bi tɨ ipɔ tapuˀãi ɔhɔ ‘Para onde será que os Tapuˀãi foram?’
Resp. bi tɨ ipɔ ‘Para onde será?’
⇒ Palavra interrogativa + so
Numa pergunta onde existe a palavra interrogativa, a sobreposição de so traz o sentido de ‘eu me pergunto’, quando não se entende o propósito de algo ou quando se sente dificuldade em ver um bom motivo para aquilo: Ex:
awa so ɔdapɔ kuha ‘Eu me pergunto quem poderia fazê-lo?’
⇒ Partícula interrogativa + teso
Também expressa uma pergunta retórica, já que não se espera ou não se exige uma resposta. Embora teso expresse a fato de que não se sabe a resposta a uma pergunta formulada e esta então é desenvolvida em forma de pergunta.
Perg. awa ɔɟuke ‘Quem o matou?’
Resp. awa teso ɔɟuke ‘Quem foi que o matou (não sei)’
Perg. bitɔhɔ ‘Onde eles foram?’
Resp. birɨ teso ɔhɔ ‘ Onde eles foram (não sei)?’
Uma diferença básica entre so e teso, ainda que há mujta semelhança entre os dois, é que teso nunca é usado para pɛ- dir informação simples e so somente no caso anterior.
ɛrɛkuha so ‘Você sabe?’
awa teso ɔkuha ‘Quem é que sabe (sei lá)?’
11.6. Interrogação confirmativa: pa / ba
Cria também um tipo de pergunta retórica porque a resposta já é conhecida quase com certeza, mas o falante espera que a resposta seja a que ele deseja e não a resposta óbvia e natural.
ɛrɛha ßɔtat oso ba ‘Então você irá? (espero que sim)
ɛrɛkit ßa ‘Você está dormindo? (espero que não)
ɛrɛkuha so pa ‘Você entendeu? (espero que sim)’
Com está demonstrado nos exemplos anteriores, pa e ba também pode ser usado junto com so acrescentando o sentido a uma pergunta de informação.
11.7 Interrogação negativa
Geralmente uma pergunta é formulada no negativo quando as circunstâncias ou a falta de evidência positiva sugerem uma resposta negativa. A pergunta assim formulada pode ou não empregar a partícula interrogativa e, quando não, forma-se uma interrogação entonacional, que será tratada adiante.
A pergunta pede uma informação simples, mas a resposta normalmente será sim, embora possa ser não. Se, porém, alguém não demonstra qualquer medo diante de uma onça ou da possibilidade de encontrá-la, a pergunta poderia ser:
d-ɛrɛkiɟɨ-i so dawat-a ßi ‘Você não tem medo de onça?’
d-akiɟɨ-i tɨtɛ ‘Não, não tenho medo.’
Akiɟɨ ‘Tenho (medo)’
Se alguém diz que quer algo, mas demonstra desinteresse, a pergunta será:
d-ɛrɛˀo rahɨ-i so kwata rɔpɔt ‘Você não quer comer carne de quatá?’
⇒ Se a pessoa quer, a resposta será:
aˀo rahɨ ranɛ ‘Eu quero sim.’
aˀo ranɛ ßɔtat ‘Eu vou comer sim.’
O emprego da partícula interrogativa não é obrigatório, podendo ser usada a Interrogação Entonacional.
d-ɛrɛˀo rahɨ-i ‘Você não quer comer?’
d-ɛrɛɟuke-i ‘Você não matou?’
Pode ser que a resposta seja sim mas a pressuposição, pela aparência, é que seja não.
⇒ Pode-se ainda formular uma pergunta de solicitação usando a forma negativa:
d-ɛrɛreka-i pidehãm ‘você não tem linha de anzol?’
Neste caso, o falante não pode ver a linha de anzol que você tem em casa, mas ele faz a pergunta baseado num conhecimento prévio ou presuposto de que você tem. A intenção da pergunta é solicitar algo que não se vê.
arot ba ‘Trouxe tudo.’
mɔˀɛ de’pɔpɨke ramũ ‘Qual é seu pagamento.?’
d-ɛrɛreka-i kusi rahãj ‘Você não tem dente de cutia?’
aˀɛ atɛ araha rahɨ ‘É isto mesmo que eu quero levar.’
