Voadejo
Sabe aquela poeirinha
Que vive livre a voar
Subindo a réstia de luz
Cintilando sem parar?
Soltando um limpio lampejo
O seu nome é voadejo
Foi assim que eu ouvi falar.
Certa noite eu sonhei
Numa casa bem singela
Havia um Claro de sol
Que vinha de uma janela
Nesse Claro ia e vinha
Uma fina poeirinha
Dessas que gruda em flanela
Alguém se pronunciou
E se pôs a indagar
O que é essa poeirinha
Todo tempo a flutuar?
Disso sempre quis saber
Da manhã ao entardecer
Ela está sempre no ar
O senhor dono da casa
À ingênua indagação
Respondeu pacientemente
Sem qualquer contestação
Essa coisa que eu vejo
Nós chamamos voadejo
Isso cá tem de montão
Havia um grupo na casa
Que ficou maravilhado
Com o sentido do termo
Elegante e bem bolado
E sobre o termo em questão
Não faltou opinião
Deram um significado
A poeira que cintila
Reflete luz radiante
É um misto de elementos
De quantidade gigante
Não sei se isso conforta
Tem resto de pele morta
O que é mais abundante
Outro então respondeu
Isso é pele descamada
E também grãos de poeira
E ácaros, meu camarada
Isso assenta em todo canto
Cobre tudo como um manto
De camada em camada.
Após essa explicação
De caráter cientista
Outro assunto persistiu
Um dilema de linguista
Acharam o nome hilário
Recorreram ao dicionário
Não viram nenhuma pista
O debate prosseguiu
Numa boa atmosfera
Pois o grupo em questão
era de uma alta esfera
Fizeram um rol de argumento
Em favor do incremento
Lá na fila de espera
Chegaram à conclusão
Quando o termo vem do Povo
Deve ser bem acolhido
Sem propensão ao estorvo
E em prol da pragmática
Sugeriram à gramática
Adotar o termo novo
E após a discussão
Chegaram a um consenso
Depois de um longo debate
Emocionante e tenso
Em favor da inclusão
Da palavra em questão
Fizeram um texto extenso
O documento escrito
Acatava a opinião
Em favor de tal palavra
Sob o aval da razão
Com grande sabedoria
Um dos assuntos dizia
A seguinte citação
A palavra não falada
Desprezada pela língua
Pouco a pouco desvanece
No esquecimento ela míngua
Toda língua só existe
Se bravamente persiste
De uma forma contínua
Foi assim que eu despertei
Desse sonho interessante
E fiquei a questionar
Sobre o fato incitante
Foi algo sem precedente
Nunca mais saiu da mente
O tal termo elegante