O diabo nas entrelinhas
— O amor corrompe a mente. Se tu não me amasses eu a respeitaria e poderias ser minha eleita...
Tento digerir esta frase de José Mojica Marins em “Esta noite encarnarei no teu cadáver”. Avant-garde até para o Brasil contemporâneo, Zé do Caixão devia ser um figura bem corajoso pra lançar tal obra em 1967.
Questiono outro axioma que é peculiar à nós lusófonos: a saudade. Volta e meia aparece algum poeta de facebook repetindo a velha ladainha que só nós temos um vocábulo para tal sentimento que não pode ser classificado como positivo ou negativo. A saudade representa a ausência, o que não é e nunca foi ou será. Ora, nada mais é que vontade do passado como ele realmente não era, mas sim como gostaríamos que tivesse sido levado a cabo.
Fora os devaneios de intelectual de apartamento, o futuro é sempre promissor. Uma esquina, um amigo, uma cerveja e, dependendo da sorte, uma garota que te beija. Risos. É importante ter algo a dizer.
Sintonizo na UVB-76 e tomo a marginal como pista de atletismo. O cheiro podre do rio me lembra as praias de Caraguatatuba onde passei algumas festas de ano novo na infância. Naquela época eu era feliz e não bebia. O suor limpa as toxinas do sangue e do pensamento. Com ideias claras planejo o presente. Disco no teclado virtual e aguardo dar linha.
— Oi! É hoje... Sem atraso, te espero.