Casinha Branca
Nas vielas tranquilas da memória, onde o tempo parece suspenso em cada pedaço de lembrança, eu caminho entre os suspiros suaves de uma melodia que embala meu coração. "Casinha Branca", na voz doce de Roberta Campos, ecoa como um sussurro de saudade e ternura, transportando-me para um lugar onde os dias eram mais simples e os sonhos eram tecidos com fios de esperança.
Recordo-me daquela casinha branca, perdida entre as colinas verdejantes, onde eu criava meu próprio universo. As paredes desgastadas pelo tempo testemunharam o amor florescer como as rosas que enfeitavam o jardim. Cada canto daquele lar pequenino guardava segredos sussurrados ao luar, enquanto as estrelas cintilavam como testemunhas silenciosas o meu afeto.
O aroma do café fresco pela manhã ainda paira no ar, misturando-se com o cheiro de bolo de fubá que eu preparava com tanto carinho. Sentado à mesa simples da cozinha, compartilhava risos e planos para o futuro, enquanto o sol derramava seus raios dourados pelas janelas abertas, iluminando me rosto e aquecendo meu coração.
Lembro-me das tardes preguiçosas, quando o tempo parecia se arrastar sem pressa. Deitado na rede do quintal, sob a sombra do velho pé de jabuticaba, deixava que o silêncio confortável entre mim fosse preenchido pelo canto dos pássaros e pelo murmúrio do vento entre as folhas. Ali, encontrava refúgio contra as agruras do mundo exterior.
E nas noites estreladas, quando o céu se abria em um manto de constelações, dançava descalços no gramado macio, ao som suave de violões que ecoavam das casas vizinhas. Sob a luz prateada da lua, meu passo se fundia em uma dança sem fim, celebrando a beleza efêmera do amor e da juventude.
Mas o tempo, implacável, trouxe consigo mudanças e desafios que não estava preparado para enfrentar. A casinha branca, um dia tão repleta de risos e sonhos, tornou-se um relicário de lembranças dolorosas e silêncios pesados. As paredes que um dia me acolhera agora parecem distantes, guardando apenas ecos de um passado que não posso recuperar.
Hoje, caminho pelas ruas da cidade, entre prédios altos e multidões apressadas, carregando comigo a saudade daquela casinha branca e dos momentos simples que vivi. A música de Roberta Campos continua a embalar minhas lembranças, lembrando-me de que o verdadeiro amor não se perde, mesmo quando os dias se tornam sombrios e o futuro incerto.
Assim, enquanto o vento sopra suavemente, fecho os olhos e permito-me voltar àquela casinha branca, onde o amor era a única verdade que importava, e onde cada momento compartilhado era um tesouro guardado para sempre em meu coração.