Aquele rapaz promissor
Ao encontrar-me perdido num chão,
Como um rato rasgando a seda
Que antes cobria um corpo humano,
Sinto na alma, de antemão,
O vazio da alameda
Povoada somente pelo meu engano.
Aquele rapaz promissor morreu
E suas cinzas preenchem minha sombra.
Apesar de parelhos, não sou eu,
Mas uma lembrança que ainda me assombra.
Dormir e acordar sem saber o que sou
É um tornado em minha cabeça,
São as brechas do cotidiano.
Saber que pouco ou nada restou
Daquelas velhas certezas,
Um processo kafkiano.
Aquele rapaz promissor morreu
E suas cinzas preenchem minha sombra.
Apesar de parelhos, não sou eu,
Mas uma lembrança que ainda me assombra.
Os medos que o tempo forneceu
A morte de tudo o que é bom
O amor que, simplesmente, feneceu
Os ruídos que se tornaram sons.
As chuvas que corroem a pele,
A calma de quem perdeu a esperança,
Partir sem ninguém que o vele,
A falta de pares para a dança.
Afogar-se no próprio ar,
Encontrar o erro em existir,
Refugiar-se em sonhos e deitar
Esperando um dia jamais sentir
Aquele rapaz promissor...