Alegria Dormente

Faz sol no porão da agonia.

Nada mudou, é só calor e claridão.

Nem mais um verso na Teogonia

onde se originou minha aflição.

Os corpos celestes indiferentes.

Os corpos terrestres e a convenção.

O aceno no semáforo das mentes.

A realidade como abstração.

Se é mito ou razão,

pouco importa classificar,

você verá o tempo torcer

e desfazer qualquer conclusão.

Se é morte ou vida,

não sei de qual lado está,

a sombra daquelas feridas

que sangraram a confusão.

Quando eu nasci,

um anjo torto ouviu minha voz

e pensou se já não era atroz

falar sem saber o que diz.

E pra longe voou,

como quem reconhece que os sóis

nascidos da alma se apagam na palma

do existir.

(Pois bem, hoje faz sol)

Faz sol no porão da agonia

nada mudou, é só calor e claridão.

Nem mais um verso na Iliáda

Onde eu conclamei minha traição.

Os corpos celestes indiferentes

Os corpos terrestres e a convenção.

Se algo acordar a alegria dormente

que não seja a bruma fina da razão.

Se algo acordar a alegria dormente

que não seja a bruma fina da ilusão.

Eduardo Becher
Enviado por Eduardo Becher em 16/09/2023
Código do texto: T7887057
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