Isto é coerente com o Doutor Robert Doolei que realizou trabalho de pesquiza linguística no Posto Rio das Cobras, no Paraná, entre os índios Guarani, descreveu este fenômeno da ‘resposta esperada’.
"Em Guarani, a pressuposição subjacente às perguntas negativas parece não ser propriamente de que uma determinada resposta é esperada, mas que existe alguma evidência aparente que tende a confirmar a autencidade da situação descrita pela negação. Não é que o falante necessariamente acredita na autencidade desta situação, mas ele está confrontando o ouvinte com a evidência, solicitando que este, de algum modo, reaja a ela". (DOOLEI, 1984. pg.154)
12. REDUPLICAÇÃO
É um tipo de afixação, em que os fonemas adicionais são oriundos do próprio radical ou raíz e são repetidos, formando um novo radical, com função de repetição ou intensificação.
12.1. As funções da reduplicação:
12.1.1 Função Repetitiva:
Reduplicando um radical verbal.
-sit ‘esguichar’ -sisit ‘choviscar’
-pɔt ‘pular’ -pɔpɔr ‘pular repetidamente’
-pɔt ‘pular’ -pɔɔpor’ ‘pular seguidamente’
-pɔdai ‘apontar a mão’ -pɔɔdai ‘gesticular’
-asa’ ‘é furado’ -asasa’ ‘todo furado’
-ahẽm ‘reclamar’ -ahẽahẽm ‘grita desesperado’
12.1.2 Função Intensificativa
Reduplicando um tema de função gramatical
tik ‘diminutivo / pequeno’ titik ‘pequenininho’
ti ‘aspecto infrutífero / infelizmente’ titi ‘lamentavelmente’
te ‘Partícula de realce / mesmo’ tɛtɛ ‘realçadamente / principalmente’
Observação: As sílabas abertas (terminadas em vogais) reduplicam-se completamente, porém nas sílabas fechadas (terminadas em consoantes) o fonema consonantal é suprimido, isto em todas as reduplicações.
12.2. Tipos de reduplicação
Há dois tipos básicos, que são, Reduplicação Parcial e Completa. É Parcial quando repete parte do Radical e Completa, quando repete todo radical, embora alguns fonemas secundários possam ser suprimidos.
12.2.1. Reduplicação parcial
A Reduplicação Parcial é usada em radicais polissílabos, iniciados por consoante e pode ser do tipo, inicial ou final:
⇒ Reduplicação Parcial Inicial: Repete-se a sílaba inicial. Ex:
-pɔdai ‘apontar com a mão’ pɔpɔdai ‘gesticular’
-kuru ‘ser áspero’ kukuru ‘ser todo áspero’
-ɟiur ‘voltar-se’ ɟiɟɨur ‘voltar várias vezes’
-pehĩ ‘um’ pepehĩ ‘repetindo o mesmo’
⇒ Reduplicação Parcial Final - Repete-se a sílaba final.
-pirik ‘centelhar’ -piririk ‘faiscar, cintilar’
-kuruk ‘roncar’ -kururuk ‘roncar repetidamente’
-pirĩm ‘girar’ -piririm ‘centrifugar’
-pehĩ ‘um’ -pepehĩ ‘um a um’
-sirɨk ‘escorrer-se’ -sirɨrɨk ‘rastejar’
⇒ Caso Especial de Reduplicação Parcial
-karak ‘rasgar’ -kirarak ‘retalhar, esfarrapar’
-dekak ‘cortar, decepar’ -dekikak ‘despedaçar’
12.2.2. Reduplicação completa
A reduplicação completa ocorre com as raízes monossílabas. Também pode ocorrer com as raízes polissílabas iniciadas por vogal.
