O verbo parir no português falado em Angola (por Caetano de Sousa João Cambambe)

De acordo com certos dicionários de português, PARIR é um verbo que nos remete semanticamente para a ideia de "dar a luz" e "trazer ao mundo".

No Português Angolano, PARIR já foi, ou ainda continua sendo, um verbo muito pejorativo. Para uma boa parte dos usuários do português acima, letrados ou não, dizer que "a tia Antónia pariu ontem" indica, sem sombras de dúvidas, uma falta de educação e de respeito, pois, segundo eles, é impossível uma mulher parir. Quem deve parir, na verdade, é um animal (uma fêmea). Agora, dizer que "a Antónia pariu" é semelhante a "a cadela pariu". E para alguns, não se pode falar assim. É falta de educação e de respeito.

Há meses, um amigo meu disse à tia dele:

- "Tia, a Fulana já pariu".

Revoltada, a tia a quem ele falava, disse-lhe: "seu cão, seu macaco, (...)".

Para se dizer que alguém deu a luz, geralmente as pessoas fazem o uso do verbo NASCER (ex.: a Joana já nasceu) ou TER (ex.: a Joana já teve) em vez de PARIR; todavia, é notório, embora com fraca frequência, o uso do verbo parir. Se calhar, é contável.

Quanto ao exemplo "a Joana já nasceu", convém-me deixar alguns subsídios:

Dizer que "a Joana já nasceu", de acordo com o português padrão, equivale a "a Joana (a filha recém-nascida) já veio ao mundo" e não "a Joana (mãe) já deu a luz/Já teve".

N.B.: nascer, semanticamente, equivale a "vir ao mundo"; porém, no Português Angolano, é utilizado, de facto, com o sentido de "dar a luz". Ex.: a Joana já nasceu/já deu a luz

CaetanoCambambe
Enviado por CaetanoCambambe em 29/10/2016
Reeditado em 29/10/2016
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