O Emprego do Infinitivo Flexionado
Emprego distintivo
De acordo com Cunha & Cintra (2000:482), o emprego das formas flexionada e não flexionada do infinitivo é uma das questões mais controvertidas da sintaxe portuguesa.
Por conta dessa controvérsia, é mais acertado falar não de regras, mas de tendências que se observam no emprego de uma e de outra forma do infinitivo.
Emprego da forma flexionada
O infinitivo assume a forma flexionada:
a) Quando tem sujeito claramente expresso:
Mas o curioso é tu não perceberes que não houve nunca «ilusão» alguma.
Vila Nova lembrou que o melhor era irem todos logo falar ao Bom Jesus.
b) Quando se refere a um agente não expresso, que se quer dar a conhecer pela desinência verbal:
- Acho melhor não fazeres questão.
Bom seria andarmos nus como as feras.
c) Quando, na 3a pessoa do plural, indica a determinação do sujeito:
Ouvi dizerem que Maria Jeroma, de todas a mais impressionante, pelo ar desafrontado e pela pintura na cara, ganhara o serão.
O culpado de tudo é aquele tal Doutor Reinaldo. Por que não deixou levarem a sujeita para o recife?
d) Quando se quer dar à frase maior ênfase ou harmonia:
Tomar um tema e trabalhá-lo em variações ou, como na forma sonata, tomar dois temas e opô-los, fazê-los lutarem, embolarem, ferirem-se e estraçalharem-se e dar a vitória a um ou, ao contrário, apaziguá-los num entendimento de todo repouso… creio que não pode haver maior delícia em matéria de arte.
Aqueles homens gotejantes de suor, bêbedos de calor, desvairados de insolação, a quebrarem, / a espicaçarem, / a torturarem a pedra, / pareciam um punhado de demónios revoltados na sua impotência contra o impassível gigante.
Conclusão: A escolha da forma infinitiva é condicionada somente pelo intuito ou necessidade de evidenciar o agente da acção. É um emprego selectivo, mais estilístico que gramatical.
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BIBLIOGRAFIA:
CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Lisboa, Edições João Sá da Costa, 16a edição, 2000. (PP. 482 - 487)