A ESCRITA: UMA SÍNTESE HISTORIOGRÁFICA NA CONCEPÇÃO DE SAUSSURE

Elenides Francisco de Freitas (UEMS-PPGLETRAS)

elenidesfreitas@hotmail.com

Elza Sabino da Silva Bueno (UEMS-FUNDECT)

elza@uems.br

RESUMO O presente estudo objetivou-se em trazer algumas considerações a respeito do surgimento da escrita e a sua evolução no tempo e na história. Para especificar na concepção de Saussure (1916), as diferentes dicotomias que estão inseridas na origem da escrita. Nesta vertente, é permissível fazer uma viagem na linha do tempo para situar onde tudo começou. E com o pensamento de outros historiadores como: Luis Carlos Cagliari (1988), Gilberto Cotrim (2005), acrescentar outras informações sobre o surgimento da escrita, e outros apontamentos na concepção dos mesmos.

Palavras - Chave: Saussure; escrita; origem.

ABSTRACT

The present study aims to bring some considerations regarding the emergence of writing and its evolution in time and history. To specify in the conception of Saussure (1916), the different dichotomies that are inserted in the origin of the writing. In this section, it is permissible to take a trip on the timeline to locate where it all began. And with the thought of other historians like: Luis Carlos Cagliari (1988), Gilberto Cotrim (2005), to add other information on the appearance of writing, and other notes in the conception of the same ones.

Key-Words: Saussure; writing; source.

INTRODUÇÃO

A vida cada vez mais agitada das cidades, e em consequência com a aglomeração dos povos, foram surgindo outros problemas além-os do cotidiano, e a partir destes novos acontecimentos, e os antecedentes da falta de comunicação entre as pessoas, começava então despontar as primeiras necessidades. Sendo assim, a fala que até então era só memorizada por algumas pessoas, de certa forma foi se tornando insuficiente para dar conta da quantidade de dados que se acumulava na rotina diária.

Com isso, foi necessário apresentar uma nova maneira de registrar os acontecimentos, e com esta necessidade aparece o surgimento da escrita, que teve o seu êxito na história com os Sumérios. Sendo assim, no decorrer dos anos, as formas da escrita foram se constituindo em alfabetos, com características especificas em cada pais ou estado. Com isso, os Gregos, os Chineses, os Asiáticos, entre outros possuíam as suas características próprias para descrever e entender estes signos. Sabe–se que a escrita foi e continua sendo objeto de investigação desde os tempos que remontaram a pré-história até os dias de hoje. Em meados de 1916, Saussure, em um dos seus mais importantes estudos propôs analisar os diversos estilos e formas de Linguagem, com a publicação do seu Curso de Linguística Geral, que consistiu em conceituar historiografia da Linguística.

Neste sentido, o referido artigo, fará algumas considerações a respeito do surgimento da escrita, e a importância de Saussure para a distinção deste signo. Para este entendimento, o artigo terá como corpus a pesquisa bibliográfica, que consistirá em apresentar alguns conceitos sobre o tema, além de pontuar algumas informações da origem da escrita, para em fim apresentar a concepção de Saussure a respeito deste signo. Objetiva-se então trazer alguns conceitos historiográficos de como tudo aconteceu ao longo da história.

2 BREVES CONCEITOS SOBRE A ESCRITA

De acordo com Gilberto Cotrim (2005), desde o inicio da história e do surgimento da escrita, esta foi se refazendo e percorrendo longos caminhos, para se consolidar em meio a uma sociedade que estava passando por evoluções. Com isso, conforme o autor foram vários os períodos propostos por diferenciados pesquisadores para concretizar as ideias da época da Pré-História. É sabido que este período foi um marco revolucionário para o surgimento da escrita.