⇒ Raízes monossílabas
ti ‘infrutífero’ titi ‘infrutífero, (com ênfase)’
-pã ‘bater (produzindo som) -pãpã ‘lavrar’
-tak ‘falsear’ -tatak ‘mancar’
-hẽm ‘sair’ -hẽhẽm ‘sair repetidamente’
⇒ Raízes polissílabas
-apɔ ‘fazer’ -apɔapɔ ‘fazer repetidamente’
asĩ ‘ponta, espinho’ asĩasĩ ‘espinhudo, cheio de pontas’
-asa ‘furar’ -asaasa ‘todo furado’
-ahẽm ‘reclamar’ -ahẽahẽm ‘gritar desesperado’
13. SINTAGMAS
Os sintagmas mais usados nesta língua são: nominal, verbal, adjetival e posposicional
13.1 Sintagma nominal
O sintagma nominal é formado normalmente por um nome, como núcleo, seguido por outro nome, um adjetivo ou um relacionador como margem. Divide-se sintagma genitivo, qualificativo e de relacionador relacionado.
13.1.1. Genitiva
Preenchida por Nome + Nome
wɨjrɛ rapɔ ‘raíz da árvore’
árvore raíz
ɛri pubaha arco do Eli’
Eli arco
paka ra-ha ‘folha de bananeira’
banana folha
ihu pirit ‘pele de veado’
veado pele
pide ra-hãi ‘anzol’ (dente do anzol)
anzol dente
mɨjtũ pɛpɔ ‘pena de mutum’
mutum pena
biri mɔˀɛ ‘pertences do Biri
NP algo
ipɔ r-ɛrɛkwat ‘esposa do ipɔ’
NP esposa
13.1.2. Qualificativa
Nome + Adjetivo:
wɨjrɛ puku ‘árvore comprida’
árvore comprida
paka tawa ‘banana amarela’
banana amarela
kuñã kitɨpot ‘mulher bonita’
mulher bonita
13.1.3. Sintagma de relacionador - relacionado
É formada por um nome como núcleo seguido por uma margem preenchida por uma posposição ou partícula, e se divide em várias categorias, que são:
⇒ Sintagma de Escopo
ero ˀɛ ɔmɛ’ẽ ‘deu para o meu pai’
nuc part
ɛrɛ dɛrɛka ßɛ ‘fale para teus parentes’
nuc posp
⇒ Sintagma de ator associado
bɔˀɨ rupi ɔhɔ ‘foi com o bɔˀɨ’
nuc posp
ihɨ puri tihi ‘está com a mãe’
nuc posp
⇒ Sintagma Instrumental
pubaha pe ɔɟuke ‘matou com arco’
nuc posp
kwata kẽwẽn-a pe ɔasa’ ‘fura com o osso do kwata’
nuc nuc posp
⇒ Sintagma Locacional
upa ßɛ ɔkit ‘dormi na sua casa’
nuc posp
ißak rɛhɛ odar ‘ligou-se ao céu’
nuc posp
⇒ Sintagma Temporal
aro ßɛ oa’ta ‘anda de dia’
nuc posp
pɨjhew pe te ɔkit ‘dorme à noite mesmo’
nuc posp
13.2 Sintagma adjetival
É formada por um adjetivador como núcleo e um adjetivador como margem. Preenche posição no nível do sintagma nominal.
kujbɛˀɛ mirĩ tik ‘homem bem pequeno’
nuc adj adj
wɨjrɛ tẽg gato ‘árvore bem reta’
nuc adj adv
13.3 Sintagma adverbial
Possui um advérbio como núcleo e uma margem modificadora:
bɔka itɨ ɔhɔ ‘Foi para lá.’
adv posp
kwahɛ ßɛ adat ‘Vim ontem.’
adv posp
õj te kɛto aˀo ‘Comi bem agora mesmo.’
adv part adv
13.4 Sintagma posposicional:
É formada por duas ou mais posposições e preenchem posição no nível do sintagma nominal ou da oração.
pari wɨrɨ ßɛ ‘embaixo da casa’
pari wɨrɨ rupi ‘por baixo da casa’
kɨ tɨ wi ɔhẽm ‘Saiu daquela direção’
ˀɨ kupɛ itɨ ‘para trás do rio’
13.5 Sintagma verbal
Há dois tipos básicos de sintagma verbal, ou seja, sintagma verbal simples e modificada:
13.5.1 Sintagma verbal simples
Esta é formada por um verbo principal como núcleo e um verbo serial, ou auxiliar, como margem (vide verbos auxiliares sessão 4.12)
ɔɟupit ɔhɔ ‘Ele subiu indo.’
