Paralelas
Dentro do carro, acelerando a cem por hora, eu sentia o vento batendo no rosto, tentando esquecer as frustrações que me acompanhavam diariamente. O ruído constante do motor era meu único consolo, minha fuga temporária do mundo real. "Oh, meu amor!", pensei, como se falasse com a própria vida. As luzes da cidade passavam por mim em um borrão luminoso, lembrando-me de que eu estava sempre em movimento, mas nunca realmente indo a lugar algum.
No escritório, onde passava a maior parte dos meus dias, a sensação de vazio crescia a cada transação bem-sucedida. Quanto mais meu saldo bancário aumentava, mais meu amor pela vida diminuía. Era uma equação cruel: sucesso profissional em troca de uma solidão crescente. Eu multiplicava números, mas não conseguia somar felicidade. "Em cada luz de mercúrio vejo a luz do teu olhar," refletia, percebendo como a rotina urbana me afastava do que realmente importava.
Nas noites solitárias, caminhava pelos viadutos e praças, perdido em pensamentos. O brilho das luzes refletia nos meus olhos, trazendo lembranças de um amor que eu parecia ter deixado para trás. Passava por tantos lugares, mas nunca me lembrava de voltar, de encontrar um caminho de volta para mim mesmo. "No Corcovado quem abre os braços sou eu," pensei, imaginando-me com a grandiosidade e a solidão do Cristo Redentor, olhando para a cidade que nunca dormia.
Copacabana, com suas ondas incansáveis, parecia ser um reflexo da minha própria inquietação. Esta semana, o mar era eu: vasto, profundo, e sempre em movimento. A juventude do meu coração, tão perversa e inconstante, só entendia o que era cruel e o que era paixão. Estava sempre em busca de algo mais, algo que não conseguia definir. "E as paralelas dos pneus na água das ruas são duas estradas nuas em que foges do que é teu," refletia, vendo as marcas deixadas pelas rodas no asfalto molhado, uma metáfora para a minha constante fuga de mim mesmo.
No apartamento, oitavo andar, abri a vidraça e gritei. Meu grito ecoou na noite, um desabafo contra a solidão e a frustração que sentia. "Teu infinito sou eu," gritei para ninguém em particular, como se tentando convencer a mim mesmo de que havia algo mais, algo maior que tudo isso. No silêncio que se seguiu, ouvi apenas o som distante de um carro passando, lembrando-me da minha insignificância na imensidão da cidade.
A vida continuava, com suas contradições e desafios. Eu permanecia dividido entre a busca pelo sucesso e a necessidade de encontrar um sentido maior. "No Corcovado quem abre os braços sou eu," repeti para mim mesmo, tentando encontrar algum consolo na ideia de que, apesar de tudo, ainda estava de pé, ainda tinha forças para continuar.
A juventude do meu coração ainda era perversa, ainda buscava o que era cruel e apaixonado. Mas talvez, apenas talvez, houvesse uma esperança. Talvez, um dia, eu encontrasse o equilíbrio entre as paralelas da minha vida. E nesse dia, poderia finalmente gritar, com toda a convicção, que meu infinito não era apenas uma fuga, mas um destino.