Outrora, dois períodos conforme Cotrim merece destaque para especificar o contexto historiográfico deste período: um com o Paleolítico e o outro com Neolítico. Sabe-se que no período Paleolítico foi um tempo que predominou a sociedade de coletores e caçadores. Conforme Cotrim (2005), os seres humanos viviam da caça, da pesca, da coleta de grãos, frutos e raízes. Com o período Neolítico outras culturas foram sendo desenvolvidas, como a criação de animais e agricultura. De acordo com Cotrim, a partir desta inserção do neolítico as sociedades passaram a produzir seus alimentos. Neste período então, o que era considerado como objetos de usos e costumes daquela época, começaram a ganhar outras formas. A pedra que era lascada passou a ser polida melhorando o fio de seu corte. Mediante a esta característica o nome neolítico recebeu outra nomenclatura, passando ser a idade da Pedra Polida, e o paleolítico de Pedra Lascada.

Sendo assim, conforme Cotrim (2005), as comunidades deste período continuaram a produzir frutos, caçar animais, deixando de lado a criação de animais e a própria agricultura. Para o autor, o cansaço da vida sedentária que levavam, foram os causadores de uma mudança de vida. Assim a coleta de frutos, a caça e a pesca já não mais satisfaziam as suas necessidades básicas, e foi surgindo o anseio de se adequar a outras formas de cultivos para dar sustentabilidade para as suas necessidades.

Com isso, começaram a dominar outras técnicas de cultivo e outras plantações como: o trigo, cevada, batata, mandioca, arroz e entre outros cultivos. A partir destas novas transformações, os alimentos produzidos por eles era o suficiente, sobrando até mesmo para estocar. No entendimento de Cotrim (2005), foi esta evolução na produção de alimentos que fez com que a população crescesse, e a partir deste crescimento outras necessidades foram surgindo. Para Cotrim, tudo se originou a partir da força e do direcionamento que a agricultura proporcionou. Neste ínterim, surge então à necessidade de fazer louças em argila, as roupas que até então eram feitas com as peles de animais, foram surtindo o efeito de levar o homem a tecer, surgindo assim os primeiros tecidos de lã e linho.

Outra necessidade, de acordo com o historiador, foi estabelecer moradias, que foram construídas com madeira, barro e folhagem seca para garantir maior durabilidade. E assim, foram surgindo às primeiras aldeias. Assim, o povo que era somente uma minoria, foi se agrupando em pequenas sociedades, ampliando assim a oferta da troca de alimentos. No entendimento do autor, na medida em que houve esta expansão, outras dificuldades mais complexas foram surgindo. Assim, o produtor de cerâmica se viu com a necessidade de trocar os seus potes de argila por alimentos, o tecelão e outros com outras funções, foram incorporando na sua organização social novos elementos, como um templo para a realização dos cultos, e armazéns para estocar os seus alimentos.

Com esta transformação das aldeias, vão surgir as primeiras cidades, sendo Jericó 8000.a.C, e Beidha 7000a.C. Com o surgimento das primeiras cidades vai se desenvolver a metalurgia, fabricando então o Cobre, o Bronze, o Ferro que resultaram na fabricação de objetos, agora não mais de barro, e sim objetos transformados pela junção da metalurgia resultando em panelas, vasos, enxadas, pregos, faca e lanças de metal.

Com o aumento e a socialização das cidades, surge o desenvolvimento da escrita e a origem de onde tudo começou. No conceito de Cotrim (2005), os primeiros registros encontrados e deixados pelo homem, apareceram escritos por meio de pinturas nas paredes das cavernas em forma de desenhos que tinham como objetivo representar a intenção ou um código, que estava relacionado com a figura dos desenhos nas paredes das cavernas. Com o passar dos tempos, e a evolução na história, a escrita estabeleceu uma ruptura com o homem da pré-história, surgindo então o homem e a escrita em uma sociedade atual. Para esta afirmação Barbosa discorre que:

O homem através dos tempos vem buscando comunicar-se com gestos, expressões e fala. A escrita tem origem no momento em que o homem aprende a comunicar seus pensamentos e sentimentos por meio dos signos. Signos que sejam compreensíveis por outros homens que possuem ideias sobre como funciona esse sistema de comunicação. (BARBOSA, 2013, p.13).

