Águas vivas

No espelho dos teus olhos

há uma fonte de águas vivas. 

É onde aflora o pranto

os clamores e as cantigas.

Nasce no ventre da aurora

a inevitável canção.

Sempre há tanto silêncio

na espessa solidão.

Em névoa, o rio deságua

largo e aflito a correr.

húmus de terra molhada

cristalizando o prazer  (ou querer)

Tensa e luminosa, a tarde

dilata a minha canoa.

O céu ermo e um sol que arde.

Coração da alma voa.

Conchas de paz me guardando

no bojo agreste do dia.

branca espessura da terra

areia molhada e fria.

E um canto misterioso

em sobressalto e alquimia,

é ave que entoa alto

 a mais rara sinfonia.

Marilia Abduani

Marilia Abduani
Enviado por Marilia Abduani em 04/01/2023
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