"Dúvidas Linguísticas!" (Revisar é sempre bom!)


Infinitivo em orações subordinadas infinitivas completivas [Flexão verbal / Concordâncias]
Em primeiro lugar é preciso saber que um verbo no Infinitivo é o nome dele.(amar, passear, brincar e por aí, vai)
Qual será a oração correta? Vamos ver? Leia o texto abaixo:
. Diz-se "Já tens idade para SER responsável." ou "Já tens idade para SERES responsável."? Outro exemplo, "Ele mandou-os FAZER o trabalho." ou "Ele mandou-os FAZEREM o trabalho."? Para finalizar, "Elas gostam de se MAQUIAR." ou "Elas gostam de se MAQUIAREM."?
Inês Simões (Portugal)

Nos casos em análise, estamos perante o uso do infinitivo (flexionado/pessoal ou não flexionado/impessoal) em orações subordinadas infinitivas completivas, isto é, que servem de complemento a algum constituinte.

Em geral, costuma afirmar-se que o infinitivo pessoal ou flexionado deve ser utilizado quando na oração subordinada infinitiva há um sujeito diferente do sujeito da oração principal, mas esta indicação é apenas uma referência, pois em muitos casos trata-se de escolhas estilísticas, onde não há respostas peremptórias.

No primeiro caso ("Já tens idade para SER responsável. / Já tens idade para SERES responsável.") estamos perante uma completiva de nome, pois "para ser responsável" é complemento do substantivo "idade", sendo o sujeito de ambas as orações o mesmo ([tu]), embora não esteja expresso. Nesta construção, é possível encontrar quer o infinitivo não flexionado, quer o infinitivo flexionado (ex.: fizemos a promessa de voltar/voltarmos lá; estás com medo de estragar/estragares o trabalho feito).

No segundo caso ("Ele mandou-os FAZER o trabalho. / Ele mandou-os FAZEREM o trabalho.") estamos perante uma completiva que faz parte do complemento direto, pois "-os fazerem o trabalho" é complemento direto de "ele mandou". Nesta construção (ou em construções semelhantes), quando os sujeitos das duas orações são diferentes (ele / os) será mais frequente, e mais facilmente aceite pelos falantes, o infinitivo flexionado (ex.: via as crianças brincarem no parque; aconselhou os alunos a estudarem), mas o infinitivo não flexionado também é possível e aceite (ex.: via as crianças brincar no parque; aconselhou os alunos a estudar).

No terceiro caso ("Elas gostam de se MAQUIAR. / Elas gostam de se MAQUIAREM.") estamos perante uma completiva com função de complemento preposicionado. Nesta construção, e tendo os sujeitos das duas orações a mesma referência (elas gostam / [elas] maquiarem-se), parece ser mais frequente e mais aceite o uso do infinitivo não flexionado (ex.: obrigaram-se a respeitar o espaço um do outro; concordamos em falar sobre o assunto), mas o infinitivo flexionado também é possível (ex.: obrigaram-se a respeitarem o espaço um do outro; concordamos em falarmos sobre o assunto).

Sublinhe-se novamente que não se pode falar de regras categóricas relativamente a este tópico porque se trata de uma questão mais do campo da estilística do que do campo da gramática, tal como afirmam Celso Cunha e Lindley Cintra na sua Nova Gramática do Português Contemporâneo (14.ª ed., Edições Sá da Costa, Lisboa, 1998, p. 482): "O emprego das formas flexionada e não flexionada do infinitivo é uma das questões mais controvertidas da sintaxe portuguesa. Numerosas têm sido as regras propostas pelos gramáticos para orientar com precisão o uso seletivo das duas formas. Quase todas, porém, submetidas a um exame mais acurado, revelaram-se insuficientes ou irreais. Em verdade, os escritores das diversas fases da língua portuguesa nunca se pautaram, no caso, por exclusivas razões de ordem gramatical, mas viram-se sempre, no ato da escolha, influenciáveis por ponderáveis motivos de ordem estilística, tais como o ritmo da frase, a ênfase do enunciado, a clareza da expressão. Por tudo isso, parece-nos mais acertado falar não de regras, mas de tendências que se observam no emprego de uma e de outra forma do infinitivo.
Bibliografia: Eduardo RAPOSO - Gramática do Português, 1.ª ed., vol. II, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, pp. 1901-1977.
Maria Helena Mira MATEUS- Gramática da Língua Portuguesa, 5.ª ed., Lisboa: Editorial Caminho, 2003, pp. 621-625.
Celso CUNHA, Lindley CINTRA- Nova Gramática do Português Contemporâneo, 14.ª ed., Lisboa: Edições Sá da Costa, 1998, p. 482.
Maria Augusta da Silva Caliari e pesquisa IG e imagem do google
Enviado por Maria Augusta da Silva Caliari em 02/02/2017
Código do texto: T5900545
Classificação de conteúdo: seguro