11 DE NOVEMBRO DE 1975 + 11 DE NOVEMBRO DE 2016 = 41 ANOS DE DEPENDÊNCIA LINGUÍSTICA
No que diz respeito ao ensino do português em Angola, o grande problema é que esse ensino até hoje, depois de 41 ANOS DE INDEPENDÊNCIA POLÍTICA, continua com os olhos voltados para a norma linguística de Portugal. As regras gramaticais consideradas “certas” são aquelas usadas por lá, que servem para a língua falada lá, que retratam bem o funcionamento da língua que os portugueses falam. É a concepção que impera, por exemplo, no livro Ensaboado & Enxaguado, de José Carlos de Almeida.
É necessário, a nosso ver, que haja uma descolonização linguística, embora muitos, em plena independência, ainda pensem que Angola, linguisticamente falando, ainda é colónia de Portugal. Temos de fazer em Angola (com o português) o mesmo que o Brasil fez.
Quarenta anos depois, ainda não conseguimos definir a verdadeira característica da nossa língua, quando temos alguns académicos e “perfeitos” letrados. Nem os professores, nem os jornalistas, nem ainda alguns académicos, entre outros, têm sido capazes de exercer os seus reais papéis para definição do que já é, em alguns círculos, tido como “portuangolense”.
Portanto, 40 anos depois, é mais que suficiente, independentemente de algumas adversidades, para que se constitua uma nação angolana desde a língua.
“Quem não sabe para onde vai, qualquer caminho é por ele aceite”
Assim acontece connosco. Por não nos definirmos, por não nos delimitarmos na comunicação convencional lusófona, passamos a amalgamar tudo e mais alguma coisa, defendendo que importa apenas a comunicação, não olhando para a língua como arte, quando há uma elegância.
O nosso português, segundo a linguista Amélia Mingas, precisa de ser controlado na sua evolução. Se não ensinarmos as nossas línguas, se não houver quem se debruce sobre a evolução que está a sofrer, pode correr o risco de desaparecer enquanto língua e transformar-se num crioulo.
De qualquer maneira, como é a língua oficial, é a única que permite o nosso contacto com o exterior, há a necessidade de protegê-la através do ensino, que não tenha como objectivo de ensinar o português de Portugal, mas a investigar o português de Angola que se apresenta em termos de norma. Ensinamos o português segundo a norma portuguesa, mas esta não consegue explicar as especificidades do nosso português. Há hoje uma série de dados. Há necessidade do levantamento de todas essas marcas e daí começar a pensar na norma do português de Angola.
Não à colonização linguística
As diferentes formas de falar do Português Angolano (PA) são encaradas como subversão das normas do Português Europeu (PE), quando, a nosso ver, tinham de ser encardas como características de identidade nacional.
Nós, os angolanos, também temos as nossas próprias interjeições. Assim, desconhecemos a razão por que alguns vão à busca daquelas de Portugal.
Quando necessário, usamos mesmo as seguintes, mas adequando-as aos contextos:
Oko!, awi!, wá!, éh!, ih!, enfim. Nós gostamos do falar angolano.
A variante do Português Angolano está muito patente no linguajar popular e na literatura, mas no ensino predomina a norma de Portugal. Aí, a variante angolana é combatida e tida como erro…
Nenhum jornalista português deseja falar à “mwangolê” (à moda angolana), mas alguns jornalistas angolanos fazem muito esforço a fim de falar à moda “tuga” (à moda portuguesa), achando que assim estariam a utilizar o bom português.
Não sabemos se estamos diante de uma evolução fonética ou de sabemos lá o quê, mas só sabemos que temos acompanhado, constantemente, à semelhança do que acontece em Portugal e que é, por certo, normal, alguns jornalistas angolanos a fazerem aquele encontro fonético entre S e C, ficando, assim, com o som de "x". Isso, como podemos notar, não faz parte do nosso sistema fonético e que é, para os Angolanos, totalmente estranho. Exemplos: creSCer × creXer; naSCer × naXer; diSCiplina × diXiplina; etc.
Isso ocorre, geralmente, entre sílabas vizinhas e, também, entre duas palavras separadas. Assim, é possível notar no exemplo abaixo:
"Outros cincos × outroxinco".
Se somos um país independente, por que estar mais sob o domínio linguístico dos portugueses?
Somos um país, de acordo com a história, independente. Parece-nos, e essa é a nossa opinião, que essa independência só vigora nalguns sectores; noutros, quase que a expressão "independência" é inútil e que não se faz sentir.
Somos, actualmente, contrariando o que a história diz, um país totalmente dependente de tudo um pouco. O próprio angolano, no seu país, vive como se fosse um preso ao qual lhe foi negada(o) a liberdade. Essa dependência é notória, por um lado, pela triste liberdade que nunca foi dada aos filhos desta terra.
Se somos um país independente, por que estar mais sob o domínio linguístico dos portugueses? Já não é hora de, pelo menos, termos um instrumento próprio a fim de valorizarmos propriamente o português "made in Angola" e demonstrar ao mundo que em África, mormente em Angola, fala-se do bom português que, por conseguinte, é local?
Já não se passaram muitas décadas desde que o mundo, em especial o Brasil, nos viu independente?
A língua portuguesa foi-nos imposta. Quando os portugueses chegaram ao nosso país, decerto que não encontraram um povo mudo, sem cultura, sem língua e linguagem, etc. Encontraram, deveras, um povo sociolinguística e culturalmente forte, com os seus hábitos e costumes próprios.
É trabalho de todo e qualquer angolano livrar Angola desta colonização linguística portuguesa, partindo da valorização e aceitação das diferenças existentes entre o português falado localmente e o que deveria ser pragmaticamente convencional.
REFERÊNCIAS:
Amélia Mingas, «Quem pensa no dinheiro não deve seguir Letras», entrevista concedida ao semanário Nova Gazeta, de 10 de Outubro de 2013.
D’Silvas Filho, «Prontuário de Erros Corrigidos de Português», 2011.
Caetano de Sousa Camabmbe, «Aculturação, Inculturação, Colonização e Independência Linguística», 2016.
Marcos Bagno, «Preconceito Linguístico: o que é, como se faz», 1999.