Para Barbosa, toda descrição escrita do homem na história, foi fruto de um passado histórico, e que hoje se apresenta como uma inovação de um signo imutável. Já de acordo com Alfredo Brandão (1937), dois tipos de inscrições pode-se observar nas rochas do Brasil: uma com a tipologia esculpida e a outra pintada. As mesmas possuíam traços que até então eram desconhecidos, imitando talvez a escrita Cuneiforme. No seu entendimento a primeira representava uma diversidade de figuras que foram representadas através de formas geométricas, com uma perfeição que pareciam as próprias letras do alfabeto, e aparentando em sua forma geométrica com os números arábicos.

Já a inscrição pintada, representava grosseiramente objetos pintados sem certa leveza. Neste sentido, foram vários os estudos a fim de analisar o surgimento da escrita no Brasil. Para o autor, mesmo buscando se conhecer outras inscrições deste período, raramente se encontrava uma pintura igual à outra, para ele, estas diferenças implicavam no fato de que estas inscrições pertenceram a períodos e culturas diferentes.

No entendimento de Marcel Homet (1959), este afirma que os criadores desses desenhos eram muitos diferentes dos desenhos dos indígenas que hoje lá vivem. (Serra do Parimá, Amazonas). Para ele, foi com a chegada dos conquistadores Europeus, que estes disseminaram a cultura dos povos indígenas, pois até então estes não tinham conhecimento dos carros, rodas, cavalos, e consequentemente a leitura e a escrita.

Para ele, os desenhos que consistiam na mesma coloração, devido à fragilidade dos séculos, representava alfabetos antigos, formas, modelos de gravações representava cavalos, carros e rodas com uma mesma repetição das técnicas, sendo estas de perfil, que eram de acordo com ele, a técnica utilizada pelos antigos egípcios milenários.

Com Alfredo Brandão (1937), este conseguiu nos seus estudos, identificar setenta e cinco características básica na escrita pré-histórica brasileira. Sendo assim, ao realizar uma comparação com outros signos escritos arcaicos, constatou-se que havia identidades semelhantes entre a escrita brasileira e as outras, especificamente com as do Mediterrâneo Oriental.

De acordo com ele, estas semelhanças se originaram de um mesmo tronco comum. Contrariando este pensamento, é sabido que no segundo milênio, antes de Cristo, foi que sucedeu as escritas Hebraicas, Moabita, Fenícia, Aramaica e Grega, que por fim originou todos os alfabetos do Ocidente. Mas, estas semelhanças, conforme Brandão aponta para um terreno da escrita na qual já indicava vestígios e outras manifestações da cultura pré-histórica. Sem desmerecer as outras culturas sobre o surgimento da escrita, este defende o ponto de vista de que foi no Brasil que surgiu a escrita mãe, das quais as outras se originaram.

2.1 AS TRANSFORMAÇÕES DA ESCRITA AO LONGO DA HISTÓRIA

Ainda no conceito de Cotrim (2005), a invenção da escrita, percorreu vários caminhos pictográficos para se situar no ponto alto das maiores invenções. Com isso, conforme o autor a mesma se realizou de varias maneiras. Sabe-se que foi com os Sumérios que tudo começou. Estes representavam os primeiros sinais de forma pictografada que representava os desenhos com figuras de objetos existentes naquele período.

Neste sentido, os desenhos tinham formas de bois, cabeças, jarros, entre outros sinais que passaram a dar significados aos signos por eles representados, como o sinal de boca mais o sinal de pão resultando no significado de comer. Com a inserção da pictografia, esta indicava um acordo significativo, sendo atribuído aos símbolos, estabelecendo um processo de comunicação entre si, e com outros no porvir.

