AprendizA ou aprendiz? (por Caetano Cambambe)

Segundo o Bom Português (2015, pág. 28), o feminino de ‘’aprendiz’’ é ‘’aprendiza’’.

A gente sabe que, por lei, Angola segue o Padrão Europeu. Ora, por seguirmos, isso não significa dizer que devemos esquecer-nos da nossa realidade linguística, ou seja, tentar tapar o sol com a peneira como se nada estivesse a acontecer. É necessário que desconstruamos tudo aquilo que aparece em livros didácticos, em gramática e prontuários oriundos de Portugal, com o objectivo de contextualizarmos o que está no livro (teoria) e o que aqui se fala e se escreve (prática).

Isso de facto que pouca gente faz, pois a maior parte dos Professores faz/em questão de reproduzir (o tempo todo) o que está no livro (às vezes coisas até que a gente não faz uso) na sala de aula, esquecendo-se da realidade do seu país. Aliás, esse ensino de Português em Angola não é para pessoas que têm o português como língua materna. Ensina-se de forma contrária.

Em oposição ao que talvez esteja em uso em Portugal, nós em Angola dissemos ‘’ela é umA aprendiZ no que à culinária diz respeito’’, e nunca ‘’ela é umA aprendizA no que à culinária diz respeito’’.

Em suma, o nome aprendiz, quanto ao género, no Português Angolano não varia. Isto é, há uma só forma para o masculino e para o feminino. Logo, é um nome comum de dois, em que a marcação de género faz-se apenas por uma anteposição de um artigo (um aprendiz, o aprendiz, para o masculino; uma aprendiz, a prendiz, para o feminino).

Ao falar sobre o caso em sala de aula, o professor, para além de ensinar a Norma Culta, terá de a contextualizar em relação ao que em Angola se usa, demonstrando aos seus alunos essa ilha linguística existente entre a Norma Europeia e o que pragmaticamente em Angola se fala e se escreve, o que não é erro. É simplesmente uma nova norma (local) sobrepondo-se à antiga (estrangeira).

Ao se aperceber disso, o estudante terá uma cosmovisão linguística abrangente, podendo assim entender as razões por que (pelas quais) inúmeras pessoas têm esse falar: a língua varia no tempo e no espaço. Sabendo disso, o estudante jamais vai corrigir alguém que, ao querer referir-se ao género feminino, utiliza uma outra regra (angolana) distinta da estrangeira (portuguesa).

CaetanoCambambe
Enviado por CaetanoCambambe em 08/03/2017
Código do texto: T5934318
Classificação de conteúdo: seguro