SIMPLES PLURAIS

Dessa vida só quero lembrar dos amores que eu nunca tive, dos corações que nunca conquistei, dos telefones que nunca liguei, das gostosas que eu nunca peguei

Das promessas que nunca paguei, dos livros que ainda não li e do poemas que nunca recitei, das bocas que nunca beijei e das contas que ainda não paguei

Da mágoa que nunca guardei, dos filhos que nunca amei, dos segredos que nunca contei, dos rochedos que nunca pisei, das flores que nunca plantei

Dos licores que nunca tomei, dos atritos que nunca causei, das pancadas que nunca revidei, das lembranças que nunca guardei, da esperança que nunca esperei

Das drogas que nunca usei, dos sonhos que ainda não realizei, do passado que então desprezei, das línguas que nunca falei, das músicas que nunca cantei

Das guerras que nunca lutei, das batalhas que não desbravei, dos tesouros que nunca roubei, das lagrimas que então não chorei, do tempo que nunca pausei, do leito que nunca deitei

Da morena que nunca cuidei, dos manjares que não degustei, dos pesadelos que nunca sonhei, dos remédios que nunca tomei

Das quedas que nunca levei, das novelas que nem sempre atuei, dos frevos que também não dancei, dos chicotes que não apanhei

Simples plurais, eu só vou no movimento que o seu corpo faz, simples plurais, simples plurais, o seu corpo é quente que não gela nunca mais, simples plurais o café eu quero quente e você quente demais

Das risadas que ainda não dei, das fragrâncias que não inalei, dos campos que não cultivei, dos olhares que nunca troquei, das orações que nunca rezei, dos enigmas que não decifrei,

Dos talentos que não desfrutei, das feridas que não cicatrizei, dos quadros que nunca pintei, dos tesouros que não lapidei

Da sua beleza que se quer a admirei, dos mares que nunca nadei, das suas ideias que nunca pensei, do seu jeitinho que nunca gostei

Do seu joguinho que não apostei, dos instrumentos que nunca toquei, do cupido que nenhuma flechada acertei