Para Cotrim (2005), este procedimento de representar à escrita, trouxe como tema a Escrita Sintética e Ideográfica, que consistia em sugerir a ordem, e descrever uma frase no sentido gráfico ou em um grupo de signos. Com isso, soube-se que a ideia que deu origem a evolução da escrita, foi evocar pensamentos, representados por um signo em uma determinada palavra. Com isso, Cotrim afirma que como cada signo diz respeito á apenas uma ideia, este ficou sujeito a modificações e adaptações continuamente, pois os pensamentos ou ideias que se deseja comunicar são infinitos, e a tendência é aumentar passo á passo com o desenvolvimento e a evolução de uma cultura.

Deste pensamento surgiu a Escrita Ideográfica ou analítica, que utilizou sinais gráficos com valores que correspondiam às palavras ou elementos que integram a frase. Outra invenção da escrita aconteceu com a Escrita Silábica e Fonética. Esta trouxe como conceito que os signos se tornaram e se transformaram em sons que constituiu a palavra. Neste sentido, o sistema adquire significados fonéticos e os elementos gráficos o simplificam. Outra característica do signo foi à ocorrência em Cuneiformes, que no inicio da evolução eram ideográficos, adaptando-se aos fonemas, representando palavras com silabas idênticas ou semelhantes.

Outra novidade da escrita na versão de Gilberto Cotrim (2005) foi a Escrita Alfabética, que surgiu por volta do ano de 1500.a.C, que teve inicio em meio a Cultura Semita. Método que consistiu em representar graficamente sons isolados com sinais próprios. Estes foram utilizados pelos povos antigos, permitindo após longos anos aos Fenícios, criar seu próprio alfabeto. Mas, estes signos só possuíam representação com as Consoantes. Após 800 a. C, os Gregos acrescentaram a representação com Vogais. De acordo com Georges Goury (1948), a escrita em meio a tanta evolução e partindo do principio que fora representada pela pintura, este considera que a mesma surgiu da necessidade que o homem desde os tempos mais primórdios estabeleceu para fixar um pensamento e transmitir de outra forma a não ser pela palavra. Já no pensamento de Cagliari (1988, p.13). Este infere que:

Quem inventou a escrita foi à leitura: um dia numa caverna, o homem começou a desenhar e encheu as paredes com figuras, representando animais, pessoas objetos e cenas do cotidiano... A humanidade descobria assim que quando uma figura gráfica representa o mundo, é apenas um desenho, quando representa uma palavra, passa a ser uma forma escrita.

Com isso, denota-se que a escrita, resultou da necessidade de um registro que além dos desenhos ultrapassou os limites do visível e constituiu na palavra escrita.

2.2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE SAUSSURE

Por volta do ano de 1916, Saussure publicou a primeira obra do Curso de Linguistica Geral - CLG, em que através de longos estudos e a colaboração dos seus alunos, foram apresentadas as diversas inferências que permeiam na linguagem humana. Em seus escritos, tratou no seu primeiro curso em falar sobre o estudo da Fonologia, especificamente a fonética, e a linguística evolutiva, a etimologia popular. No seu segundo curso, referiu-se a teoria dos signos e a e a sua relação com a teoria da linguística aos conceitos de sistema, unidade, identidade e valor linguístico, ou seja, a diacronia e a sincronia. Já no terceiro curso, surge o tema das línguas no enfoque e na visão da linguística externa, e a língua praticada pelos indivíduos.

Diante destas considerações, a dificuldade que encontrou para expor os seus escritos pautou-se em que os cursos obedeciam ao um programa tradicional, obrigando a ele manter segredo das suas posições e de como encaminhar o seu pensamento referente à linguagem. Ao longo de sua vida, Saussure fez referência aos seus três cursos em que considerava dois aspectos da linguística: a estática e a evolutiva. Ambas se ocuparam em estudar a língua em um nível que fosse próprio do intelecto do individuo a fim de transmitir seus ensinamentos. Por fim em seu último curso em vinte de abril de 1911, ele fala da Langue após ter refletido um semestre sobre como a língua esta estruturada geograficamente, situada na escrita, na fonética e nas famílias de línguas existentes.

