Sertão em Tempos Modernos
( D)
C
Para rever meus parentes
G
Fui visitar o sertão
D
Foi gostoso o reencontro
C G
Mas grande a decepção
D
Por constatar de pertinho
C G
Perversa transformação
Talvez a televisão
Grande mal venha trazendo
Quem muito bem não discerne
Escutando aquilo e vendo
O que não eleva em nada
É o que finda absorvendo
Os costumes dissolvendo
Ninguém mais vê na calçada
À noite os visinhos juntos
Contando estória piada
Tá tudo dentro de casa
E a televisão ligada
Visita é indesejada
Na casinha mais singela
Sendo no horário noturno
Os donos dão pouca trela
Não querem ser perturbados
Quando estão vendo novela
Está desprezada a sela
O cavalo aposentado
A moto hoje é transporte
Pra passeio e pro roçado
Pra ir a feira e a missa
Botar água e tanger gado
Está muito transformado
Do sertão o dia a dia
Na fazenda já não tem
Queijo nem coalhada fria
Vendem o leite e pro café
Compram pão de padaria
Já não tem a poesia
Do sertão de antigamente
Quando não tinha novela
Que mostra coisa indecente
E a gente se deleitava
Com cordel e com repente
Para tristeza da gente
No sertão já não tem mais
As brincadeiras ingênuas
Dos terreiros e quintais
Tá farto de violência
Porém carente de paz
O meu sertão não é mais
Um cenário de beleza
Só se vê naqueles ermos
Desolação e tristeza
como resposta as perenes
Agressões à natureza
Meu sertão sem boniteza
Pois queimaram a caatinga
Invernos irregulares
Quase não chove mal pinga
Eis a prova incontestável
Que a natureza se vinga
Letra do grande poeta Dideus Sales