ɔɟiut ɔot ‘Ele voltou vindo.’
aapɨk aɟupa ‘Estou sentado.’
13.5.2 Sintagma verbal modificada
É um tipo especial de sintagma, pois contém um verbo como núcleo seguido de margens preenchidas por palavras de modo, aspecto, tempo futuro, negação, ênfase e qualificativos:
⇒ Sintagma verbal Modal:
dabuhu rahɨ ‘Deseja-se colocar.’
vt mod
ɔdapɔ kuha ‘Pode fazer.’
vt mod
⇒ Sintagma verbal de aspecto:
aesak iha ‘Parei de ver.’
vt asp
aˀo pa ‘Comi tudo.’
vt asp
⇒ Sintagma verbal qualificativa
peˀo tik ‘Comestes pouco.’
vt adj
ekit puku ‘Durma bastante.’
vi adj
ɛrɛdo kɛto ‘Ouviste bem?’
vt adj
⇒ Sintagma verbal temporal
adatɨ ßɔtat ‘Vou plantar, plantarei.’
vt fut
pɔrɔuke ßɔtat ‘Nos matará!’
vt fut
itejbibo ßɔtat ‘será adulto’
vd fut
⇒ Sintagma verbal negativa
taha ˀỹm ‘Para não vir.’
vi neg
d-ɔkwa-i ‘Não passou.’
neg-vi-neg
⇒ Sintagma verbal enfática e intensiva
aha ranɛ ‘Irei realmente.’
vi int
ɔapɨk anɛ ‘Ele sentou-se.’
vi int
opukej ahɨ ‘Gritei forte.’
vi int
13.5.3 Sintagma verbal complexa
Consiste na intercalação de vários tagmemas expandindo no sintagma.
aˀo rahɨ ɔkɛt ‘Permito desejar comer.’
vt mod mod
aˀo ɔkɛr ahɨ ‘Desejo permitir comer.’
vt mod mod
d-aha ranɛ ßɔtat-i ‘Realmente não irei.’
neg-vi ints fut-neg
aɟiut ßɔtat aha ‘Voltarei indo.’
vi fut vi
14. EXTRUTURA E FORMAÇÃO De PALAVRAS
14.1 Extrutura morfológica
As palavras em Zo’é são constituídas basicamente a partir de quatro elementos mórficos: raíz, radical, afixos e vogal epentética.
14.1.1 Raízes
A raíz é, geralmente, um morfema monossilábico ou dissilábico de caráter livre (ex. 1-4), ou preso (ex. 5-8), podendo ser consideradas como raízes livres e presas
Raíz Presa Raíz Livre
1. -pɨ ‘pé’ 5. ɨßak ‘céu’
2. -pɔ ‘mão’ 6. pat ‘flecha’
3. -ata ‘andar’ 7. amãn ‘chuva’
4. -aku ‘quente’ 8. ita ‘pedra’
As raízes presas são aquelas que dependem sempre de um referente pessoal ou genérico, preenchido por um prefixo ou sintagma nominal.
As raízes nominais presas nunca ocorrem isoladamente, dependendo sempre de um prefixo pessoal de posse, ou genérico (ex.9 - 12) ou seguido de um nome como possuidor (ex. 13 e 14).
9. dɔ-pɨ ‘pé de gente’
10. dɔ-pɔ ‘mão de gente’
11. ɛ-pɨ ‘meu pé’
12. dɛ-pɨ ‘seu pé’
13. kusi pɨ ‘pé da Cutia’
14. kwata pɔ ‘mão do quatá’
Já as raízes verbais, salvo raras exceções, necessitam sempre dos prefixos pessoais de A / S e O (ex.15-17).