Ocupou-se de analisar as categorias linguísticas mediante ao contexto dos discursos e realidades ideológicas, distinguindo a linguística tanto como objeto de conhecimento particular como discurso cientifico, a luz dos discursos ideológicos. É fato que tanto Saussure, e os demais historiadores deixaram em parte os seus trabalhos publicados, em meados de 1910. Quase próximo a sua morte, observa-se um pesquisador da língua realizando os seus trabalhos em meio ao silêncio. Ele tinha consciência que mesmo em meio aos cursos que ministratava não considerava os seus escritos prontos e acabados, pois ele tinha consciência dos perigos do porvir, caso não deixasse de próprio punho as teorias efetivas da história da linguística por ele analisada.

Para ele, a ciência que se ocupou em estudar os fatos da história da língua, constituiu em três respectivas fases para chegar a conceituar qual foi seu único objetivo. A principio se postulou no estudo da Gramática, tendo o seu inicio com os povos Gregos, e depois pelos Franceses, sendo que este estudo e formulação da gramática não se preocuparam com a própria língua em si, mas, se ocupava em ditar regras do que era correto ou incorreto.

Após o surgimento da gramática, outro estudo apareceu, desta vez surgindo a Filologia1, que se ocupou de estudar a língua nas suas diversas formas, levando em consideração que a língua precisa ser estudada na sua constituição da história literária, dos costumes e da sua instituição, comparando, decifrando e explicando o que estava embutido em uma linguagem arcaica. Outro período, que surgiu foi quando se pode constatar que as línguas poderiam ser comparadas entra si. Sabe-se então, que na língua tudo pressupõe diferenças, como com os valores da escrita, que só funcionou em oposição recíproca dentro de um sistema definido e composto por letras. Sendo assim, o valor das letras de uma pessoa para a outra reproduz diferenças. Para Saussure, uma mesma pessoa não escreve idêntica à outra.

2.3 A ESCRITA NA CONCEPÇÃO DE SAUSSURE

De acordo com Ferdinand Saussure 2006, o papel do linguista é conhecer um maior número possível de línguas. E isto só foi possível através da escrita. Segundo ele, mesmo no caso da língua materna os documentos interviram a todo momento.

Para Saussure, quando se trata de estudar um idioma que foi falado há algum tempo, se faz necessário recorrer à história da escrita, especificamente com aqueles idiomas que não existem mais. Neste caso, se fosse possível recorrer a tais documentos, seria necessário que estes tivessem sido registrados fonograficamente, mas sendo imprescindível recorrer à escrita para que estes se dessem a conhecer.

Com este entendimento, é necessário então distinguir Língua e Escrita. Conforme ele, a língua e a escrita distinguem-se entre si. Já que a escrita representa a língua. Logo o objeto linguístico não se consolida através da palavra escrita ou da palavra falada, pois a fala representada pela palavra, por si só se constitui. A palavra escrita se substancia tão profundamente quanto com a palavra falada, na qual a imagem retoma o papel principal com maior ressignificância ao signo vocal que ao próprio signo, neste sentido a escrita.

Saussure faz uso da metáfora, comparando à escrita e a língua falada com uma pessoa, e faz a seguinte distinção: para a língua se contemplaria o rosto e a escrita a fotografia. Para ele esta comparação seria uma ilusão, pois na medida em que as opiniões a respeito da língua se divergem, com a história da escrita não foi diferente. Para ele, a escrita também pode algumas condições atrasar as transformações da língua, mas contraria a essa ideia, a permanecia desta não foi de maneira alguma comprometida pela falta da escrita. Denota-se uma dicotomia na opinião de Saussure a respeito da língua e da escrita. Para ele a língua é de tradição oral, independente da escrita que categoricamente é fixa. Sendo assim, a imagem gráfica das palavras tem o poder de impressionar, sendo analisada como um objeto permanente e solidificado.

