Escabecear existe em português? (por Caetano de Sousa João Cambambe)
Netílson De Sousa Kambambe
Ao folhearmos o Ensaboado & Enxaguado, livro de José Carlos de Almeida, encontramos, aí mesmo na página 50, o seguinte:
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‘’Escabecear não. Cabecear, sim’’.
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Como já lhe é característico, o autor simplesmente apresenta o valor semântico que o verbo cabecear possui, esquecendo-se de que tanto escabecear como cabecear são, de acordo com o Dicionário A-Z, a mesmíssima coisa.
O autor, como se vê na citação acima, não recomenda o uso de ‘’EScabecear’’, sem, portanto, emitir qualquer fundamentação teórica a respeito. Aliás, mesmo que a emitisse, a gente já sabe que os seus argumentos simplesmente se baseiam nas dicotomias SIM/NÃO, EXISTE/NÃO EXISTE, LIXO LINGUÍSTICO/BOM PORTUGUÊS e, por fim, na doutrina tradicionalista e arcaica: CORRRECTO/ERRADO.
Ele tem, tal como o Criacionismo tem a sua fundamentação teórica na Bíblia, a gramática tradicional portuguesa como o seu escudo, ou seja, como a única fonte segura na qual se apega sempre a fim de defender suas teses infundadas.
Ora, errado não é, inexistente não é, informal não é, lixo linguístico não é; então, o que é? Somente ele sabe! É um mistério. É um caso ambíguo, é um caso polissémico, enfim. Linguisticamente, talvez se trate de uma semiose sujeita a inúmeras interpretações e significações. Só pode! Ainda assim, faremos questão de lhe questionar, por intermédio de uma mensagem, por que razão desrecomenda o seu uso, a fim de nos esclarecer, com ‘’provas provadas’’, o seu não uso, pois os argumentos que sempre apresenta, do ponto de vista da ciência da linguagem, é como se fosse uma gota no oceano.
O que mais nos surpreende, amigos, é que são sempre eles: os estudantes de Direito. São sempre eles a colocarem-se onde não são chamados, a ver-se pelo jornalista Vasco da Gama, ex-estudante de Direito, que, por desconhecer a ciência da linguagem, aquando da marcha contra o preconceito linguístico, disse que a gente marchou contra a ciência, pelo simples facto de exigirmos, naquela marcha, a correcção do livro Ensaboado e Enxaguado, exemplo prático de preconceito linguístico e de reflexões anticientíficas.
José Carlos de Almeida não tem competências académicas, pedagógicas e científicas a fim de determinar isso. Seus argumentos entram sempre em choque com a realidade, com aquilo que os dicionaristas prescrevem. Aliás, quem é ele, no mundo da ciência da linguagem, para recomendar ou desrecomendar o uso de certos critérios linguísticos? Quem é ele na terra para dizer, embora exista e seja/é recomendável, que escabecear não? Quem é ele?!