FONÉTICA SINTÁTICA

1---RITMO FRASAL: VOCÁBULO FONÉTICO - Os fonemas combinados em sílabas tônicas e átonas formam palavras que se organizam em frases: “O homem que sorri, está feliz.” - 6 vocábulos. // Mas no ato da fala, as palavras se aproximam em grupos, com uma unidade de sentido que podem reunir-se indiferentemente : “O homem - que sorri - está feliz” = “Está feliz - o homem que sorri”. // Ouve-se apenas 3 ou 2 vocábulos fonéticos ou grupos intensivos. Isto se deve ao ritmo intensivo (sílabas tônicas e átonas) da nossa língua. Em cada grupo intensivo, a sílaba tônica do último vocábulo representa o acento dominante do grupo: “homem / sorri / feliz”. Nessa situação, certos vocábulos perdem sua independência fonética, unindo-se a outro que os segue ou precede - são os vocábulos átonos ou clíticos (que se inclinam); o vocábulo que mantém individualidade fonética é chamado tônico. // Exemplos: pode ser = podi(át.)sser(tôn.) --- as armas = az(át.)armas(tôn.) --- arco(át.)-íris(tôn.) --- grande(át.)homem(tôn.) // Outros exemplos de grupos intensivos: Ele / tinha sido / um grande rei. --- Não há bem / que sempre dure. --- Lá vem o jornaleiro / que traz notícias / para todos. --- Tempo de férias / acaba logo. // Outros exemplos também: diz-que-diz --- qualquer um de nós --- poema da cidade --- ritmo intensivo --- caminho da esperança --- segredo de Estado --- pelas ruas da cidade --- um cabo de vassoura.

2---PRÓCLISE - Como consequência, temos a redução de certos vocábulos pois desaparece a sílaba final do dissílabo: santo = são (São Paulo) --- cento = cem (cem livros) --- grande = grã, grão (grã-cruz, grão-duque) --- tanto = tão (tão ilustre) --- quanto (quão belo). // Outras reduções: senhor - sinhô, inhô, nhô, sô, seu --- senhora - nhora, sinhá, nhanhã, Iaiá --- vossa mercê -vosmecê, vancê, você, ocê, cê. // Perda da sílaba inicial na fala popular: deixa ver = xá vê --- deixa eu ver = xô vê --- espera aí = pêra aí, peraí --- estou esperando = tô perando. // Supressão de uma sílaba igual ou semelhante à outra contígua (haplologia): caldo de cana = caldecana, caldicana.

3---ONOMATOPEIA - Palavra que imita ruído: vozes dos animais (miar, ganir, uivar etc.), reco-reco-, tique-taque, ping pong, trrriiim etc.

4---Poema “Trem de ferro”, de MANUEL BANDEIRA, livro ‘Estrela da manhã’ (1936) - Interpretação:

Época do poema - trem de ferro, meio de transporte e comunicação: essencial para a economia agrícola do país / caráter lúdico, imagens acústicas, musicalidade / poema imita o movimento ritmado e o som de um trem de ferro / três primeiros versos, tetrassílabos, velocidade linear, início da viagem. Possivelmente bem cedo: “café com pão”, refeição matinal / o vocábulo fonético ou grupo intensivo ‘café com pão’ foi usado para marcar este ritmo poético e o som das rodas do trem nos trilhos / no poema, o narrador é o próprio trem / vogal ‘i’ é usada frequentemente para sugerir som agudo, estridente, como o de um apito; aparece com esse objetivo em “Virge Maria que foi isso maquinista?” / “Muita força”, aceleração progressiva / paisagem: bicho povo ponte poste pasto boi boiada galho de ingazeira riacho / estrofe que melhor representa, pelo ritmo marcante, o trem em velocidade - a quarta / das duas modalidades da língua - a popular e a literária - predomina a cultura popular e oral: “Virge - prendero - canaviá - oficiá - pra matá - mimbora” / trem de carga, mais produtos agrícolas que pessoas / trem se afastando - última estrofe: “Pouca gente / Pouca gente / Pouca gente”.

LEIAM “Dois poetas recifenses” - há um interessante jogral ali...

NOTAS DO AUTOR:

1-Poema “Evocação do Recife”, infância do poeta: Num tempo antigo, havia o “Lá longe o sertãozinho de Caxangá”, a 11 quilômetros do centro da cidade... Vai ver, o trem era este!

2-Musicalizado em 1986 por Tom Jobim.

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