Tadaima
Foi ontem que eu a vi
Na casa que criava raízes
Eu não poderia dizer quantas vezes
Eu a vi sentada lá
Envolta em fumaça
Sentada como que atada
Atada como que integrada
Integrada como se não houvesse mais nada
Nada além daquela casa
E lá tudo se passa
Como se não passasse nada
Numa casa vazia
Cheia de vidas passadas
Lá eu me vesti
Mas as roupas não me cabiam
Lá eu me deitei
Numa cama onde eu não cabia
Lá eu vi um eu
Um eu que a mim não cabia
Como uma fantasia
De um personagem cujas falas
Eu nem sabia que sabia
Um estranho que eu conhecia
Um conhecido que me estranharia
O que é se sentir em casa?
É se acostumar à própria jaula
Por medo do que tem fora?
Ou é repousar as asas
Quando estão cansadas?
Quão longe eu quero voar?
Uma casa velha em que vivemos
É como um caixão onde enterramos
Um eu que um dia fomos
E de vez em quando visitamos
Sentamos, falamos e lembramos
Daqueles que deixamos lá
Com as flores e seus ramos