Porto Naufragado
Deixem passar,
Os versos de um poeta triste
Que não desiste em protestar a hipocrisia.
Que desafia a falar
De um porto inerte
Que não investe
Na visita de navios.
Deixem passar,
Os versos de um poeta
Um portuário morreu compadecido,
Acharam-no deitado no caminho
Flutuava-lhe um riso esperançoso
Doce era o semblante do pobrezinho
E o morto parecia adormecido.
Amante de utopias e virtudes
E, num templo sem Deus, ainda crente.
Se minha saudade viaja pelo mar
Como vai se no porto não há navio
Assim morrem meus sonhos de tanto frio
Sem vida, sem esperança e sem amar.
Se os homens da política assim soubessem
O que é ter um filho a chorar
Por comida que depende lá do mar
Não seriam tão hipócritas em terra firme
Por isso não há portuário que afirme
Nestes homens tão “decentes” confiar.