15. a-ata ‘ando’ ɛ-r-aku ‘Estou quente.’
ɛrɛ-ata ‘andas’ dɛ-r-aku ‘Estás quente.’
ɔ-ata ‘anda’ ø-aku ‘Está quente.’
16. a-ˀo ‘como’ ɛ-ˀo ‘Me come.’
ɛrɛ-ˀo ‘comes’ dɛ-ˀo ‘Te come.’
ɔ-ˀo ‘come’ i-’u ‘O come.’
17. da-ata ‘andar / anda-se’
da-ˀo ‘comer / come-se’
As raízes livres são as que não dependem destes elementos para que tenham sentido em si. Algumas nunca recebem os prefixos pessoais, como nos exemplos 5 e 7 acima, mas outras como as do exemplo 6, 8 e 9, podem ser prefixadas (ex. 18 - 20) .
18. pat ‘flecha’ ɛ-pat ‘minha flecha’
19. ita ‘pedra’ dɛ-itɛ ‘tua pedra’
20. ˀɨ ‘água’ dɛ-ˀɨ ‘tua água’
14.1.2 Radicais
O radical nesta língua distingue-se da raíz no sentido de que a raíz tem um caráter primitivo, isolado de qualquer outro morfema; o radical é sempre formado a partir de uma raíz unida a outras raízes ou acrescida de algum afixo derivacional. O radical, que pode ser composto ou derivado, assume um novo sentido semântico, que pode ser ou não aproximado da raíz primitiva.
⇒ Radicais compostos
São formados por duas ou mais raízes que, ao se fundirem morfofonemicamente, podem ter alguns fonemas subtraídos ou substituídos, dando origem a uma nova unidade morfológica (ex.21-24).
21. pat + pepɔ ⇒ parɛpɔ
‘flecha’ ‘pena’ ‘pena de flechas’
22. pat + ɛda ⇒ parɛda
flecha deixar ‘Lugar de guardar flechas.’
23. -pɔ + -ˀɔk ⇒ -pɔˀɔk
‘mão’ ‘soltar’ ‘arrancar’
24. kusi + hãj ⇒ kusiwãj
‘cutia’ ‘dente dela’ ‘dente de cutia’
⇒ Radicais derivados
Radicais nesta língua são formados através um afixo derivacional acrescido à raíz ou outro radical, transformando-o em outra unidade morfológica e de um novo conceito semântico, formando radicais verbais e nominais de acordo com o processo derivacional aplicado.
Os radicais verbais transitivos são formados a partir da afixação dos prefixos causativos simples bɔ- / mɔ- (ex. 25-27) e dos causativos comitativos ro- ero- (ex. 28-29) às raízes verbais intransitivas e descritivas (ex. 30-32) e também às raízes nominais (ex. 33-34), muitas vezes, mudando a sua estrutura morfológica originais e atribuindo-lhe um novo conceito semântico.
⇒ Derivação de verbos intransitivos em transitivos com causativo simples
25. ɔ-hɔ ‘foi’ ⇒ ɔ-bɔ-dɔ ‘enviou / expulsou’
26. ɔ-hẽm ‘saiu’ ⇒ ɔ-mɔ-hẽm ‘retirou / sacou / expeliu’
27. ɔ-dɔk ‘arebentou’ ⇒ ɔ-bɔ-dɔk ‘cortou’
Derivação de verbos intransitivos em transitivos com causativo comitativo
28. ɔ-kwa ‘passou’ ⇒ ɔ-ro-kwa ‘transportou’
29. ɔ-ot ‘veio’ ⇒ ɔ-er-ot ‘trouxe’
⇒ Derivação de verbos descritivos em verbos transitivos
30. i-ɟuk ‘é podre’ ⇒ ɔ-bɔ-ɟuk ‘apodreceu.’
31. i-pirãg ‘é vermelho ⇒ ɔ-mɔ-pirãg ‘avermelhou.’
32. atã ‘é firme / duro’ ⇒ ɔ-mɔ-atã ‘firmou / endureceu.’
