Casamento perfeito: kimbundu (língua bantu de Angola) versus português (por Caetano de Sousa João Cambambe)

Se virmos bem, em Luanda, capital da República de Angola, há uma expansão de vocábulos resultantes da junção de certos prefixos e sufixos oriundos das línguas africanas de Angola - no caso de kimbundu - à palavra primitiva. Atentemo-nos:

Exs.:

Só aquele KI+CARRO! (kicarro)

Só o KI+prato dele! (kiprato)

O prefixo "ki", em kimbundu, utiliza-se simplesmente para se formar os graus aumentativos e o plural de certos nomes; portanto, forma-se de uma maneira muito estranha. Em vez de se mudar ou acrescentar um sufixo, troca-se de prefixo.

Ex.: Dilonga (prato).

Para se formar o plural, em kimbundu, substitui-se o prefixo nominal DI, de classe 5, por MA, de classe 6, mas o tema nominal (longa) mantém-se. Logo, para o plural, seria: malonga (pratos).

Ex.: Malonga (pratos).

Em Português, geralmente, forma-se o plural e o grau aumentativo de certos nomes mudando certos sufixos em outros, de acordo com certas regras gramaticais.

Ex.: cãO - cãES; carro - carrÃO.

O que acontece, na verdade, é que as pessoas têm a tendência de "misturar" o kimbundu com o português, eis a razão por que a gente ouve sempre certos termos estranhos; todavia, quem não sabe/conhece, vai pensar que o angolano não sabe falar - ou seja - fala à toa. Mas não é isso. O angolano gosta de (ir) fazer "kilape (pedir por emprestado, emprestar, etc.)" às línguas, ao vizinho, ao banco, ao amigo, etc.

Voltando ao assunto primordial, em vez de ele dizer 'só o carrão!', 'só o pratão (talvez seja um prato grande e que esteja cheio de comida)!', prefere ir à busca de prefixos nominais em kimbundu (a gente chama de pn), " ki", a fim de formar o aumentativo de certos nomes a ir à busca daquelas regras gramaticais em português. Sendo assim, fica:

- Só o ki+carro (carrão)! (Kicarro )

- Só o ki+prato (pratão)! (Kiprato)

É de recordar que, nas línguas africanas de Angola - em particular o kimbundu - existe 18 pn (prefixos nominais).