O quê você faz para saber se uma palavra existe em português? (por Caetano de Sousa João Cambambe)
Dicionário, segundo Almeida (2011:32), "é uma obra de consulta onde estão reunidas por ordem alfabética as palavras existentes numa determinada língua, seguida dos seus respectivos significados, esclarecimentos gramaticais, etimologia, pronúncia, enquadramento em contexto, esclarecimentos científicos".
Dada a definição acima, o quê vocês fazem para saber se esta ou aquela palavra existe em português?
O dicionário, para muitos, passou a ser uma base lexical conservadora e legitimadora dos léxicos da nossa língua. Base essa que "congela" e, por outro lado, "confirma", para alguns, a existência de palavras numa dada língua. Pelo menos essa é a visão que muita gente tem a respeito.
Ora, ter o dicionário como a "prova provada" de que uma palavra na língua existe, para Cláudio Moreno (2011:5), "você está se juntando à maioria esmagadora das pessoas que se preocupam com isso. Essa é uma crença comum a falantes de todas as línguas, fazendo o dicionário assumir um lugar tão proeminente e misterioso na vida das pessoas que ele passou a ser denominado de dicionário, simplesmente, como se ele fosse um só, sempre o mesmo, como o velho testamento".
Na visão de muita gente, a palavra só passa a ter existência se constar nalgum dicionário da nossa língua, português. Se nos dicionários não constam, segundo alguns, as palavras são, com certeza, inexistentes. "Equivocadamente as pessoas passaram a vê-lo como o registro civil de todo nosso o léxico, uma espécie de cartório de nascimento onde os falantes podem conferir a existência ou não de um vocábulo." (Moreno, 2011, pág. 5)
É difícil, a nosso ver, que um instrumento tão pequeno, que é o dicionário, possa reconhecer, fiscalizar, agrupar e dar uma hospedagem condigna a todos os léxicos da nossa língua. Há, no nosso mercado, uma gama variável de dicionários à nossa disposição, mas que, apesar da multiplicidade deles, não possuem o registo de todas as palavras da nossa língua, pois a criatividade do falante é assaz maior. Isso, de facto, impossibilita que todos os léxicos da língua sejam incorporados nele, o dicionário. Jamais, e essa é a nossa opinião, o dicionário vai conseguir registar todas as palavras da nossa língua, mas isso não faz com que as palavras que não foram registadas por ele sejam inexistentes e que se deve desaconselhar o seu uso. Ninguém tem a autoridade de dizer que B ou C não existe. O simples facto de dizer que um verbo não existe, para Cláudio Moreno (2011:75), "já revela, para quem é do ramo, que o autor não fez o curso de Linguística", ou seja, não é formado nessa área do saber.