Águas vivas
No espelho dos teus olhos
há uma fonte de águas vivas.
É onde aflora o pranto
os clamores e as cantigas.
Nasce no ventre da aurora
a inevitável canção.
Sempre há tanto silêncio
na espessa solidão.
Em névoa, o rio deságua
largo e aflito a correr.
húmus de terra molhada
cristalizando o prazer (ou querer)
Tensa e luminosa, a tarde
dilata a minha canoa.
O céu ermo e um sol que arde.
Coração da alma voa.
Conchas de paz me guardando
no bojo agreste do dia.
branca espessura da terra
areia molhada e fria.
E um canto misterioso
em sobressalto e alquimia,
é ave que entoa alto
a mais rara sinfonia.
Marilia Abduani