DESENREDO, conto de J. G. ROSA

Caráter linguístico inovador das obras do ROSA, narrador exímio + pensamento profundo - linguagem plástica, profundamente poética, aproveitamento de ritmo e rima funcionais - linguagem e maestria da fábula, plasticidade da descrição, homens e paisagem irmanados e entrosados no mesmo espírito de luta pela vida.

Em SAGARANA, conto "O burrinho pedrês" - "A vaca bruxa contra-esbarra e passa avante o choque, calcando o focinho no toutiço do mocho. Empinam-se os cangotes, retezam-se os fios dos lombos em sela, espremem-se os quartos musculosos, mocotós derrapam na lama, dançam no ar os perigalhos, o barro espirra, engavetam-se os magotes, se escoram. escouceiam. / Dançando estão, dançando vão, as casas todas, em procissão."

DESENREDO - livro "TUTAMEIA - TERCEIRAS ESTÓRIAS":

"Do narrador a seus ouvintes: - Jó Joaquim, cliente, era quieto, respeitado, bom como o cheiro de cerveja. (...) Era infinitamente maio. (...) E pôs-se a fábula em ata."

NARRADOR, traço de oralidade, estória contada em voz alta - não sabe o real nome da moça.

1---Título do conto - comumente, o conto amplia as ações para chegar ao desfecho: este simplificou as ações para chegar ao mesmo desfecho.

2---22 parágrafos - Resumo: encontro com moça -- traição da amante -- afastamento do amante -- novo encontro com a moça -- nova traição da amante -- novo afastamento do amante -- negação do amante -- conversão do povo -- reencontro final / ou seja: primeira traição -- segunda traição --conquista da felicidade.

3---Vocabulário - abusufruto - abuso e usufruto; ufanático - ufano e fanático.

4---Narrador observador (mais narração que descrição) -- nome intencional do protagonista simboliza a paciência, como o Jó da narrativa bíblica -- enredo complexo -- nomes variados da deuteragonista (na Grécia antiga, segundo papel nas tragédias), Livíria-Rivília-Irvília - se prendem ao caráter da personagem: afetividade voluvel -- pseudopersonagem por estar à margem dos fatos -- protagonista descrito com mais intensidade psicológica --- narração resume mais fantasia -- ao início, tempo cronológico, ao final, tempo psicológico: ele era quieto, mas tornou-se comunicativo para purificar a amante; logo, personagem redonda porque evolui sempre; ela, personagem plana, acreditou na própria inocência, mas nada prova evolução de caráter. Convencer a todos que Vilíria, nome correto, nada fizera de reprovável... realidade moldada em novos enredos: crença no poder criador erestaurador da palavra (crença no platonismo e no *mito de Orfeu).

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5---Os tempos se parafraseiam: morto o marido, Jô Joaquim juntou-se (ou casou-se) com a moça e lhe aconteceu o que acontecera ao marido - repete-se todo o primeiro espisódio.

6---Expressões - "As aldeias são a alheia vigilância." = A cidade pequena está cheia de gente fofoqueira. / "Todo abismo é navegável a barquinhos de papel." = Passa despercebido o que é pequeno. / "O tempo é engenhoso." = O tempo traz remédio a tudo. / "Esperar é reconhecer-se incompleto." = É espera passiva / "O real é válido, na árvore, é a reta que vai para cima. = De tanto falar, a palavra quebra a resistência, como a árvore que enfrenta os ares.

7---Conto nunca pertencente a estas escolas literárias - a) clássica porque falta o predomínio da razão -- b) barroca - porque faltam as contradições, os dois pólos da convergência do assunto -- c) romântica porque faltam o sentimentalismo e a paisagem -- d) simbolista porque falta o mundo interior inconsciente.

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NOTA DO NARRADOR:

*Mito de Orfeu - Na mitologia grega, poeta promissor que persuadiu os deuses com seu belo canto poético.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 15/08/2018
Código do texto: T6420085
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