Já para os indivíduos, as impressões visuais possuem maior nitidez e mais durabilidade do que as impressões acústicas, ou seja, palavras ou códigos ouvidos. Para o autor, a língua aparece estabelecida por um código, e este código é representado pela escrita, com submissão de um uso rigoroso deste signo como se vê.“A ortografia, e eis o que confere a escrita uma importância primordial.”

“Acabamos por esquecer que aprendemos a falar antes de aprender a escrever, e inverte-se a relação natural.” (SASSURE, 2006, p.35). Neste pensamento de Saussure, denota-se uma leve critica em relação à palavra, e que esta apareceu antes da escrita, e que só depois se formalizou em outros paises.

Como a língua Lituana que se fala ainda hoje na Rússia Oriental, a mesma só foi reconhecida através de documentos escritos, a partir de 1540. Para ele, mediante a este acontecimento, é o suficiente para mostrar o quanto à língua independe da escrita. Com isso, ele considerava a palavra escrita com a tendência de substituir a palavra falada no individuo, para isso, ele exemplifica o seu pensamento fazendo uma comparação da escrita através do alfabeto Chinês. No seu entendimento, o sistema ideográfico na qual a palavra é constituída por um único signo, é o sistema fonético que busca reproduzir os sons que sucedem à palavra podem ser analisados como:

O ideograma e a palavra falada soam por idênticos motivos, signos da ideia; para ele, a escrita é uma segunda língua, e na conversação, quando duas palavras faladas têm o mesmo som, ele recorre amiúde á palavra escrita para explicar seu pensamento. (SAUSSURE, 2006, p.36).

Logo a palavra antes de ser descrita já realizou o seu processo de materialização na psique do indivíduo. Na concepção de Chartier (2002), este elogiando a escrita, diz que nas sociedades antigas, e até meados dos séculos XIX e XX, para as pessoas que não dominaram o sistema de escrita, estes recorriam à pena. Com este entendimento, o autor quis dizer que aqueles que não possuíam o dom da escrita pagavam para outros profissionais da escrita redigir documentos por alguns serviços prestados.

No conceito dos autores Ana, (1976, p.7), as categorias de entendimento através das quais o sujeito humano se utilizou para compreender e construir sua ação no mundo, não são absolutamente universalizáveis para todo o grupo humano. A língua, contexto nos quais tais categorias encontram expressão é parte deste fenômeno rico e complexo do trajeto antropológico do sujeito humano. A escrita ocupa ai neste tempo um lugar determinado, principalmente no que se refere á sociedade ocidental moderna.

Sendo assim, a aquisição da língua escrita confunde-se com uma distribuição de saberes e poderes em uma sociedade de classes. Logo, a escrita representa para todas as classes não só a sua participação em um mundo na qual a palavra escrita e inscrita é uma referência, mas representam as leis, acordos, contratos em mundo em que as classes dominantes compartilham deste legado. No pensamento de Saussure, este acrescenta que a partir desta inserção os signos não são mais isolados, é uma faculdade que desempenha um papel principal na sua organização. Com isso, é necessário analisar estes signos abordando os fatos sociais.

Neste sentido, Saussure afirmou que os valores contidos na escrita, só tem funcionalidade devido a sua oposição agregada a um sistema definido, formado por uma quantidade de letras. Este conceito, sem se identificar com o segundo, está unido um ao outro, pois ambos dependem um do outro. Sendo assim, ele considera o signo gráfico como sendo arbitrário, ou seja, não tem importância em meio aos limites determinados pelo sistema.

