Mito gramatical: ‘’Quando a preposição DE estiver diante de um pronome-sujeito de um verbo no infinitivo, não pode haver contracção entre a preposição e o pronome’’. (por Caetano Cambambe)
Ainda se verifica, nos dias de hoje, uma regrinha gramatical equivocada, muito bem elaborada e inventada pelo gramático Grivet no século XIX, numa sua gramática publicada em 1881.
Grivet, confundindo análise lógica com a análise sintáctica e fonológica, fez questão de produzir uma regra que, embora se passasse dois centenários, ainda se é repetida nos dias de hoje, estampada em quase todos os prontuários e muito bem presente em espaços que se dedicam à explicação, ao estudo e ao ensino da Língua Portuguesa.
Após Grivet inventá-la, alguns gramáticos renomados seguiram, como aqui em Angola se fala, ‘’a bala dele’’. É o caso de Rebelo Gonçalves e Eduardo Carlos Pereira, elementos que, após a invenção daquela regra por Grivet, expandiram aquele equívoco analítico. Portanto, essa expansão toda se deve (ou deve-se, quer deseja) àqueles senhores que, segundo Moreno (2005, p. 16), viveram tempos antes da presença do grande Ferdinand de Saussure, o pai da Linguística Moderna.
Afinal, de que estamos falando (ou a falar)?
Acho que toda gente já leu isso e que, devido ao equívoco de Grivet (1881), anda até hoje corrigindo pessoas que fazem o uso inverso dessa regra surgida de uma confusão analítica. Por exemplo, devido a essa confusão, a gramática tradicional considera errada a seguinte frase: ‘’hoje é dia DEle voltar para casa’’.
Por que considera errada?
Considera errada porque, segundo o erro cometido por Grivet, por ELE ser o sujeito e aparecer diante de um infinitivo verbal, não pode ser contraído com a preposição DE.
Ora, para Moreno (2005, p. 16), em <‘’hoje é dia dele voltar para casa’’, o DE não está regendo o pronome ELE, mas sim toda a oração infinitiva, da qual o pronome é o sujeito: ‘’hoje é dia DE +[ele voltar para casa]’’>.
Ainda de acordo com ele, ‘’Celso Pedro Luft e Evanildo Bechara perceberam que o equívoco dos velhos mestres [aqueles que mencionei mais acima] nasceu da confusão entre SINTAXE e FONÉTICA. A transformação da frase ‘’a hora de ele voltar’’ em ‘’a hora dele voltar’’ é de origem FONÉTICA (é a tradicional elisão), mas não afeta o plano da sintaxe (não houve subordinação de ele a dia)>.
Na fala, segundo esse autor, é obrigatório que haja a elisão (afinal, ninguém dentre nós pronuncia DE+ELE em vez da forma contraída DELE); no plano gráfico da língua, foi utilizado por alguns escritores renomados, nomeadamente por Machado de Assis (‘’São horas DA baronesa dar o seu passeio’’, apud Moreno, 2005, p. 17) e Camilo Castelo Bravo (‘’Antes DELE avistar o palácio de Porto Alvo’’, idem)
Portanto, para Evanildo Bechara (apud Moreno, 2005, p. 17), quando não se contrai a preposição com o pronome, é simplesmente por motivos ‘’estilísticos’’, em que o principal objectivo é dar relevância à preposição, evitando o ‘’enfranquecimento’’ dela pela elisão. Quando não se contrai, é por razões estilísticas e não gramaticais.