Enquanto os Portugueses "alisam" o cabelo, os Angolanos, por sua vez, "lisam" o cabelo
Podemos até ter uma língua com a mesma terminologia: língua portuguesa. Todavia, em se tratando de uma língua falada em continentes diferentes, em países com realidades étnicas, raciais, sociais, culturais, linguísticas, políticas, religiosas, económicas, demográficas, geográficas, educativas, etc., é normal que diferenças do tipo acima sejam existentes, pois é impossível que haja uma única forma de falar para uma língua intercontinental como o português.
Por se tratar de línguas faladas em territórios distintos, discrepâncias (meio) lexicais só contribuem para o enriquecimento, fortalecimento e engradecimento da língua em abordagem.
Não há como olhar para o ‘’diferente’’ como errado, não há como ver o diferente como sinónimo de inexactidade gramatical, visto que, por ser uma língua transfronteiriça utilizada por pessoas de contextos geográficos distintos, é muito provável que a questão de variação linguística venha à tona.
Do ponto de vista linguístico, o emprego de ‘’lisar (sem a proparoxítona A)’’ em vez de ‘’alisar (com a proparoxítona A)’’, nalgumas partes de Angola, tem uma explicação. Para o caso, ocorreu aí uma aférese, um fenómeno muito frequente actualmente no código oral, que consiste na eliminação de um elemento no princípio da palavra. Enquanto o português diz ‘’alisar’’, o angolano suprime o "a", ficando, desde já, ‘’lisar’’.
O que difere uma variante da outra, é praticamente a ausência da proparoxítona (a), conforme se nota na variante angolana (lisar). Senão, semanticamente, nos remetem (remetem-nos) para os mesmos valores: tornar liso, igualar, amaciar, etc.
Na fala, há muita razão de existir. Em outras palavras, não é erro. Porém, na escrita, por seguirmos ainda (só na teoria) o padrão europeu, há que grafarmos ‘’alisar’’.