Lampião de gás
Entre os recantos da minha memória, há uma canção suave que ecoa como o sussurro de um lampião de gás balançando ao vento. Suas luzes verde e azulada dançavam pela minha janela, pintando meu quarto com um brilho mágico que só a infância poderia entender.
Em meio ao bulício das calçadas, onde o almofadinha desfilava com sua palheta branca e calça apertada, e onde os jogos de bilboquê e diabolô traziam risos inocentes, o lampião era nosso cúmplice silencioso. Ele testemunhava nossas aventuras infantis, iluminando não só as brincadeiras, mas também nossos sonhos mais secretos.
Oh, São Paulo daquela época, tão calma e serena, onde cada rua escondia histórias e cada esquina guardava segredos de um tempo que se foi. O bonde aberto, com seu ranger característico, e o vassoureiro com seu pregão melodioso, eram personagens de um cenário que hoje parece um sonho distante.
E como não lembrar das tardes de garoinha fina, quando o lampião de gás ganhava uma aura ainda mais mágica, refletindo seu brilho nas gotas que escorriam pela vidraça? Era um tempo de sabugueiros grandes e cheirosos nos quintais, onde a vida se desenrolava com a suavidade de uma canção antiga.
Mas hoje, quando a cidade cresceu e o tempo nos levou para longe da inocência da infância, o lampião de gás permanece como um farol de saudade. Ele não ilumina apenas o passado, mas também aquece o coração com lembranças de momentos que moldaram quem eu sou.
Em cada lembrança, há um toque de romance, um sopro de nostalgia que nos conecta ao que foi perdido. O lampião de gás não é apenas uma peça de mobília antiga, é um guardião dos nossos segredos mais profundos, das risadas compartilhadas e das lágrimas derramadas.
Assim, enquanto a cidade continua a crescer e se transformar diante dos meus olhos, guardo com carinho as lembranças do lampião de gás que me ensinou sobre a magia da infância e a beleza das pequenas coisas. Ele ainda brilha em mim, como uma constante lembrança de um tempo em que a vida era mais simples e o amor, mais puro.