As casas de teias

Os anos passaram

As teias surgiram nos tetos das casas

Pouco usufruiu daquilo tudo que ela construiu

Era uma velha guerreira

E trabalhadeira

Não tinha canseira

Bordava e falava

Como trabalhava

Pensamentos lúcidos

Olhar luzidio

Cheia de brios

De andar reto

Carente de afetos

Sem filhos

Nem netos

Somente sobrinhos

Construiu sem parar

Muitos quartos e salas

Subiu andares

Corredores

Tetos

Paredes

Calçadas

Muitos sonhos

Nada a fazia parar

Mas passou o tempo

Tudo envelheceu

Faltou tratamento

Pra o que pertenceu

Muitas teias de aranhas

Subiram as paredes

Abraçando as redes

Em que se descansava

Muito cheiro de mofo

Se espalhou no ar

E ela sorrindo não parava de olhar

Com os ponteiros do relógio

Tudo escoar:

Seu castelo

Seu grande tesouro

Tantas casas feitas

Dinheiro escasso pra o mundo

Que ela levantou

E agora as casas de teias

Foi o que restou

Dentro das prateleiras

Copos com mil poeiras

Roupas velhas com traças

Nos cantos e recantos

Um mal odor

Pouca gentileza

Presteza

Ninguém

Pra lhe dar amor

Carlinhos real

09/06/2022

Carlinhos Real
Enviado por Carlinhos Real em 09/06/2022
Reeditado em 09/06/2022
Código do texto: T7534374
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