A guerra pragmática entre ‘’arrendar’’ e ‘’alugar’’ em Angola (por Caetano de Sousa João Cambambe)
Há uma enorme guerra em pleno momento de Paz em Luanda. Como causadores dessa guerra, amigos, estão os ilustres senhores ‘’arrendar’’ e ‘’alugar’’.
Das determinadas batalhas que assistimos, o senhor ‘’alugar’’, general e presidente da república, pelo menos em Luanda, é o que tem vencido, massacrado, humilhado, pisado, em todas competições, o seu homólogo ‘’arrendar’’. (risos)
A Nomenclatura Portuguesa diz-nos que as casas, as lojas, os apartamentos, etc., devem ser, por regra, arrendados e não alugados. Em outras palavras, por aqueles elementos serem imóveis, devem ser arrendados.
Em relação a isso, verifica-se uma divergência entre a Nomenclatura Portuguesa e Brasileira, porque, na terra de Neymar, as casas, as lojas, os apartamentos e outros imóveis são, na realidade, alugados/alugáveis.
Ora, olhando um pouquinho para a realidade linguística angolana, assiste-se, em abundância, (à)a presença de ‘’alugar’’ e ‘’arrendar’’, pelo menos em Luanda, quando o assunto é um imóvel. Ou seja, os imóveis, em Luanda, ao contrário da sua amiguinha Lisboa, podem ser ‘’arrendados (seguindo o padrão europeu)’’ e ‘’alugado (seguindo o padrão americano, o brasileiro). Em outra forma de falar, está em uso em Luanda as Nomenclaturas Portuguesa e Brasileira da língua.
É possível, caso se pretenda saber sobre o estado actual da língua em Angola, encontrarmos certos anúncios do seguinte tipo:
‘’Aluga-se uma casa’’ vs. ‘’Arrenda-se uma casa’’.
É um ‘’equívoco equivocado’’, embora o factor político diga o contrário, pensarmos que em Angola somente vigora a Nomenclatura Portuguesa.
Afinal, das duas sentenças em apreço, qual das duas é a correcta?
Em se tratando de Angola, visto que somos, segundo um amiguinho meu, ‘’uma prostituta linguística de Portugal’’, há quem diga que o ‘’arrendar’’, para o caso em questão, é o mais gramatical e que, olhando para o padrão europeu, o ‘’alugar’’, lamentavelmente, é o agramatical. Até aqui, tristemente, há que se reconhecer. Todavia, e importa aqui sublinhar, o que para o padrão europeu é inexacto, para o padrão brasileiro pode ser o mais exacto. Como ‘’prova provada’’, está aí aquela sentença (aluga-se uma casa).
Em pleno século XXI, tendo em atenção, nalgumas parcelas daqui da ‘’banda’’, a presença excessiva de ‘’arrendar’’ e ‘’alugar’’ com os mesmos objectivos, torna-se, à luz da realidade sociolinguística local, muito complexo dizer às pessoas que ‘’casas não são alugadas’’, embora a Nomenclatura Portuguesa seja oponente, algo que a Nomenclatura Brasileira admite, alegando que casas são, efectivamente, à semelhança de inúmeros imóveis, alugáveis/alugadas.
Como não há ainda uma variante local oficializada, somos, tal como era no passado, obrigados a dançar a música portuguesa, até quando a gente, ou seja, até quando o Governo de Eduardo e Santos pensar livrar Angola desta colonização linguística.