ALGUMAS CONSIDERAÇÕES HODIERNAS ACERCA DOS PRONOMES, PRONOMINALIZAÇÃO E CONTRACÇÃO PRONOMINAL NO PORTUGUÊS DO BRASIL, EUROPEU E AFRICANO (MORMENTE O DE ANGOLA)

Há, tal como a gente sabe, uma discrepância enorme entre o Português Brasileiro e Europeu; todavia, uma semelhança, nalguns casos, assazmente impressionante entre o português falado no Brasil e em África, mormente em Angola.

De acordo com José Manuel de Castro Pinto (2007:21), verifica-se, nas variedades africanas do português, um emprego pronominal diferente daquilo que já é habitual em Portugal. Mas, quanto ao Brasil, de acordo com aquilo que Marcos Bagno, nos seus escritos, apresenta, torna-se bastante imprescindível referirmo-nos as possíveis semelhançasexistentes entre as variantes brasileira e africana do português.

Não se justifica, em Portugal, o uso da próclise sem razão alguma. Por outras palavras, diríamos: “é um caso consagrado pelos portugueses”. Assim, para Cunha e Cintra (2006:226), «o emprego dos pronomes átonos no colóquio normal do Brasil tende a próclise». Tal caso é, deveras, possível verificarmos nas variantes africanas do português. Para as variantes africanas e brasileiras, o uso da próclise– sem motivos meramente gramaticais – é mesmo de regra, pois há muito que foi consagrado pelos falantes.

A mesóclise, de acordo com D´Silvas Filho (2011:101), não é comummente usual nas terras de Luís Vaz de Camões. Já que na «*Tuga» não é muito frequente, “imaginem mais nas variantes africanas e brasileira do portugês”? É caso de se afirmar: «outras coisas é mesmo azar!». Partindo disso, apraz-nos dizer que, no português falado no Brasil, a mesócliseé considerada arcaica, eis razão por que, na oralidade, quase que nada se nota a respeito. A gramática tradicional diz-nos que a mesóclise deve ser, por regra, usada com o verbo no futuro ou no condicional; todavia, em Angola, mormente em Luanda e Malanje – províncias nas quais passei a infância e a adolescência – a mesóclise, nalguns casose por alguns falantes, é substituída pelas perífrases verbais ou ainda pela «ênclise». Sendo assim, há uma regrinha, do ponto de vista gramatical, que não é pró quanto ao emprego de verbos no futuro encliticamente. Todavia, no português falado, tal regra não é cumprida.

Nota-se – tal como diz D´Silvas Filho faz menção (2011:101) – uma troca de pronomes no português brasileiro. Como um «estudante e amante da língua portuguesa», convém-me dizer que tal acto verifica-se, também, no português falado em Angola. Assim, os pronomes «o», «a», «os», «as» e as formas pronominais «la», «lo», «las», «los», «no», «na», «nos» e «nas», na fala de muitos brasileiros e angolanos, estão a ser banidos e ultimamente substituídos pelos pronomes «ela», «ele», «eles», «elas». Nalguns casos– e faço referência aqui ao português falado em Angola, por «li», «lis», «ni» e «nis».

Não é de se estranhar, para quem estuda e encara a língua como um organismo vivo, sujeita à mudança e variação, construções frásicas abaixo, embora sejam condenadas pela gramática tradicional:

a)Vi ela no Jardim; b) Carregou ela para dentro; c) Não livi; d) Contou para ele; e) Nibati mesmo.

Repare, caro leitor, que tais construções não são simplesmente usadas por pessoas iletradas ou de camada baixa, tal como sugerem alguns conservadores dos dogmas da gramática portuguesa. Há, indubitavelmente, pessoas letradas e com um bom nível social que, diariamente, servem-se – e bem – das construções em apreço. As alíneas «a», «b» e «d» são comummente notórias no português falado no Brasil e em Angola; todavia, as alíneas «c» e «d» são um exemplo dos demais casos existentes que, até certo ponto, caracterizam o «mundo dos pronomes» do portugês angolano.

No Brasil, o pronome «te», encliticamente, não é muito usual. Assim, construção do tipo «euamo-TE», no falar do povo Brasileiro, embora seja, de acordo com a gramática tradicional, o mais correcto e o mais recomendável, a verdade é que não é frequentemente notório na fala.

O emprego proclítico de «te», na terra de Marcos Bagno, Sírio Possenti e Mário Perini, é o mais correcto no falar daquele povo.

As contracções «mo», «ma», «to», «ta», etc., no Brasil, há muito, de acordo com Celso Cunha e Lindley Cintra (2006:221), que foi anulada. No falar angolano, hodiernamente, idem.

Há, portanto, muitas coisas a se falar a respeito, mas fizemos questão de apresentar simplesmente aquelas acima.

Referências Bibliográficas:

Celso Cunha & Lindley Cintra, Breve Gramática do Português Contemporâneo, 2006.

D´Silvas Filho, Prontuário de Erros Corrigidos de Português, 2011.

José Manuel de Castro Pinto, Gramática para todos, 2007.

Marcos Bagno, Preconceito Linguístico: o que é, como se faz, 1999.

Marcos Bagno, Português ou Brasileiro? (um convite à pesquisa), 2001.

Por Caetano de Sousa João Cambambe.

CaetanoCambambe
Enviado por CaetanoCambambe em 01/09/2016
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