Ademais, quando se observa que o signo pode ser estudado socialmente, absorvem-se apenas as características da língua que as ligam as outras instituições, que estejam ligadas a nossa vontade e não atinge a meta, pois nega as características subjacentes a um mesmo sistema semiológico, exclusivamente na língua. Neste parâmetro conceitua-se que o signo foge sempre na perspectiva individual ou social, estabelecendo o seu estado necessário, e isto é, de acordo com Saussure, o que não se observa em um primeiro momento.

Já com do ponto de vista de Bakhtin (1981), o signo refrata um momento real em transformação. Para ele, todo signo é ideológico, mas o mesmo não descarta a afirmação de Saussure que o considera como social. Com isso Bakhtin, afirma que as palavras são formadas através de um grande número ideológico, servindo como um envolvimento em meio às relações sociais e os seus domínios. Na verdade, é a palavra que dará a ordem para todas as transformações sociais, mesmo aquelas que ainda estão em fase de transformação e que ainda não constituem em suas transformações estruturas bem solidificadas.

Assim sendo, é pela palavra ou signo que se vai acumulando as grandes quantidades de transformações, em detrimento das que ainda não foram transformadas. Para Bakhtin, no sentido mais amplo, a palavra tem a competência de descrever os momentos mais íntimos e passageiros das mudanças sociais. No seu entendimento, todas as manifestações verbais estão:

“Por certo ligadas aos demais tipos de manifestação e de interação de natureza semiótica, a mimica, a linguagem gestual, os gestos condicionados e a escrita. (BAKHTIN, 1981, pág. 42)”.

Com esse deslocamento da interação verbal, o individuo se situa e encontra significados para a sua condição social, manifestada pela palavra ou signo. Outro ensinamento de Bakhtin (1981), é que todo signo resulta de uma aceitação entre as pessoas, e que estão organizadas por meio de um processo de interação.

E se este signo sofrer alteração em sua forma e na sua organização social, com tais mudanças o signo se transforma. Entende-se então, que a ciência responsável em estudar esta transformação no signo, é a ciência ideológica, que irá estudar a sua evolução social e linguística. Para ele, somente através desta abordagem é que se pode dar significância ao signo, como sendo um elo influente do signo com o ser, na medida em que reafirma a inserção do ser com o signo.

Enfim Bakhtin, em suas considerações discorre que todos os processos ideológicos tiveram reflexos na língua em enorme projeção, e também no mundo da história, com isso, ela foi objeto de estudo da Paleontologia, das significações Linguísticas, pondo em transparência a junção dos planos do que foi real, e com diferenças em um horizonte social no período Pré - histórico. Nestes tempos atuais, com uma certa redução, a palavra como se analisa demonstrou mudanças em meio a existência social.

Retomando as considerações de Saussure, que esclarece que por meio das faculdades receptivas nos indivíduos, é que se formam as marcas que chegam a todos. Sendo assim, considera-se que esse produto social que constitui a língua é um tesouro que se utiliza pelos indivíduos pertencentes a uma mesma comunidade, com um sistema gramatical que está depositado em cada cérebro, ou seja, em um conjunto de indivíduos, visto que a língua não está realizada somente com uma pessoa, e é só na massa que ela existe de maneira completa.

Para Saussure (2006), a língua difere da escrita, mas ambas necessitam uma da outra para subsistir. Ela é um signo bem organizado nos fatos e acontecimentos da linguagem. Ela é a parte social da linguagem, e está exteriorizada em um individuo, e este por si só, não pode criá-la e nem transformá-la, ela somente existe a partir de um contato estabelecido entre os integrantes de uma mesma comunidade.

A língua em seus níveis pode ser estudada separadamente, já que é homogênea, na qual é constituída por um sistema de signos, em que consiste estar unida e dar sentido através das representações acústicas, representando uma junção dos signos igualmente psíquicos. Com este pensamento de Saussure, infere-se que os signos são representados por meio da língua, são sensíveis, e a escrita possui a capacidade de fixá-los, em imagens, contrário a essa ideia seria impossível fotografar todos os entremeios dos atos da fala.

