Ave Maria do Morro
O sol já se punha atrás das colinas, tingindo o céu de um alaranjado suave, quando decidi passear pelas ruas estreitas do morro onde cresci. Aquele entardecer parecia um convite para revisitar memórias adormecidas e redescobrir cada canto da favela que tanto amava. Enquanto caminhava, a melodia nostálgica de "Ave Maria do Morro" de Herivelto Martins soava ao longe, ecoando entre os becos e vielas.
Naquela noite, tudo parecia envolto em magia. A melodia trazia consigo lembranças de tempos passados, mas também abria portas para novas possibilidades. Foi então que, ao virar uma esquina, a vi. Seu nome era Maria, uma jovem de olhos castanhos e sorriso encantador. Sempre soube de sua existência, mas nunca havia tido a coragem de me aproximar.
Ela estava sentada em frente à sua casa, uma singela moradia decorada com flores plantadas em latas coloridas. Maria cantarolava baixinho a "Ave Maria do Morro", enquanto trançava seus cabelos negros. A música parecia ser um fio invisível que nos unia, um sinal de que nossas almas estavam destinadas a se encontrar.
- Boa noite, Maria - cumprimentei, com a voz trêmula, mas o coração cheio de coragem.
Ela levantou os olhos e, ao me ver, sorriu com uma doçura que derreteu qualquer resquício de timidez em mim.
- Boa noite - respondeu, sua voz suave como a brisa que acariciava o morro.
Conversamos longamente naquela noite. Falei sobre meus sonhos e medos, e ela, sobre suas esperanças e desejos. Descobrimos que compartilhávamos muitas paixões, como a música e a literatura. A cada palavra, sentia que Maria era a poesia que faltava em minha vida, a melodia que completava minha canção.
Os dias se seguiram, e nossos encontros tornaram-se mais frequentes. Passeávamos pelos becos do morro, explorando cada cantinho como se fosse a primeira vez. A "Ave Maria do Morro" tornou-se a trilha sonora de nosso romance, uma constante lembrança do amor que florescia entre nós.
Uma noite, durante uma festa na quadra da comunidade, tomei coragem e a convidei para dançar. A música suave nos envolvia, e enquanto girávamos lentamente, sussurrei em seu ouvido:
- Maria, você é a luz que ilumina meu morro, a estrela que guia meus passos. Quer caminhar ao meu lado para sempre?
Seus olhos brilhavam com lágrimas de felicidade quando respondeu:
- Sim, quero ser a sua Maria, a sua eterna melodia.
Naquele instante, ao som de "Ave Maria do Morro", selamos nosso amor com um beijo. A favela inteira parecia celebrar conosco, pois nosso romance era uma prova de que, mesmo nos lugares mais humildes, o amor pode florescer com a mesma intensidade e beleza de qualquer outro canto do mundo.
Desde então, Maria e eu temos vivido um amor intenso e verdadeiro, um amor que, assim como a música de Herivelto Martins, transcende o tempo e o espaço, tornando-se eterno nas memórias e corações daqueles que acreditam na magia dos encontros e na força do amor.
E assim, ao som da "Ave Maria do Morro", seguimos juntos, construindo nosso caminho, um passo de cada vez, embalados pela melodia que nos uniu e pela certeza de que: “Lá não existe/Felicidade de arranha-céu/Pois quem mora lá no morro/Já vive pertinho do céu”.