Afinal, quem dita as regras na língua? (por Caetano Cambambe)
A maior parte daquelas regras que vimos naqueles manuais não se baseia/baseam no que geralmente se fala e na contemporaneidade da realização linguística.
Os gramáticos, ao prescreverem regras, baseam-se muito naquilo que os renomados escritores da nossa língua apresentam nos seus livros, demonstrando uma regra ou uma escrita totalmente distante da realidade linguística, isto é, nalguns casos, fora do que se fala.
O mais correcto seria se as prescrições fossem frutos do que se fala, para que não houvesse uma ilha linguística entre seres que habitam na mesma residência, uma regra distante do uso, etc.
Está mais para colocar dificuldades naquele que deseja falar bem (eu até nem sei se falar bem é o quê!), que deseja interiorizar as regras da comunicação que a gramática apresenta, escrever conforme mandam as regras, o que não seria o seu real objectivo.
Chego a concluir que são os escritores renomados - e não os gramáticos - que ditam as regras na língua. O gramático só procura explicitar o que aquele escritor, usando O ou A, queria dizer. É como se os escritores ditassem uma fórmula a fim de os gramáticos executarem-na.
’’Seria interessante que ficasse claro que são os gramáticos que consultam os escritores para verificar quais são as regras que eles seguem, e não os escritores que consultam os gramáticos para saber que regras devem seguir. Por isso, não faz sentido ensinar nomenclaturas a quem não chegou a dominar habilidades de utilização corrente e não traumática da língua’’. (Possenti, 1996, pág. 54.)
A partir daí, ele diz: - quando blá for blá, o tê tem de bê, ka e tê. Como exemplo, vai buscar aquilo que o escritor grafou. É como se tentássemos tranformar estas águas paradas em vinho. O círculo vicioso é sempre o mesmo! Como se fosse um deus da língua, o gramático vai obrigar forçosa, dogmatica e autoritariamente, que todos falem assim.
Os falantes, actualmente, já não estão a fazer a língua, pois há muitos autoritários e ditadores gramaticais que retiraram esse poder que os falantes possuem. Eles falam de gramática como se fosse superior em relação à língua, colocando aquele que, pela sua existência, não deixa a língua morrer totalmente fora, como se estivesse longe da língua, como se a língua fosse algo estranho e distante de nós.