LÉXICO
LÉXICO significa reunião dos vocábulos de uma língua. A linguagem é uma instituição humana, invenção para possibilitar a comunicação na vida social, isto é, em grupo, as comunidades linguísticas.
Pesquise a crônica lírico-humorística ANTIGAMENTE, de DUMMOND - ideia central é que palavras, expressões e costumes se modificam com o tempo: ‘quase’ um inconformismo pelas mudanças.
“Entre coisas e palavras, circulamos. As línguas são mutáveis constantemente e certas palavras não são dicionarizadas há décadas. Anote as ‘novidades’ e de repente você não entende a linguagem do seu avô.” - Adaptação do fragmento de uma crônica de CDA.
Palavras antigas: animatógrafo, artioso, botica, cabrito, carniceiro, carmim, catinga, cometa, defluxo, gálico, janota, phtysica, quitanda, velhaco, vidro de cheiro X substituídas por: cinema, levado, farmácia, rapaz muito jovem, açougueiro, batom, mau cheiro, vendedor ambulante, resfriado, sífilis, elegante, tuberculose, biscoitos e doces em tabuleiros, de má índole, perfume.
A linguagem que envelhece mais rapidamente é a coloquial, principalmente as gírias. O tempo passa, as expressões mudam......... ALGUMAS EXPRESSÕES BRASILEIRAS ANTIGAS /linguagem coloquial do final do século XIX e inicio do século XX/ e respectivas “traduções”:
Arrastar a asa - paquerar -- boca na botija - flagrante -- dar às de vila-diogo - fugir -- dar com os burros n’água - fracassar -- estar em calças pardas - grandes dificuldades -- fazer pé-de-alferes - namorar, paquerar -- ficar a ver navios - sem nada do que pretendia -- meter a mão em cumbuca - cair em armadilha -- ouvir o galo cantar, sem saber onde - afirmação incorreta sem exato conhecimento do assunto -- passar a manta - enganar -- pregar em outra freguesia - ir para longe ou falar com outra pessoa -- tirar o cavalo da chuva - perder esperança -- tirar o pai da forca - estar apressado.
CARÁTER INSTÁVEL DO LÉXICO, setor da língua imediatamente atingido pelas incessantes mudanças do meio sociocultural, desgaste da linguagem sem recuperação - numerosos, num permanente jogo de vaivém, segundo as necessidades de comunicação ou queda em desuso (referente cultural perdeu vitalidade, saiu de circulação). Mata-borrão, papel especial, poroso, aplicado sobre a tinta para secá-la; hoje basicamente não mais existe caneta-tinteiro, “coisa do passado”, e ninguém mais sabe o que era mata-borrão. O sistema de pronomes pessoais envolve número reduzido e fixo, sem variações X as palavras que envolvem ‘calçado’, conforme experiências culturais e condições socioeconômicas de cada grupo de pessoas - sandália agora é rasteira.
A comunicação humana por meio da língua verbal baseia-se em 2 princípios: seleção de elementos do código linguístico e combinação desses elementos entre si segundo certas regras. No exemplo da palavra ‘par’, a ordem imposta às unidades selecionadas (letras) “não” produziu ‘arp ou rap’ - princípio de seleção é o paradigma, o da combinação constitui o sintagma. Em “recorrer”, temos o signo ‘re’, oposições em “correr” e “transcorrer”, o que não ocorre em “relaxar”.
O valor de um signo depende do sistema a que ele pertence e assim o estudo/ensino do vocabulário tem em vista conjuntos de palavras delimitadas a certas relações semânticas, isto é, de significado - por exemplo, os sinônimos.
ESTRUTURA DO LÉXICO -- Historicamente, o LÉXICO português tem base latina (ou veiculada pelo latim) e teve contato com vocábulos árabes, italianos (em especial na música), franceses, ingleses e outros; em particular no Brasil, tupis (toponímias) e africanos.
Pesquisem de DRUMMOND a crônica NHEMONGUETÁ, língua tupi, livro “O poder ultrajovem”.
ESTUDO DO LÉXICO 1 - Algumas opções para o estudo/ensino do léxico: a) descrição dos processos de composição e derivação dos vocábulos (estrutura, como são formados); b) mudanças de sentido; c) análise do vocábulo dentro de um texto; d) vocabulário de determinada atividade.
Pesquisem de DRUMMOND a crônica NÃO DEU PARA ENTENDER (terminologia medica - Rio, Jornal do Brasil, 16/7/74) e em seguida a crônica esclarecedora DEU, SIM, PARA ENTENDER - JB, 23/7/74).
2 - AJuda a avaliar as tendências culturais de uma comunidade. Jornais revelam a incidência de palavras-chave do momento político, intelectual, religioso, econômico e social. A história político social portuguesa reflete-se bastante em nomes de lugares, vestígios do período pré-romano da Península Ibérica: Coimbra (do latim Conimbriga), Mondego (do latim Mondaecus) e outros. Dominação romana em Castro, ‘fortaleza’ (na Espanha, diminutivo Castela) e Sagres (ablativo plural Sacris, de ‘sacer’, sagrado; da época cristã, exemplo religioso Santarém (lat. Santa Irene); do domínio visigótico, nomes de lugares, tirados do nome do proprietário germano - Resende, Guimarães (genitivo alatinado) e outros, em especial no norte do país e na Beira /sul dominado pelos árabes/.
MOTIVAÇÕES DA RENOVAÇÃO LEXICAL - Não há palavras já constituídas para as ideias que a mente humana produz, ou seja, necessária a criação de palavras novas, os NEOLOGISMOS. Derivações e composições neológicas (na gramática, ‘formação de palavras’). Fartura de -ão, em especial na linguagem popular urbana (a noção de aumentativo denota euforia, impacto, arrojo e opulência coletiva: Mengão, Mineirão, porção, orelhão, fuscão, minhocão......... Léxicos recebendo conotações novas em função de novas experiências sócias e políticas: sufoco, distensão, gratificante......... vulgarização de termos antes restritos à técnica da comunicação: defasagem, feed-back......... // Há diferenças na formação de certas palavras, como ‘fidalgo, vinagre’ aglutinação) e ‘guarda-roupa, cabisbaixo’ (justaposição). Fácil distinguir entre palavras primitivas e derivadas, nos casos de ‘pedra - pedreira, pedregulho - laranja, laranjal - banana, bananeira’, mas há casos em que é menos lúcida a relação entre derivante/derivado: para o falante comum, ‘esquecer, esquecimento, esquecedor, esquecediço’; para o linguista, é alteração de ‘escaecer’, palavra por sua vez derivada de caer’, forma antiga de ‘cair’; para o falante comum, ‘receber’ é verbo primitivo, elemento formativo re-, não existindo verbo ‘ceber’; para o linguista, volta ao latim, análise erudita, ‘re+cipere<re+capere’. Assim, explicar ‘esquecer, receber, vingar, julgar, resistir etc. - antigos verbos derivados que passaram a funcionar como verbos primitivos. Nada tão complicado como parece!
FONTE (PARTE):
“O léxico e seu ensino”, de José Carlos Santos de Azeredo - Rio, revista DIÁLOGO, Fundação Cesgranrio, julho/1976.
F I M