MUNDO DIGITAL: UM PEQUENO CLICK PARA O HOMEM, UM ENORME DOWNLOAD PARA A HUMANIDADE

Estamos em plena era digital, onde a comunicação instantânea está a cada dia chegando ao alcance de todos, pode-se dizer que hoje temos o mundo na palma da mão. A era moderna mudou, perceptivelmente, o nosso estilo de vida, até as crianças abandonaram seus bonecos e bonecas pelos computadores de alta geração, vídeo games ultramodernos e celulares de última tecnologia. Diante disso, eis que surge uma questão: Será que não é uma demasiada distração, tanta tecnologia, para as nossas crianças? Em seu artigo destinado aos interessados em ensino/aprendizagem de línguas, (Multimodalidades e comunicação: Antigas novas questões no ensino de línguas estrangeiras) Walkyria Maria MONTE MÓR relata que é possível fazer com que essas distrações virem máquinas de aprendizagem, aguçando os temas linguagem, comunicação e sociedade.

MONTE MÓR (2010), apresenta a teoria de Kress, onde este autor fala que a revolução comunicacional está moldando o pensamento social. Podemos notar isso, na concepção de comunicação da linguagem escrita, que antes era vista como um padrão linear absoluto, hoje ela abre espaço para as grandes variedades e estruturas existentes tais como a linguagem visual. No ensino de línguas nota-se um grande passo na metodologia, que deixou de ser aquela tradicional, onde as aulas eram sempre expositivas e o centro das atenções era o professor, para aulas comunicativas, onde o docente utiliza de vários recursos tecnológicos visuais e sonoros como aulas de vídeos, a fusão de textos e músicas e o ambiente virtual.

Seguindo o raciocínio de kress, MONTE MÓR relata que segundo o teórico, a multimodalidade não é uma concepção tão nova como pensamos, ela pode ser muito bem encontrada e analisada dentro dos discursos de contextos naturais. “[...] há multimodalidade nos objetos que integram o cotidiano das pessoas e que as pessoas já vêm participando do discurso multimodal desse cotidiano” (MONTE MÓR, 2010, p. 472). Assim, ele quer nos mostrar que a menção de um único objeto nos leva a pensar em diversas situações e imagens, referentes ao uso dele. Tomamos como exemplo desta afirmação uma aula de educação primaria. Para desenvolver a leitura o professor apresenta pequenas palavras, suponhamos que seja a palavra balde, ele pede que os alunos leiam essa palavra e os auxiliam na leitura e depois os perguntam: O que é um balde? Onde usamos o balde? Como usamos? Assim as crianças mentalizam uma estrutura para o balde e diversas situações de uso do objeto de acordo com suas experiências com ele. Essa lógica kress fala que resulta de treinamento cultural (“cultural training”) para essas leituras.

Diante do que foi dito, MONTE MÓR afirma que a multimodalidade abordada na linguagem e na comunicação vai além da língua, ou seja, é algo extralinguístico: ritmo, tom de voz, aspectos culturais ou de gênero, entoação, expressões faciais, olhares, movimentos dos braços/dedos/corpo, assim, estes aspectos formam a produção de sentido quando são interpretados de acordo com o contexto. Diante disso, a autora cita Lemke, que fala da importância do desenvolvimento da habilidade de interpretação como uma competência fundamental para a nossa sociedade moderna. Pois, com este avanço comunicacional a linguagem ficou mais complexa e dinâmica, exigindo muito do interlocutor e se ele não tiver a capacidade de interpretação instantânea o elo que liga linguisticamente locutor e interlocutor é quebrado e a mensagem não é recebida com êxito. Podemos ver isso nas redes sociais, no Face Book por exemplo, onde se usa muito a intertextualidade com imagens e vídeos para a formação de sentido.

Porém, como descreve MONTE MÓR, é necessária uma preparação dos professores e que as universidades se atualizem para proporcionar a esses docentes esta mudança multimodal na linguagem. Com isso podemos usar como instrumentos de aprendizados não somente os livros, mas também computadores, celulares e outras mídias existentes, considerando a informação que a autora expos no começo de seu artigo, que os jovens que usam mensagens de texto via celular desenvolvem com facilidade sua linguagem e comunicação.

Direcionando esta ideia para o ensino de língua estrangeira, veremos que é fundamental o uso do ensino multimodal neste tipo de aprendizado, pois o professor não pode se amarrar apenas no ensino estrutural da língua, de modo que só apresente para o aluno a linguagem a partir de textos descontextualizados. Por isso que na atualidade os professores de línguas utilizam em suas aulas aparelhos de áudios, vídeos e fazem jogos linguísticos, apresentando-os a linguagem em suas varias modalidades.

Detalhando o conceito de multimodalidade na linguagem e explicando a importância da interpretação para a formação de sentidos, Walkyria Maria Monte Mór apresenta em uma sequência lógica de pensamento, a proposta educacional onde a linguagem aparece de forma renovada na comunicação, interação e construção de sentidos sem desvalorizar a visão convencional de valores linguísticos. Ou seja, explorar ao máximo as diversas oportunidades de ensino e aprendizagem que este mundo digital/virtual nos oferece.

MONTE MÓR, Walkyria Maria. Multimodalidades e comunicação: Antigas novas questões no ensino de línguas estrangeiras. Letras & Letras, Urbelândia, Vol. 26, no 2, p. 469-476, jul/dez 2010.