Cidadão

 

 

 

Cidadão

 

Tá vendo aquele edifício moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
olho pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
e me diz desconfiado, tu tá aí admirado
ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido
vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
eu nem posso olhar pro prédio
que eu ajudei a fazer
Tá vendo aquele colégio moço?
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Pus a massa fiz cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
vem pra mim toda contente
Pai vou me matricular
Mas me diz um cidadão
Criança de pé no chão
aqui não pode estudar
Esta dor doeu mais forte
por que que eu deixei o norte
eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava mas o pouco que eu plantava
tinha direito a colher
Tá vendo aquela igreja moço?
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá sim valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
e o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse
Rapaz deixe de tolice
não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
e na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Fui eu quem criou a terra
enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
e na maioria das casas
Eu também não posso entrar

 

https://www.vagalume.com.br/ze-geraldo/cidadao.html


CIDADÃO MÚSICA DE LÚCIO BARBOSA

 

Procurando informações sobre o autor da música cidadão que muita gente pensa ser de Zé Ramalho ou Zé Geraldo, encontrei em um blog muitas curiosidades a respeito do verdadeiro autor desta música tão rica e bela. Esta música foi apresentada em um festival pelo próprio autor Lucio Barbosa mais ou menos em 1978.


A música da vez: Cidadão.
      

Oii pessoal, encontrei a análise dessa música entre as minhas navegadas pela net e achei interessante postar aqui, é a atual música que abre com nosso blog.

 

Confiram:

 

A música “Cidadão” foi composta na década de 70 pelo poeta baiano Lúcio Barbosa, em homenagem ao seu tio Ulisses.


Ela narra a saga de um eu-lírico que trabalha como pedreiro, mas em razão da sua condição humilde, não pode frequentar nenhuma das obras por ele construídas. A inspiração veio do fato do tio também ser pedreiro, ter construído inúmeras obras na cidade grande, mas não possuir casa própria.


É uma música forte que aborda o preconceito e a discriminação que os nordestinos sofrem nas grandes cidades e faz referência a alguns problemas sociais, tais como moradia, educação e trabalho.


O título “Cidadão” é proposital para demonstrar distanciamento entre os indivíduos privilegiados, em pleno gozo dos direitos civis e políticos, ou no desempenho de seus deveres para com o Estado, e demonstra que a sociedade burguesa pode ser muito cruel, quando não considera as pessoas pobres como “cidadãs”.


Nas duas primeiras estrofes o Eu-lírico cita sempre a presença de um “cidadão” que o proíbe de entrar nos lugares, mas, na verdade, ele próprio não é capaz de enxergar-se como cidadão. Ou seja, em sua cabeça, o “cidadão” que o proíbe está em pleno gozo de seus direitos civis, e a ele, como cidadão excluído, cabe desempenhar os deveres para com o estado.


Sentindo-se excluído, cita outra faceta comum de infortúnio que cerca os desprivilegiados: a falta de lazer e o alcoolismo (“meu domingo está perdido / Dá vontade de beber”).


Ele também faz questão de incluir as pessoas de seu universo social também como seres excluídos (“minha filha inocente, vem pra mim toda contente…”) e mostra o preconceito entre os “Brasis” rico (sul) e pobre (norte) usando os advérbios “lá” e “cá” (Lá a seca castigava… / Aqui não pode estudar…).


Na última estrofe o poeta, como bom nordestino, demonstra toda a fé que deposita no filho de Deus, pois o considera também excluído pela sociedade. Nesta estrofe ele faz questão de não usar o termo “cidadão” para enfatizar que, como ele, Cristo também serviu (“fui eu quem criou a terra, enchi os rios, fiz a serra…”) e a maioria dos “cidadãos” também virou-lhe as costas (“e na maioria das casas eu também não posso entrar").

 

(Sérgio Soeiro)

 

Fonte: http://analisedeletras.com.br/ze-ramalho/cidadao/


http://pequenaantropologa.blogspot.com.br/2011/08/musica-da-vez-cidadao-ze-ramalho.html

 

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A música é de autoria do compositor Lúcio Barbosa e foi gravada originalmente em 1979 por Zé Geraldo. Zé Ramalho só veio a gravá-la muito mais tarde em 1992.