⇒ Derivação de nomes para verbos
33. dɔˀɛ ‘humano’ ⇒ ɔ-bɔ-dɔˀɛ ‘humanizou’.
34. akwã ‘ponta’ ⇒ ɔ-mɔ-akwã ‘apontou’
Também algumas raízes verbais transitivas (ex. 35-36), e descritivas (ex. 37), bem como algumas raízes nominais (ex. 38) podem ser derivadas para radicais verbais intransitivos através do prefixo reflexivo ɟi- / ɟ- ʃi-. Dessa forma, percebe-se que o sujeito pratica a ação por si mesmo, ou sobre si mesmo.
35. a-ɛsak ‘vejo-o’ ⇒ a-ɟi-ʃɛk ‘apareço-me’
36. ɔ-upit ‘levanta-o’ ⇒ ɔ-ɟ-upit ‘sobe’
37. ɔˀɨ ‘estar frio’ ⇒ i-ʃi-rɔˀɨ ‘esfria-se’
38. temiˀũ ‘alimento’ ⇒ a-ɟi-miˀũ ‘alimento-me’
14.1.3 Reestruturação silábica
Esta língua possue a seguinte estrura sílábica: V, CV e CVC, ou seja, não ocorre encontro consonatal. Portanto, no nível fonético, para evitar esse tipo de encontro, ocorre uma reestruturação silábica, com sonorização de consoante surdas, eliminando uma das consoantes ou inserindo vogais epentéticas para que essa estrutura seja mantida. Por outro lado, mesmo não havendo restrição à ocorrência de encontros vocálicos no nível fonológico, na pronúnica, esses encontros também sofrem um tipo de restruturação formando ditongos ou absorção vocálica.
⇒ Sonorização de consoantes
Quando, em um sintagma verbal, primeira palavra termina em consoante e a segunda inicia-se por vogal, a consoante final é sonorizada.
a.ɉu.pit + a.ha ‘Eu subi (indo).’ ⇒ [a.ɉu.pi.ra.ha]
eu subi eu fui
da.tok + ɔ.hɔ ‘O Datok foi.’ ⇒ [da.to.gɔ.hɔ]
nome próprio ele foi
⇒ Eliminação de consoantes
Quando a primeira palavra é um tema verbal terminado em consoante e a segunda iniciada por consoante ocorre a eliminação da consoante final da primeira palavra ou a inicial da palavra seguinte:
a.kit + ba.da ‘Talvez dormi.’ ⇒ [a.ki.ba.da]
eu dormi talvez
ɔ.nãn + ra.hɨ ‘Desejou correr.’ ⇒ [ɔ.nã.ra.hɨ ]
ele corre desiderativo
a.pak + ra.ne ‘Realemente acordei.’ ⇒ [a.pa.ga.ne]
ele corre estar em movimento
ɛ.rɛ.kwat + kã ‘ele tem esposas’ ⇒ [ɛ.rɛ.kwa.kã]
tem esposa coletivador
⇒ Inserção morfema nominal
Porém, quando o primeiro tema é nominal e o segundo é iniciado por consoante, ocorre o morfema nominal a nessa restruturação, resultando em acréscimo de mais uma sílaba ao enunciado.
tũn + a + kã ⇒ [tũ.na.kã] ‘o grupo do Tun’
NP morf. nom coletivador
datok + a + rupa ⇒ [da.to.ga.rupa] ‘lugar do Datok’
NP morf.nom lugar de
dawat + a + rapɛ ⇒ [da.wa.ra.pɛ] ‘caminho da onça’
onça morf.nom caminho
⇒ Inserção de vogal epentética
Na formação de um sintagma poposicional, quando uma palavra terminada em consoante é seguida por outra iniciada por consoante uma vogal epentética i é inserida para manter a estrutura silábica padrão.