Com este entendimento, sabe-se que na língua não existe se não uma imagem acústica, sendo traduzida em uma imagem visual. Para Saussure, cada imagem acústica é uma ligação com um reduzido número de elementos ou fonemas, que por sua vez, são chamados com um número exato de signos na escrita.

Determina-se que a língua é constituída e analisada como uma instituição social, com distinção de outras instituições sociais, neste caso da política, jurídicas entre outras. Neste sentido, a língua é um sistema de signos que dão significância as ideias, e é comparada á escrita ao alfabeto dos surdos-mudos aos ritos simbólicos, as formas de polidez, entre outros.

2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo da história da escrita, os estudos sobre este signo apontaram vários caminhos e estudos para concretizar o inicio desta inserção semiótica. Sabe-se que os primeiros estudos se realizaram na Suméria. Neste sentido, o período que concretizou esta descoberta, foi o período da pré-história. Neste ínterim, as primeiras impressões que sobressaiam eram vistas nas paredes das cavernas, nas pedras e argila. Com o desenvolvimento surgindo a cada dia, e a evolução do homem, outras necessidades foram aparecendo e através destas, outras maneiras de ressignificar através da escrita.

Assim, o que até então eram escritos nas paredes começou a ter significado, transparecendo assim decodificados em outros suportes neste sentido, o papel. Mediante a este entendimento, é que o presente artigo, trouxe algumas considerações a respeito do surgimento da escrita, e a distinção deste signo na concepção de Saussure. Outrora, embasados por outros historiadores discorreu sobre o referido tema, com a certeza de que outros estudos virão, já que a escrita na história da linguagem, não pode ser dissociada uma da outra, mas, analisada cada uma, mediante a sua especificidade.

Ao longo do percurso da história da escrita, pode se constatar que a mesma ultrapassou limites e continua percorrendo caminhos, e se tornando um signo que a cada dia vem ocupando espaços nos mais diversos suportes. Sendo assim, o presente artigo, propôs trazer alguns conceitos historiográficos a respeito da escrita. O objetivo foi pontuar algumas considerações a respeito do surgimento da mesma ao longo da história.

Trouxe algumas considerações a respeito de Saussure e a distinção e motivação para entender a escrita, com uma visão diferente da língua. Com este seguimento no pensamento de Saussure, foi necessário apresentar os principais conceitos a respeito da escrita, e o que representou para o homem da pré-história, até o presente momento para o homem contemporâneo.

2.4 REFERÊNCIAS

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BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Cultrix. São Paulo: 1981.

BARBOSA, J.J. Alfabetização e leitura. Cortez. São Paulo: 2013.

CHARTIER, Roger. Os desafios da escrita. Tradução de Fulvia M. L. Moretto. São Paulo: editora UNESP, 2002.

COTRIM, Gilberto. História Global Brasil e Geral. São Paulo: Saraiva 2005.

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GAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. Scipione. São Paulo: 1988.

GEORGES, GOURY. Origene et évolution de l’Homme. (Origem e evolução do homem.) Época Paleolithique. Paris: 1948.

HOMET, Marcel Filho. Os Filhos do Sol: nas pegadas de uma cultura pré-histórica no Amazonas. São Paulo: Ibrasa, 1959.

LUIZA, Ana. ANCHANTE, César. RIETH, Flavia. MANETZERDER, Ivete. FALEIRO, Lisiane. MONTEIRO, Maria, de Fátima. Identidade e Grupo. Estudos Sociais e Construtivismo. Edelbra. Erechim, Rio Grande do Sul: 1997.

elenidesfrancisco de freitas e PROFESSORA DOUTORA ELZA SABINO
Enviado por elenidesfrancisco de freitas em 07/12/2018
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