CANÇÃO DA SOBREVIVÊNCIA
Ela fugia da violência e discriminação;
Perdeu a inocência nessa ilusão.
Uma negra pobre nos braços do destino,
Em busca de sobreviver, ganhou um menino.
O corpo cansado tem as cesárias do tempo;
Sua juventude passou como o vento.
A mãe lhe jogou praga, pois é tanto sofrimento.
Na luta da vida, a nega vai se levantar;
Com força e coragem, sempre a lutar.
Sonhos e esperanças, ela vai vivendo,
Num ritmo doido, a vida vai acontecendo.
E seus sonhos, a cada passo, se perdendo;
Assim, de qualquer jeito, continua vivendo.
Ela quer vencer, arranjou outro marido;
Tá na justiça pedindo pensão do outro indivíduo.
Pegou a declaração para o bolsa-escola;
Seus passaram de ano, mesmo na cola.
Para eles, ela desenha outro futuro,
Mesmo nesse meio tão obscuro,
Nos galhos de relacionamentos inseguros.
Na luta da vida, a nega vai se levantar;
Com força e coragem, sempre a lutar.
Sonhos e esperanças, ela vai vivendo,
Num ritmo doido, a vida vai acontecendo.
E seus sonhos, a cada passo, se perdendo;
Assim, de qualquer jeito, continua vivendo.
Pelos olhos da nega, veja o que é ser mulher;
Quando não há escolhas, você é apenas talher.
Muitos homens cheios de boa intenção,
Mas o zíper da calça não tem coração.
Sempre há mais uma na multidão,
E os filhos e ela, sofrem o abandono,
Até achar abrigo na coleira de outro dono.
Na luta da vida, a nega vai se levantar;
Com força e coragem, sempre a lutar.
Sonhos e esperanças, ela vai vivendo,
Num ritmo doido, a vida vai acontecendo.
E seus sonhos, a cada passo, se perdendo;
Assim, de qualquer jeito, continua vivendo.