Pra Xangai e Elomar

Ô meu camarada veio não se morra de amor

A flor de rouge carmin

ai meu Deus se tu soubesse

Aí meu Deus se tu me visse

não me destratava assim

E o cantador que é home

com tanta dor que não some

Carcará que mata e come

e canta dor de amor

Cantador é bicho esguio,

anfíbio safo e incerto,

e canta a dor que nem fome,

E o cantador que é home,

no andar rosto coberto,

cantador é bicho esperto,

mas isquece de lembrar,

e lembra de se chorar,

quando sabe o rosto dela,

ele isquece o seu nome

O cantador todo prosa

tem na mão seu violão

Anda atoa, planta rosa

matando a sopro formiga

canta loa bem formosa

É bóia que enche barriga

Dessas que é mesmo boa

É do pássaro que voa

E alimenta coração

Enche o raso e para briga

Qui nem água no feijão

Meu cantadô vei de guerra

Faz um favô lá para mim

vá pra mim lá na cidade

Trás de lá vã brividade

Uma coisa assim sem maldade

Um canto de aboiador

Com reza de rezadera

Água da fulo que cheira

mote sem morte morrida

Vida viva sem corrida

Tu meu pobre cantador

Se for bom fique por lá

E vá já pra não voltar

Deixa a guerra do teu peito

Ficar órfã e sem jeito

Porque pobre cantador

A sina do homi que ama

É sofrer so de sôdade

E a morte nunca matar

Num fogaréu já sem chama

Vai chegar fim de idade

Lá meu pobre cantador

E dizer como eu quiria

Aí meu Deus se eu pudesse

Esquecer pra não lembrar