ʔat + -i- + βɛ ⇒ [ʔa.ri.βe] ‘em cima de’
sobre epentética em
wɨt + -i- + βɛ ⇒ [wɨ.rɨ.βɛ] ‘em baixo de’
sob epentética em
wɨt + -ɨ- + βɛ
sob epentética em ⇒ [wɨ.rɨ.βɛ] ‘em baixo de’
14.1.4. Aglutinação vocálica
Aglutinação vocálica ocorre quando há encontro vocálicos VV resultando sempre em um ditongo ou em redução silábica mediante a absorção vocálica.
⇒ Ditongação
Em sequências de duas vogais em que a segunda seja anterior alta e não acentuada, resultam num ditongo:
ku.pɛ + -i ⇒ [ku.pɛj] ‘bem atrás de’
atrás itensificador
ɔ- + i.ča ⇒ [ɔj.ča] ‘Está se movimentando.’
ele estar em movimento’
d-a.ku.ha + -i ⇒ da.ku.haj ‘não sei’
neg.1s-saber neg
Em sequências vocálicas em que a segunda vogal seja média anterior e não acentuada, esta sofre levantamento e resulta também num ditongo.
a- + ɛ.tũn ⇒ [aj.tũn] ‘eu cheiro’.
eu cheirar
ɔ + ɛdo ⇒ [ɔj.do] ‘ele ouviu’
ele ouvir
⇒ Absorção
Numa seqüência vocálica, quando a vogal anterior alta /i/ segue outro /i/ ou a semi-vogal /j/ precedida de silêncio, o i é absorvido por ela.
d- ... -i ‘morfema negativo’
d-ɔ.pɔ.raj + -i ⇒ [dɔ.pɔ.raj] ‘não dançou’
d-ɔ.pi + -i ⇒ [dɔ.pi] ‘não picou’
d-a.pukej + -i ⇒ [da.pu.kej] ‘não gritei’
d-ɛ.kisi + -i ⇒ [de.ki.si] ‘não me cortou’
d-ɔ.pew + -i ⇒ [dɔ.pew ] ‘não está inclinado’
Quando a vogal posterior /ɔ/ ocorre numa seqüência vocálica, precedendo /o/, ela é absorvida.
ɔ- + u ⇒ [u] ‘ele mora’
ele morar
ɔ- + ot ⇒ [ot] ‘ele veio’
ele vir
ɔ- + tupa ⇒ [upa] ‘seu próprio lugar’
seu próprio lugar de
ɔ- + to ⇒ [o] ‘seu próprio pai’
seu próprio pai
⇒ Fusão
Numa seqüência de duas vogais idênticas ocorre a fusão, eliminando uma sílaba da palavra.
a- + a.pɨk ⇒ [a.pɨk] ‘Eu me sentei.’
eu sentar
ɛ.rɛ- + ɛ.sak ⇒ [ɛ.rɛ.sak] ‘Você o viu.’
você ver
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, reafirmamos que, embora esta descrição não seja ainda um trabalho conclusivo, faz-se necessário sua publicação, pois aponta caminhos para futuras investigações e ao mesmo tempo serve como ferramenta aos aprendizes desse idioma. Da mesma forma, ao descrever as categorias lexicais desta língua e diversos critérios gramaticais envolvidos torna-se desde já como importante instrumento à implementação e/ou desenvolvimento da Educação Escolar Indígena junto a essa etnia. Isso porque, conquanto haja outros trabalhos publicados, sendo a maioria deles a nível de fonológico, esta descrição apresenta, até o momento, a mais ampla divulgação de dados gramaticais nesta língua. E, pelo fato de que os dados ora apresentados tenham sido coletados por longo período de convivência com o povo, constitui-se também como um dos documentos mais confiáveis apresentado à comunidade linguística e ao público em geral sobre este idioma.
Dessa forma, espera-se que o mesmo venha ser útil à comunidade acadêmica, educacional, aos servidores públicos em atividade nessa comunidade indígena e à principalmente à população Zo’é como registro de dados do seu idioma, auxílio ao seu processo educacional e perpetuação de sua língua materna.
REFERÊNCIAS
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BOUDIN, Max H. Dicionário de Tupi moderno ( dialeto Tembé- ténêtéhat do alto rio Gurupi). São Paulo, Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1978, 2 v.
