CARRETA DE BOI
Afiei bem o machado
E fui pro mato campia
Madeira boa e de lei
Bem no ponto pra corta
Esperei chega a minguante
A lua pra não caruncha
Na chincha do meu cavalo
Deu trabalho pra arrasta
Do mato carreguei pras casas
Gastei tempo a descascar
Cangas de soita-cavalo
Comecei a falquejar
Madeira leve e macia
Muito buena pra entalha
Preparei a moda antiga
Pra o pescoço não judia
Os canzil fiz de amarilho
O cabeçalho de araçá
Cheda cambão de guajuvira
Os eixos eu fiz de uvá
Cambotas e raios de angico
Os fueiros de pitangueira
A massa das roda de ipê
Cravelha assoalho de aroeira
No povoado comprei chapa
Fiz fogo caldeei pras rodas
Abaixo de fogo e fumaça
A capricho foram ferradas
Os raios ficaram tinindo
Da mesma forma as cambotas
Preparadas a gosto e capricho
Da forma que gaúcho gosta
Do couro de um brasino
Lonqueei torci fis primeiro
Um par de corda de coice
Meia duzia de tamoeiro
E Tentos de loncas sovada
Para ajoujar as parelhas
Dos boi mansos e tambeiros
Nas quarteadas carreteiras
Carreta pronta pro serviço
Pé descalço na estrada
Camisa de brim antigo
A bombachita remendada
Encosta encosta boi pitanga
Chama a ponta na guiada
Cutucando o boi do coice
Pra estender a quarteada
Uma coplita assobiando
Pra espanta mau pensamento
Vai a quarteada panteando
Bombiando pro firmamento
Batendo casco na estrada
baba o boi ao sabor do vento
Enfrentando o ritual da lida
Mesmo ao rigor do tempo