Um tempo no tempo
Entreabre a janela,
entreabre os olhos e vê
árvores cortadas,
rios e mares poluídos,
florestas inteiras devastadas,
sem silêncio; reinam os ruídos,
guerras por toda parte,
epidemias incontroláveis,
o imprestável é arte,
as pessoas não tão amáveis,
o que é certo fazem errado,
o mal para uns é o bem,
o tempo tá apressado
não tem piedade por ninguém.
Abre a janela,
abre os olhos e vê
muitas naves chegando,
outras simplesmente passando,
não sabendo de onde vêm,
nem o que elas contêm.
O céu está cinzento
e o ar é abafado,
sem brisa, sem vento,
num futuro gelado.
Ninguém na rua...
Edifícios sem fim...
Olha para a lua,
um olhar cor de jasmim.
Fecha a janela,
fecha os olhos e vê
a transparência em tudo,
o invisível mundo visível
e o tempo fica mudo...
Realidade impossível!
O tempo além do tempo,
a imagem na própria imagem,
o tempo num entretempo
onde ninguém leva vantagem,
onde o bem é o próprio bem,
onde a vida é a própria vida,
onde o futuro não vai além
da existência percebida.
André Filho Guarabira
10.06.2024