Alegria Dormente
Faz sol no porão da agonia.
Nada mudou, é só calor e claridão.
Nem mais um verso na Teogonia
onde se originou minha aflição.
Os corpos celestes indiferentes.
Os corpos terrestres e a convenção.
O aceno no semáforo das mentes.
A realidade como abstração.
Se é mito ou razão,
pouco importa classificar,
você verá o tempo torcer
e desfazer qualquer conclusão.
Se é morte ou vida,
não sei de qual lado está,
a sombra daquelas feridas
que sangraram a confusão.
Quando eu nasci,
um anjo torto ouviu minha voz
e pensou se já não era atroz
falar sem saber o que diz.
E pra longe voou,
como quem reconhece que os sóis
nascidos da alma se apagam na palma
do existir.
(Pois bem, hoje faz sol)
Faz sol no porão da agonia
nada mudou, é só calor e claridão.
Nem mais um verso na Iliáda
Onde eu conclamei minha traição.
Os corpos celestes indiferentes
Os corpos terrestres e a convenção.
Se algo acordar a alegria dormente
que não seja a bruma fina da razão.
Se algo acordar a alegria dormente
que não seja a bruma fina da ilusão.