Ponte ou viaduto? (por Caetano de Sousa João Cambambe)
Durante o primeiro semestre lectivo de 2016, na tentativa de adequar o que se vê nalguns livros didácticos sobre português à realidade angolana, em particular a luandense, decidimos fazer uma pesquisa sobre ‘’ponte’’ e ‘’viaduto’’.
Ao longo do trajecto 'escola - casa', 'casa - escola', decidimos, sempre que estivermos a bordo de um azul e branco, saber até que ponto os vianenses, cidadãos que vivem no município de Viana, em Luanda, em particular aqueles que fazem o serviço de táxi, sabem sobre ponte e viaduto.
Tal pesquisa começou em Março, visto que foi o mês em que se deu à abertura das aulas nalgumas instituições de Ensino Superior.
Ora, você tem a ideia de quantos táxis, de Março a Junho, subimos? Nem eu se me recordo!
Para começar, a gente, como é habitual, subia a um táxi. Quase 50 metros da nossa paragem, dizíamos:
- Senhor cobrador, fico no próximo viaduto.
Dos inúmeros táxis em que subimos, não houve, inclusive os ocupantes, quem não ficasse surpreso com a expressão "viaduto". Alguns ‘’cobradores’’, que por acaso actuamelmente são chamados de ‘’gerentes’’, assazmente preocupados, chegavam até a perguntar a um ocupante mais próximo ou até ao motorista se, eventualmente, conhecessem alguma paragem nova com o nome de "viaduto''. Enquanto se indagavam, mais próximo da paragem ficávamos.
Quando notávamos que quase nos iam deixar numa paragem errada ou avançar um pouco mais a nossa paragem, falávamos:
- Fico na ponte a seguir...
Logo, recebíamos um:
- Ham! Senão, não tínhamos noção de qual paragem o senhor ficaria.
De todos os táxis em que subimos, de Março a Junho, a resposta era quase idêntica.
Para José Carlos de Almeida (2011), ‘’ponte é uma construção permanente ou provisória em metal, (...) que suspensa sobre um curso de água (...) se destina à passagem de veículos ou de pessoas.
Em outras palavras, ponte é aquela armação de metal ou de betão que se situa sobre um rio, com o intuito de facilitar a transportação de mercadorias e pessoas de um lado para o outro.
Vale recordar que ponte, etimologicamente, de acordo com o A-Z, dicionário electrónico de português, deriva das expressões latinas ‘’pons’’ e ‘’pontis’’.
Viaduto, do latim ‘’via + ductus’’, por sua vez, ‘’é uma ponte sobre um vale, ribeiro, linha férrea, estrada... que serve de passagem superior‘’. (idem, pág. 126)
Embora o padrão culto da língua diga isso, olhando um pouquinho para nossa realidade e para o que aqui se fala, não se denota uma clara distinção, pelo menos ao que temos constatado, entre ponte e viaduto, à semelhança de ‘falar’ e ‘dizer’. Aliás, tem se usado ponte para cobrir o valor semântico que, no livro, viaduto assume. No nosso dia-a-dia, assistimos a uma enorme distância entre o que a escola e os livros dizem para ser usado e o que na realidade encontramos fora do livro e da escola. Como se notou acima, viaduto ainda é muito estranho, mas a ponte, não, não é.
Em Luanda, a realidade não é aquela que vimos nas televisões e nos livros. Parece ser montagem de uma realidade que não existe. Embora José Carlos de Almeida diga que ponte e viaduto são coisas diferentes, do ponto de vista pragmático, em Luanda, quase que a discrepância entre ambas não é existente.
Viaduto, por aqui, não é muito bem conhecido, fazendo com que o seu emprego, às vezes, chega a causar dificuldades de percepção, tal como vimos na mini-pesquisa acima. Tanto aquela construção de metal que se encontra sobre uma linha férrea, sobre uma estrada ou sobre curso de água, em Luanda, recebem o nome de ‘’ponte’’, embora haja poucos que ainda fazem esforço a fim de utilizar cada elemento no seu contexto.
Não há motivo por que se deve olhar para isso como um erro e, de igual modo, não signfica ‘’falar à toa’’, tal como aquela personagem fictícia, que por acaso é o senhor, diz.