CABRAL, Ana Suely Arruda. C. Notas sobre a fonologia segmental do Jo’é. Moara, Belém, UFPa, Nº 4: 23-46, outubro/95-mar/ 96.
_____ Algumas evidências linguísticas de parentesco genético do Jo’é com línguas Tupi-Guarani. Moara, Belém, UFPa, Nº 4: 47-76, outubro/95- mar/96.
CASTRO, Onésimo Martins; LUZ, Edward Gomes; CARVALHO, Carlos Alberdo Lacerda. Dicionário Lexical da Língua Zo’é (Poturu). Santarém, MNTB, 1993 (Arquivado na Biblioteca Nacional).
CASTRO, Onésimo Martins. O Desenvolvimento Histórico da Língua Zo’é. Missão Novas Tribos do Brasil (Arquivado na Biblioteca Nacional), 1994.
CASTRO, Onésimo Martins; CARVALHO, Carlos Alberdo Lacerda. Fonologia experimental da língua Zo’é. Anápolis, MNTB, 1998.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua portuguêsa. 32 ed. São Paulo, E. Nacional, 1989.
CROFTS, Marjorie. Gramática Munduruku [2 ed.] Brasília. SIL, 1973
ELSON, Benjamim & PICKETT, Velma. Introdução à morfologia e à sintaxe. 2 ed. Petrópolis, E. Vozes, 1978.
GRAHAM, Albert; GRAHAM, Sue; HARRISON, Carl H. – Prefixos Pessoais e numerais da Língua Sataré-Mawé. In: DOOLEI, Robert A. Estudos sobre línguas Tupi do Brasil - Brasília. SIL, 1984, p. 175-225.
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JENSEN, Cherɨl. 1990. Cross-Referencing Changes in Some Tupí- Guaraní Languages. Amazonian Linguistics: Studies in Lowland South American Languages. Edited by Doris L. Paɨne. Austin: University of Texas Press.
KAKUMASU, James Ɨ. & KAKUMASU, Koko. Dicionário Urubu-kaapor - português. Brasília. SIL, 1978.
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WIESEMANN, Ursula & MATTOS, Rinaldo de. - Metodologia de análise gramatical - Petrópolis. E. Vozes, 1980.
Notas:
[1] A divisão dos marcadores pessoais em conjuntos 1,2,3 é coerente com a proto-língua conforme Jensen (1990). Porém, em Zo'é, não ocorre os marcadores do conjunto 3 que foram substituídos pelos marcadores do conjunto 1. Os marcadores do conjunto 4 na proto-língua, *oro- 2s e *opo- 2p, ficaram resumidos em [r]- e está sendo classificado como conjunto 3 por não haver esse conjunto nesta língua.
[2] Esse critério está ainda em estudo e poderá ser alterado quando novas pesquisas forem executadas. Até porque, em nosso corpus de dados, esses radicais são ainda bastante limitados.
[3] Neste idioma, é importante fazer distinção entre agente – A em verbos transitivos e sujeito – S nos verbos intransitivos, devido ser uma língua Ergativa-Abolutiva, pois na maioria dos verbos a marcação pessoal de S igual ao O e diferente do A.
[4] Este tipo de marcação ainda está em estudo, pois pode ser que ocorra também a marcação ergativa-absolutiva.
[5] Esta é uma descrição Preliminar e Provisória. Podendo ser alterada no futuro, especialmente quanto à sua ordem, podendo ser reduzida ou ampliada.)
[6] A conceituação dos modificadores nominais como adjetivadores derivados dos de raízes verbis descritivas é um processo ainda em averiguação. No entanto, ficam aqui registrados para posterior elucidação.
[7] Esta prefixação precisa ser averiguada, pois ocorre duas maneiras diferentes com alguns dos modificadores, como: uruku t-ahy 'mertiolate ardido' e uruku r-ahy 'o ardor do mertiolate'
[8] Assim como os adjetivos, a classificação dos advérbios é hipotética e será averiguada posteriormente.