Existe alguma diferença entre onde e aonde no português falado em Angola? (por Caetano de Sousa João Cambambe)
A nomenclatura portuguesa diz que onde e aonde são advérbios, mas com aplicabilidades diferentes.
Ainda não encontramos, por intermédio dos diálogos que mantivemos com certas pessoas em Luanda, alguém que correspondesse, na fala, com aquela distinção que a gramática tradicional faz sobre onde e aonde.
Onde é um advérbio que equivale a "em que, no qual e em que lugar". Por regra, a gramática tradicional recomenda o seu uso só para ideia de um lugar estático e com verbos da mesma natureza.
Aonde é também um advérbio resultante da contracção da preposição simples A e do advérbio ONDE (ficando AONDE), que pode equivaler, segundo Pinto (2006, pág. 132), a "a que lugar, para que lugar e lugar para onde". Quanto ao seu emprego, recomenda-se só para casos que exigem movimento e com verbos da mesma linhagem.
Por existir uma relação de fonia, razão por que, não taxativamente, alguns falantes presumem que seja a mesma coisa, faz com que não haja distinção alguma sobre a sua aplicabilidade na fala, e, noutros casos, na escrita. ‘’Por vezes, a nível popular, aonde e donde surgem empregados em vez de onde.’’ (Pinto, idem)
Em outras palavras, do ponto de vista gramatical, sim, há claramente uma distinção, a ver-se pelo que se pode constatar nalguns livros didácticos. Todavia, do ponto de vista pragmático e do actual uso da língua, na fala, não. A noção de discrepância é, por certo, inexistente.
Não é só no falar do angolano em que se vê a anulação daquilo que a Norma Europeia, aquela que somos obrigados a seguir, prescreve sobre a colocação daqueles advérbios nos discursos, pois nota-se também nalguns escritos. ‘’Embora a ponderável razão de maior clareza idiomática justifique o contraste que a disciplina gramatical procura estabelecer, na língua culta contemporânea, entre onde (...) e aonde (...), cumpre ressaltar que esta distinção, praticamente anulada na linguagem coloquial, nunca foi rigorosa nos melhores escritores do idioma’’. (Cunha e Cintra, 1985, pág. 246)
Há também alguns escritores, a ver-se pelo que aqueles autores fazem alusão, que não seguem taxativamente o que a gramática tradicional diz a respeito, julgando, à semelhança de alguns falantes angolanos, que entre onde e aonde não há distinção e que, provavelmente, possam ser a mesma coisa. É o caso dos escritores Fagundes Varela e Alves Redol (apud Cunha e Cintra), pois, nos seus escritos, é possível que encontremos um emprego totalmente oponente àquilo que o padrão culto da língua estabelece. Verfica-se também, algo semelhante à língua portuguesa falada em Angola, no escrito de Teixeira de Pascoaes (apud Cunha e Cintra), a ocorrência sintáctica de ambas partículas num só contexto que, gramaticalmente, não aparenta ter uma razão para tal.
Embora a tradição gramatical tenha dito que onde e aonde são distintos e que devem, por norma, ser empregados de acordo com o que valem, no pragmatismo linguístico angolano, em situações formais ou informais, não é o que ocorre na generalidade. Por aqui, assiste-se, em abundância, mais em documentos, ou seja, na escrita em vez da fala.