VINGANÇA DO TEMPO
A Vingança do Tempo - Os Nonatos
Sem falar o destino nos ofende / Sem ter arma nos gera cicatriz
A cadeia dos anos quando prende / Não aceita habeas corpos de juiz
A doença aparece não avisa / E só o tempo é um marco de divisa
Separando velhice e mocidade / Essa prova quem faz não sabe a nota
E cada dia é um peso que Deus bota / Na carrada do frete da idade.
Sem receio das multas abusivas / No autódromo da ruga a lagrima corre
Nossos olhos parecem fontes vivas / Onde o rio do pranto nasce e morre
O deserto na área dos cabelos / Com o tempo tão pouco são os pelos
Que nem é necessário usar um pente / Quando menos se espera a vida é pega
E a mensagem da morte quando chega / O leitor desconhece o remetente.
Quando a gente envelhece a vida ensina / Que o cansaço é um monstro a ser vencido
Pesadelo faz parte da rotina / E esperança é um sonho adormecido
Sem o a os pulmões perde o impulso / Coalha o sangue na veia falta o pulso
Por não ter mais saúde de reserva / Um dos lados do corpo fica manco
E todo rosto é um quadro e preto e branco / Que o museu da velhice não conserva.
Quem se torna refém dessas mudanças / Não consegue esconder as frustrações
Todo peito é um caixa de lembranças / Rejeitando deposito de ilusões
Incha os pés, treme as mãos, cresce a barriga / E o fusível dos olhos se desliga
E as emendas das juntas dão problema / Todo mundo depois que se aposenta
Sente a vida passando e câmera lenta / Como cena de filme de cinema.
Para muito distante os sonhos vão / Quando a barba embranquece como gesso
Os momentos finais da vida são / Totalmente ao contrário do começo
Quando a última alegria vai-se às pressas / Já não são mais cumpridas as promessas
E a sentença é levada a última instância / É efêmero o estágio do prazer
E a saudade revela sem querer / O retrato falado da infância.
Quando a vida começa a dá sinais / Que o vigor jovial entrou de férias
Sem revolver escalado o tempo faz / Um assalto na força das matérias
As viagens são feitas com limite / Passa a ser controlado o apetite
Vira o corpo uma bomba sem ogiva / Esperando a contagem regressiva
Para o míssil da morte ser lançado.
Quem compete com os anos perde a luta / Sem nenhum artefato de defesa
Quando o fórum de Deus mostra a minuta / Decretando a falência da beleza
As madeixas caindo, a pele inerte, / Não tem creme hidratante que conserte
Nem um tipo de plástica que ajude / Na agencia bancário do futuro
O presente começa a pagar juro / Do empréstimo que fez na juventude.
Na fronteira do século é Deus quem cobra / Que a alfândega nos pare e nos reviste
Passaporte de ida tem de sobra / Mas passagem de volta não existe
A pessoa já cresce adaptada / Sem lembrança do dia da chegada
E sem certeza da hora da partida / Vai-se o ente levando os assessórios
Mesmo sendo por dias provisórios / Vale a pena ser dono de uma vida.